Ucrânia
O
Presidente Petro Poroshenko encontrou-se em Belarus com o Presidente Vladimir
Putin. Ao partir de Kiev, o novel mandatário ucraniano não podia estar muito
otimista quanto às possibilidades de uma verdadeira paz com Moscou. Pois, na
verdade, disso se tratava.
A onda
separatista na região oriental, de fala russa, na Ucrânia surgira após a queda
de Viktor Yanukovych, derrubado pelas manifestações da praça Maidan. O protesto
e o descontentamento generalizado com o corrupto Yanukovych não se deveu à
manifesta desonestidade do então presidente, mas à sua abrupta mudança de
orientação, com o fechamento da opção ocidental com a União Européia, e a
anticlimática ‘escolha’ da União
Aduaneira com a Rússia.
O povo
ucraniano acreditara em um acordo com Bruxelas, que lhe abrisse as portas do
Ocidente. Dos resultados dessa opção, bastava à Ucrânia pautar-se pelo ingresso
da vizinha Polônia na U.E., e os seus resultados, para que o recuo de Viktor
Yanukovych fosse visto pelo que, na verdade, representara, mais uma rendição aos
ditames de Moscou.
As duas
agressões da Rússia contra a Ucrânia – a anexação da Crimeia e o movimento
separatista pró-Moscou – foram produzidas pelo mesmo evento: a queda de
Yanukovych e o consequente fechamento da falsa opção russa.
O homem
forte Vladimir Putin – como os seus modelos, dos quais Benito Mussolini é o
mais copiado – não gosta de ser contrariado. A sua irritação tenderá a ser
maior se algum país do entorno da Federação Russa ousar afrontá-lo em alguma
opção que venha no futuro a fortalecer o candidato a trânsfuga. Nada pior para
Putin e seus largos domínios do que uma nação na sua cercania com perspectivas pró-ativas de
progresso e desenvolvimento.
Para
lidar com esse desafio de Kiev, não terá surgido opção melhor de o que o seu enfraquecimento,
seja através da reconquista da Crimeia, seja pelo fomento do dissídio do leste
de fala russa com o oeste pró-ocidental da Ucrânia.
Por
esses motivos, semelha óbvio que conversar ou parlamentar com o presidente
Vladimir V. Putin é, nesse contexto, perda de tempo. O que Pòroshenko ouvirá do senhor de
todas as Rússias, e os seus eventuais votos de respeitar a soberania ucraniana,
terão um valor tendente a zero. Basta repassar as promessas pretéritas, por ele
formuladas, ou por seus auxiliares, como o seu ministro Sergei Lavrov.
A
Ucrânia terá que investir em seu povo, lutar para erradicar a praga da
corrupção, e armar-se adequadamente. Não há melhor maneira de preparar a paz,
de o que criar condições para que seus inimigos se dêem conta de que nada
lograrão fomentando a discórdia e os passados rancores. A Putin, só se deve
pedir ajuda e quartel quando a nação será forte bastante para deles não mais
carecer.
A Síria de Assad: a mãe de todas
as rebeliões
Quando se
projetou nas telas de todas as mídias a bárbara decapitação do jornalista
americano James Foley, talvez tenha escapado a maior ironia daquela trágica
encenação.
No
fértil território da rebelião, a princípio liberal e democrática, do povo sírio
contra a ditadura dos Assad, ora tem crescido plantas e inços que só poderiam
ter ali surgido pelo virtual abandono do movimento da Liga Rebelde.
Por uma decisão da Casa Branca – que contrariou
recomendação das então quatro principais autoridades da primeira Administração Barack
Obama no que concerne à segurança – esse Liga Rebelde foi deixada à míngua de
recursos.
Por tal grande recusa, a causa da
opressão teve as velas pandas. O ditador, que parecera encaminhar-se na ladeira
do Sunset Boulevard, recebeu a notícia
para ele alvissareira, de que os seus fornecedores – a Rússia de Putin, o Irã
do Ayatollah Khamenei, e seus prepostos – disporiam da segurança de que a Liga
teria apenas a assistência inconstante das monarquias do Golfo.
Para
reforçar a resistência ao alauíta (e portanto próximo da variante xiita) Bashar al-Assad,
terá pensado em uma reedição da luta
afegã, com o surgimento de novas versões da dissensão sunita.
Foi o
que se viu naquela velha terra da passagem. A al-Qaida se fez representar pela
al-Nusra, que é uma sub-espécie do movimento de Osama ben Laden.
Nesse
embate de contrastes, a ajuda que veio do Reino Unido não foi exatamente aquela
computada pelos chefes das agências de segurança nacional da superpotência. A caricatura do ISIS – que se prefigura como
um dos espantalhos da pós-modernidade – tem recebido o aporte de emigrantes da
velha Inglaterra, que, no entanto, diferem da imagem pacífica dos súditos de
Sua Majestade. Para a decapitação do
pobre Foley – que caíra nas malhas do radicalismo islâmico talvez por acreditar
que a coragem é o melhor passaporte para informar dessa nova e deprimente
frente do atraso - a ironia de sua morte
nas mãos de um suposto súdito britânico se transforma em agressivo escárnio do mínimo
respeito ao ser humano.
Estaremos de volta aos tempos da investida árabe sobre o Ocidente,
quando aos cristãos, para escapar da cimitarra, somente existia a estreita
porta da conversão in extremis?
As autoridades britânicas acenam
com a possibilidade de desvendar quem é o autor encapuçado de mais este acinte
ao que resta de princípios humanitários e de comezinho respeito ao ser humano.
Na verdade, pelas suas inflexões já se lhe conhece a origem. Acrescentar nome e
prenome não me parece de grande importância. Por que a acusação principal – a de
ser o criadouro dessa bestialidade – já está firmada.
Assim
como no tardo Império Romano – quando os seus limes não mais impediam o
estabelecimento de populações contrárias ao ethos da Roma imperial – os perigos
mais temíveis poderiam vir de suas províncias, seria de grande interesse
determinar-se as causas de que movimentos de tamanha intolerância possam surgir
no país da Magna Carta.
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, CNN)
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