Se o termo
não está acolhido pelos dicionários, o seu oposto o é. Com efeito, prometéico está no Houaiss, mas não epimetéico. Esses
adjetivos se reportam, obviamente, a Prometeu, o personagem mitológico que deu
o fogo à humanidade, e a quem se volte para o passado. Tais termos foram, de
certa forma, cunhados pelo grande historiador Arnold Toynbee, autor de Um Estudo da História, que foi o seu magnum opus.
No seu
entender, prometéico é o inovador,
voltado para o futuro, e epimetéico, o conservador, com as vistas no passado.
Assumindo a
presidência pela vontade de seu criador, Lula
da Silva, Dilma Rousseff deveria passar a impressão de
estar do lado do progresso, ou dentro de terminologia mais afeita aos tempos
correntes, à esquerda.
No entanto, o
seu governo – e planos para um eventual segundo mandato – têm mais laços com o
passado e certo conservadorismo, do que a grande
gestora – nas melífluas palavras de seu protetor e último recurso, nos
moldes do velho Maximato[1] mexicano
– pensaria transmitir a impressão.
Senão
vejamos. O bom governante é aquele que
não se deixa levar pela corrente. No entanto, não é o que deparamos na
administração Dilma. Em mundo que procura aligeirar o Estado, de forma a que
tenha visão mais prometéica e
inovadora, a nossa Presidenta cuidar de seguir pela trilha das estatais.
O Globo de hoje nos informa que o seu
Governo vai turbinar uma nova subsidiária da Infraero. Forçada a entregar
o Galeão e Confins à iniciativa privada, diante da situação criada pela Infraero – e o usuário de nossos
aeroportos conhece essa paquidérmica realidade – a Presidenta apresenta o velho
como se fora novo.
Pelo visto, o PT continua a acreditar no estatismo como solução. De quê, é
difícil saber, porque a Infraero Serviços
que é o novo avatar de uma visão arcaica que permanece, enquanto a antiga
Infraero ficará com o passivo trabalhista de R$ 213,5 milhões.
A dílmica
movimentação, com o seu desenvolvimentismo do passado, o ônus crescente nos
gastos correntes – que se deriva do peso excessivo de cargos nos dispêndios do
Estado, gastança esta que não é própria de seu governo, pois também marcou a
Administração Lula da Silva, em seus dois mandatos – continua a causar a
inchação dos dispêndios do Governo Federal – que se eram 14% do PIB em 1997, passaram para 18,8% do PIB.
A compulsão
da despesa em Dilma é conhecida. Não é outra a razão pela qual a Administração
tem de recorrer a série de mágicas para
dissimular o peso crescente do passivo na Administração, o incremento da dívida
pública e todas essas obras inacabadas.
O
muito-governo gera uma contradição, que não é benfazeja, eis que afeta a
economia, e através das capitalizações
e outros dúbios recursos aumenta a pressão inflacionária, pela inchação de
meios de pagamento sem caução fiscal.
Em
termos de carestia, aqui não se faz o dever de casa. Em vez de sanar a
economia, se aumentam as pressões inflacionárias, e não menos através de
intentos de favorecer o consumo e não o investimento. Já se pensou no peso mais
do que inútil, danoso, do enxame de ministérios (que beiram os quarenta) sem
atribuições maiores de que a de garantir o apoio de um estamento partidário que
é um escárnio ideológico, dado admitir uma pluralidade de posições políticas
que não correspondem ao mundo das ideologias, mas apenas à partilha do bolo
estatal até às suas migalhas?
Dilma, no entanto, no Meio
Ambiente, resolve economizar. O seu desinteresse no setor não se
reflete apenas no Código Florestal,
que foi aprovado com deploráveis emendas ruralistas, mas também na ausência de defesa mais pró-ativa da Amazônia.
Essa
melancólica realidade se reflete nos fatos: no seu mandato, Dilma criou apenas três
novas unidades de conservação, e nenhuma delas na Amazônia, que é a
região mais ameaçada, (ainda ostenta a maior floresta tropical do planeta).
Já os seus antecessores, com todos
os reparos que se lhes possa dirigir, luzem muito mais forte: Lula, em dois mandatos, criou 54
unidades, e FHC foi o que
mais fez nesse setor, com 81 novas áreas protegidas.
Por
isso, embora decerto não tenha ficado inativa, pode-se questionar a
circunstância de que o ativismo de Dilma não haja aparecido nesta área do meio ambiente, cuja relevância não carece de sinalização.
O
Brasil não pode se dar ao luxo de primar pela ausência na área do Meio
Ambiente. Além da discutível mega-obra da grande usina de Belo Monte, no rio Xingu, com todos os problemas ecológicos que coloca,
e o consequente mega-impacto ambiental, neste exemplo, como em outras bandas, a
Administração Dilma parece pertencer ao passado, com as respectivas mazelas.
Será por isso que, a despeito da relevância, é de gestão tão apagada?
( Fonte: O Globo )
[1] Plutarco Elías Calles
inventou o Maximato, quando terminou o seu mandato. Impedido de reeleger-se por norma
constitucional, cuidou de perpetuar-se no poder através dos presidentes peleles
(títeres). Quem rompeu com a prática infernal foi Lázaro Cardenas, após
aguentar, na década de trinta do século passado, por dois anos o mando do
‘Líder Máximo’.
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