terça-feira, 19 de agosto de 2014

A Dílmica Anti-entrevista


                                      

         Dilma Rousseff concedeu a sua entrevista à Rede Globo na Sala da Biblioteca do Palácio da Alvorada.  Os erros começaram por aí. Os dois âncoras – William Bonner e Patrícia Poeta – tiveram de ir à Brasília para que a Presidenta respondesse a suas perguntas. E tudo isso no quadro de um exercício que pretende ser isonômico com os postulantes à presidência.

         Aécio Neves e Eduardo Campos compareceram à sede da Rede Globo no Rio de Janeiro. Conformaram-se com as regras, no entendimento de que se tratava de entrevista para os candidatos à Presidência. Assim, a participação nesse horário do Jornal Nacional está aberta para os candidatos a Presidente. Por isso, não cabe, no meu entender, que Dilma Rousseff invoque a  condição de Presidente da República para conceder a entrevista no Palácio da Alvorada.  Ela é um dos participantes do exercício enquanto candidata à Presidente. Esta é a regra nas grandes democracias. Nessas, se reconhece a igualdade dos postulantes e não há participantes mais iguais do que os outros.

          Isto posto, as respostas da Presidenta me pareceram, na verdade, anti-respostas. A regra que deu a impressão de seguir era a de não responder, em verdade, ao que se perguntava. A velha e sovada técnica de falar muito e dizer pouco. Nesse sentido, recusou-se a emitir juízo sobre a atitude de seu Partido de tratar petistas condenados pelo Mensalão como guerreiros. Preferiu dizer que não comenta julgamentos do Supremo Tribunal Federal. Ficou nessa posição, mesmo depois de lembrada que a pergunta era sobre o PT.

           Posto que não haja sido perguntada por que abandonou a política da faxina, Dilma defendeu os seus auxiliares afastados por suspeita de corrupção. Respondendo sempre de forma genérica, preferiu declarar que “nem todas as denúncias de escândalo resultaram na constatação de que a pessoa tinha de ser punida, e muitos foram  posteriormente inocentados”.  Ainda segundo a presidente, a razão para a saída de alguns foi porque “é muito difícil resistir à pressão da família ou a apresentação da pessoa como tendo cometido um crime.”

            Com relação à última troca de ministros – que, embora não haja sido dito pelo entrevistador,  foi determinada por imposição da chefia do partido – Dilma não concordou com a frase de Bonner que ao trocar ministros  por pessoas do mesmo partido  está trocando “seis por meia dúzia”.

            No que tange à saúde, continuou na mesma linha, dizendo que o Governo federal faz o que pode, mas que há também responsabilidades estaduais e municipais. Chegou mesmo a afirmar que “resolvemos o problema dos 50 milhões de brasileiros (que passaram a ter atendimento), e dos 14 mil médicos.”  Talvez por falta de tempo, não houve perguntas sobre a participação cubana e a exploração dos médicos cubanos, com os depósitos forçados em favor do governo de Havana.

            Também no que concerne à economia, confrontada com os índices da inflação, no teto da meta, a baixa projeção de crescimento do país e os dados do superávit primário, Dilma continuou nas respostas verbosas, sempre saindo pela tangente.  Nesse contexto, manteve o discurso de que o país enfrentou a crise internacional, não desempregando, e sem arrochar os salários.

              Até que os perguntadores da Globo não aprofundaram a sua responsabilidade quanto a trazer a inflação de volta. Além de esgrimir atribuições vagas e bastante dúbias, quanto a  inflação, superior a 12%, herdada por Lula em 2002, o que  é falso, eis que a alça de curva se deveu a nervosismo com o novo governo petista.

               Sem embargo, apesar de não ter sido confrontada com o repique (e a volta) da inflação em seu governo, a responsabilidade de Dilma e de seus ministros é clara e insofismável. Nesse sentido, tem sido recebida pelo eleitorado, sem quaisquer limitações de categoria, porque a carestia é imposto cruel e abusivo, que o brasileiro conhece bem. Daí, o generalizado reconhecimento às realizações do Plano Real, e à necessidade de preservá-las. Daí, o nervosismo de Dilma Rousseff quando de inflação se fala, porque há de reconhecer quão clara é a própria responsabilidade.                

               Até que os perguntadores da Rede Globo lhe deram vida fácil, nada indagando sobre a baixa da economia brasileira consoante estimada pelas Agências de avaliação de risco, sem falar na recaída de nossa economia, de novo superada pelo Reino Unido.

 

( Fontes:  Rede Globo,  O  Globo )

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