Dilma Rousseff concedeu a sua
entrevista à Rede Globo na Sala da
Biblioteca do Palácio da Alvorada. Os erros começaram por aí. Os dois
âncoras – William Bonner e Patrícia Poeta – tiveram de ir à Brasília para que a
Presidenta respondesse a suas perguntas. E tudo isso no quadro de um
exercício que pretende ser isonômico com os postulantes à presidência.
Aécio
Neves e Eduardo Campos
compareceram à sede da Rede Globo no
Rio de Janeiro. Conformaram-se com as regras, no entendimento de que se tratava
de entrevista para os candidatos à
Presidência. Assim, a participação nesse horário do Jornal Nacional está
aberta para os candidatos a Presidente. Por isso, não cabe, no meu
entender, que Dilma Rousseff invoque a condição de Presidente da República
para conceder a entrevista no Palácio da Alvorada. Ela é um dos participantes do exercício enquanto candidata à Presidente. Esta é
a regra nas grandes democracias. Nessas, se reconhece a igualdade dos
postulantes e não há participantes mais
iguais do que os outros.
Isto posto,
as respostas da Presidenta me pareceram, na verdade, anti-respostas. A regra que deu a impressão de seguir era a de não
responder, em verdade, ao que se perguntava. A velha e sovada técnica de falar
muito e dizer pouco. Nesse sentido, recusou-se a emitir juízo sobre a atitude
de seu Partido de tratar petistas condenados pelo Mensalão como guerreiros. Preferiu dizer que não
comenta julgamentos do Supremo Tribunal Federal. Ficou nessa posição, mesmo depois de lembrada que a pergunta era sobre
o PT.
Posto que não haja sido perguntada por que
abandonou a política da faxina, Dilma defendeu os seus
auxiliares afastados por suspeita de corrupção. Respondendo sempre de forma
genérica, preferiu declarar que “nem todas as denúncias de escândalo resultaram
na constatação de que a pessoa tinha de ser punida, e muitos foram posteriormente inocentados”. Ainda segundo a presidente, a razão para a
saída de alguns foi porque “é muito difícil resistir à pressão da família ou a
apresentação da pessoa como tendo cometido um crime.”
Com
relação à última troca de ministros – que, embora não haja sido dito pelo
entrevistador, foi determinada por
imposição da chefia do partido – Dilma não concordou com a frase de Bonner que ao trocar ministros por pessoas do mesmo partido está trocando “seis por meia dúzia”.
No que
tange à saúde, continuou na mesma linha, dizendo que o Governo federal faz o
que pode, mas que há também responsabilidades estaduais e municipais. Chegou
mesmo a afirmar que “resolvemos o problema dos 50 milhões de brasileiros (que passaram
a ter atendimento), e dos 14 mil médicos.”
Talvez por falta de tempo, não houve perguntas sobre a participação
cubana e a exploração dos médicos cubanos, com os depósitos forçados em favor
do governo de Havana.
Também no
que concerne à economia, confrontada com os índices da inflação, no teto da
meta, a baixa projeção de crescimento do país e os dados do superávit primário, Dilma continuou nas
respostas verbosas, sempre saindo pela tangente. Nesse contexto, manteve o discurso de que o
país enfrentou a crise internacional, não desempregando, e sem arrochar os
salários.
Até que
os perguntadores da Globo não
aprofundaram a sua responsabilidade quanto a trazer a inflação de volta. Além
de esgrimir atribuições vagas e bastante dúbias, quanto a inflação, superior a 12%, herdada por Lula em
2002, o que é falso, eis que a alça
de curva se deveu a nervosismo com o novo governo petista.
Sem
embargo, apesar de não ter sido confrontada com o repique (e a volta) da
inflação em seu governo, a responsabilidade de Dilma e de seus ministros é
clara e insofismável. Nesse sentido, tem sido recebida pelo eleitorado, sem quaisquer
limitações de categoria, porque a carestia é imposto cruel e abusivo, que o
brasileiro conhece bem. Daí, o generalizado reconhecimento às realizações do
Plano Real, e à necessidade de preservá-las. Daí, o nervosismo de Dilma Rousseff
quando de inflação se fala, porque há de reconhecer quão clara é a própria
responsabilidade.
Até que
os perguntadores da Rede Globo lhe
deram vida fácil, nada indagando sobre a baixa da economia brasileira consoante
estimada pelas Agências de avaliação de risco, sem falar na recaída de nossa
economia, de novo superada pelo Reino Unido.
( Fontes: Rede Globo,
O Globo )
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