Reação americana no Iraque
Conforme
assinalado no blog de ontem (Vária
III), o Presidente Barack Obama autorizou ataques de caças americanos – e de drones – contra a ofensiva do chamado
Isis. Essa força foi gestada pela guerra
civil na Síria. A atual indefinição naquele país tem favorecido ao tirano Bashar al-Assad, que recentemente pôde
encenar a sua reeleição, o que seria impensável há uns meses atrás.
A virtual ressurreição de Bashar – que deve muito
à recusa do presidente estadunidense (malgrado para tanto aconselhado pelos
quatro então chefes do estamento de defesa) de melhor armar a liga de defesa
síria reconhecida pela Liga Árabe – tem provocado muitos fenômenos nocivos,
como o surto de poliomielite, criminosamente facilitado pelo ditador nas áreas
sob controle rebelde, e não por último a formação do ISIS.
Este
grupamento, de que participa Al Qaida
e grupos similares, ambiciona formar um califado em parte da Síria e norte do
Iraque. Não me deterei em considerações sobre o anacronismo de tal propósito,
que se alicerça na intolerância de qualquer outro credo, que não seja o suposto
primevo formato abraçado pelos mujahedin.
No momento,
essa formação que avança como faca em manteiga diante do arremedo de exército
iraquiano ameaça a região autônoma curda e a sua capital Erbil. Os curdos
dispõem, aliás, dos chamados peshmerga,
que é milícia melhor estruturada do que as formações militares do estado
iraquiano.
O atual
desfazimento do Iraque é consequência do desastroso governo de Nouri al-Maliki.
Ao invés de cuidar de recompor a rota tessitura iraquiana, Maliki age mais como
chefe da comunidade xiita do que enquanto Primeiro Ministro do Iraque. Ao
afrontar em toda oportunidade a parcela sunita do país, ele pensa quiçá
privilegiar os seus companheiros de fé xiita. Em verdade, porém, com a cegueira
associada à própria coerência, ara essa antiga terra com uma estulta
anti-política. Dessarte, trata os sunitas jamais pensando na
reconciliação, mas sempre em
prejudicá-los.
O
resultado no Iraque não poderia ser outro. Ao semear o ódio, Nouri al-Maliki – que junta ao pouco
discernimento político, a inclinação para o autoritarismo – abre as portas da
rebelião.
É difícil
determinar se as recentes reuniões com o Secretário de Estado John Kerry trarão
algum discernimento a Maliki. Parece, à primeira vista, de discutível sensatez
montar o governo futuro do Iraque sobre essa pedra.
Quanto à
intervenção de Obama com os seus caças e drones
para deter o avanço da coluna do ISIS – que ameaça a região curda – o braço
aéreo, sem dominar o terreno, é fator decerto importante, mas não
necessariamente determinante para assegurar o controle territorial.
Compreende-se a situação do presidente, forçado a intervir pela metade,
por causa de argumentos bem conhecidos. As críticas por ele recebidas partem
não só da oposição republicana – outra coisa não se poderia dela esperar – mas
também de democratas. Nessa questão, com o desastroso precedente de George Bush Jr.,
semelham demasiado fáceis as reprimendas, embora nem sempre bem-avisadas e
honestas.
Basta
colocar-se na posição do 44° Presidente, e se poderá entrever quão cômoda é a
postura dos adversários, que, em tese, disporão sempre de argumento para
verberar-lhe as iniciativas. Se nada fizer, e se os fanáticos islâmicos tudo
levam de roldão, críticas acerbas à passividade presidencial; se age como
agora, lhe jogam em rosto os passados compromissos e a decisão de retirar-se
afinal da aventura iraquiana...
Alteração de Perfis na Wikipedia
Segundo
noticia O Globo, com chamada em
primeira página, após tentativa inicial de inviabilizar qualquer identificação
dos responsáveis, alegando não ser possível
sinalizar que computadores alteraram os perfis de Miriam Leitão e Carlos
Alberto Sardenberg na Wikipedia, o Palácio do Planalto recuou.
Haverá
investigação do caso, por ordem da Presidente Dilma Rousseff, que
determinou à Casa Civil verificar envolvimento do Planalto. Há repúdio bastante
generalizado por entidades, da oposição e do próprio Ministro Gilberto Carvalho.
O
editorial do Globo de sábado refere, com muita oportunidade, que “Aloprados
agora atacam do Planalto”. A
denominação, dada então pelo Presidente Lula aos que tinham encomendado
dossiers contra a oposição, com vultosas quantias, toca sobretudo desta feita
no nervo exposto de prevalecer-se do sítio da autoridade maior para proceder a
emendas difamatórias nos perfis da Wikipedia.
Não se
deve confundir o pleno uso da internet para a difusão publicitária dos projetos
do Partido dos Trabalhadores com uma
‘atuação criminosa na rede de computadores a serviço de interesses
partidários.’
Presume-se
que a saída – ou melhor, escapada – dos envolvidos no episódio estaria na
pretensa impossibilidade de localizar registros dos acessos, para a
identificação do(s) culpado(s).
Como
sublinha o editorial de O Globo, há
(no mínimo) controvérsias. “Técnicos garantem que as informações podem ser
resgatadas dos servidores do Palácio. E, se lá não estiverem, a identidade de
quem as retirou terá ficado gravada”.
Eleição Presidencial Turca
Hoje se realiza na Turquia a
eleição para Presidente da República. Anteriormente, o Chefe de Estado era
escolhido pelo Parlamento e dispunha de funções mais de representação, como
ainda é o parâmetro do Presidente italiano e na Terceira República constituía a
regra do presidente francês. Apenas na escolha do Primeiro Ministro o
mandatário francês tinha poder, e no mais, inaugurava exposições florais e
similares, na famosa expressão de inaugurer
les chrysanthèmes [1]. A
única exceção dessa prática coube ao presidente da 3ª República Raymond Poincaré (1913-1920), que
pela manipulação da prerrogativa constitucional de indicar o Primeiro Ministro,
pôde valer-se de influência bem além do caráter cerimonial do cargo.
Voltando
ao pleito turco, surpreende que Recep Tayyip Erdogan seja
considerado favorito para essa eleição. A despeito das críticas recebidas pelo
autoritarismo e a censura à internet e à imprensa – o que lhe valeu atravessar
verdadeiro inferno austral há uns meses atrás (acusações de violência policial,
de corrupção, com alegada aceitação de subornos junto com um dos filhos, sem
falar de censura à imprensa e à internet) – Erdogan tem possibilidade de ganhar
já no primeiro turno.
Se tal
não ocorrer, o provável adversário no segundo turno será Ekmeleddin Ihsanoglu,
que tem o apoio da maioria das oposições.
Erdogan,
se não reflete o sentir das camadas mais progressistas e democráticas, conta
com o apoio da maioria sunita da área rural. Essa gente de parca educação, por
tradição nacionalista e conservadora, o vê como representante desses
valores. Será através dessas camadas da
Turquia profunda – que não estão confortáveis com as atitudes progressistas e
liberais dos grandes centros (de onde saíram as maiores contestações ao domínio
de Erdogan) – que semelha garantido o triunfo um tanto anticlimático de Recep
Erdogan.
(Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo)
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