Os seus auxiliares e até a mídia
russa podem acusar até variações na respectiva linha no que tange à Ucrânia.
Nesse contexto, podem repontar atitudes
compreensivas e até mesmo conciliatórias. As intenções, em verdade, seriam pacíficas,
e tudo não passaria de um grande mal-entendido.
A história é
rica de tais exemplos. Países que acenam com boas e pacíficas intenções, mas
que, em realidade delas se servem, como um instrumento de política para
afrouxar e confundir a resistência. Falam de paz, mas se afastarmos o nevoeiro
dos ocos compromissos, e se se tivermos presente os atos concretos, só
entreveremos o engano como instrumento, e a guerra de conquista como fim.
A Federação
Russa tem imenso território, estendendo-se desde o mar Báltico até Vladivostok – e não é por acaso que a
própria toponímia no Pacífico carrega em si o lema de domínio do Oriente.
O proceder
restante do Kremlin dá a impressão de que tal não lhe basta. O desfazimento da
União Soviética em princípios dos anos noventa dispôs da segunda
super-potência. Se uns tantos anéis se foram, Moscou reteve alguns importantes,
como o assento permanente no Conselho de Segurança, e o direito de veto, assim
como boa parcela do arsenal termonuclear, que antes brandiram os herdeiros de
Vladimir Lenin, com o camarada Stalin à frente.
Por um
capricho dessa mesma incongruente história, o governo liberal de Boris Ieltsin
careceu para salvar-se da anunciada perdição de ter de recorrer a um homo
novus, gospodin Vladimir V. Putin, que não
por acaso havia sido funcionário categorizado da K.G.B.
Destino
madrasto este, que nos transes do perigo maior – que será sempre para a gente
do governo, o de perder o poder - teve
de confiar em criatura egressa do serviço secreto soviético.
Para
salvar-se, foi necessário jogar carga ao mar. Assim, junto com os amigos de
Ieltsin se assistiu partir, com as necessárias pausas, a ilusão da democracia
nova, que, apesar de seus nobres paladinos, tanta dificuldade parece ter em
firmar-se na Rússia.
Não espanta,
portanto, que o governo de Putin seja autoritário. Outra característica de tais
regimes é o veio expansionista. Pensa resolver os próprios problemas – que não
são pequenos – pelo meio imperialista. Para tanto, já costurou uma doutrina – a
eurasiana – que, malgrado servir porções
alentadas de antigas teses à direita, justificaria os respectivos avanços,
tanto em termos de países caudatários, quanto, se necessário for, em acréscimos
territoriais.
Vladimir
Putin não se abespinha em estar na contramão da história. Abriu – talvez melhor
seria dizer dilacerou – uma nova página, com a anexação da Crimeia, para tanto
se aproveitando da queda de um aliado seu, Viktor Yanukovych, derrubado pelas heroicas
barricadas da praça Maidan.
Para
vergonha da dílmica diplomacia – que é aquela de partido,do PT e similares – e que não é a de nosso eterno
patrono, o Barão do Rio Branco – ela compactuou nas Nações Unidas com essa
clamorosa violação do Direito Internacional.
Putin só
engana os fracos e aqueles que, embora na aparência fortes, mal disfarçam a
própria inerente debilidade.
A agressão
russa contra a Ucrânia continua. Além de
concentrar grandes efetivos em áreas vizinhas das províncias ucranianas orientais,
a intervenção é direta através de unidades de artilharia, muita vez manejadas
por militares russos. Esse incremento do imperialismo do Kremlin se deve aos
avanços do exército ucraniano, que vem retomando paulatinamente a área sob
domínio dos chamados separatistas pró-Rússia.
Essa
participação direta está determinada, não por conjecturas, mas por assertivas
de observadores da OTAN. Aqui se assiste a um desenvolvimento que não
surpreende, por que não é a primeira vez que venha a ocorrer.
Essa
irrupção do separatismo pró-Rússia não é fenômeno de pai desconhecido. Quando
as formações de separatistas-pró-Russia se vêem em apuros, a consequência
costuma ser a da intervenção direta do poder maior para socorrer os prepostos
no limite da rendição.
A par disso,
está em curso estranhíssima operação de manutenção da paz, através de
gigantesco comboio de 270 caminhões russos, com duas mil toneladas de carga que
atravessou a fronteira sem autorização do governo de Kiev. Cerca de 35 veículos
foram vistoriados, e o governo Poroshenko considerou a ação uma invasão de seu
território, mas declarou que não atacaria o comboio para não “cair em provocações”. Segundo o Kremlin,
a carga é de alimentos, geradores elétricos, sacos de dormir e outros produtos.
A respeito
desse cortejo de caminhões com ajuda alegadamente humanitária, o Comitê
Internacional da Cruz Vermelha afirmou que “tomou todas as medidas
administrativas para a passagem do comboio.”
Essa conceituada organização internacional afirmou, contudo, que não
acompanharia a operação, porque a segurança de seu pessoal não foi garantida.
Segundo a
Rússia, voluntários da Cruz Vermelha do país trabalharão na distribuição da
ajuda.
Sem embargo,
diante da instrumentalização pelo Governo da Rússia de operações de assistência
humanitária – como ocorreu na invasão e ocupação da península da Crimeia – a menos
de vistoriar os 270 caminhões russos, seria rematada leviandade asseverar que é
de todo pacífica a carga do comboio.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New York
Times )
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