sábado, 10 de maio de 2014

O que fazer da Copa do Mundo ?

                                 
 
         Pela vontade do presidente Lula da Silva, o Brasil arrebatou a oportunidade de promover dois prestigiosos certamens, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A conquista para a respectiva realização se realizou em um momento mais feliz da Nação brasileira. Nesses dois torneios, o Rio de Janeiro não entrou como Pilatos no Credo, empenhando-se sobretudo para suceder a Londres na realização olímpica, o que seria por primeira vez no hemisfério sul.

         Dentro das características nacionais, nas duas oportunidades apresentamos o nosso carnê de candidato, de forma hábil e imaginosa, prometendo com maior facilidade do que discernimento.

        Desde muito,  soara o momento de o Brasil sediar outra Copa. Já o fizéramos com a Jules Rimet – que os ladrões levaram – em 1950, e o esforço nacional se concentrou sobremaneira na construção do grande estádio do Maracanã.

        Criança ainda, meu tio me levou para assistir a um dos primeiros jogos daquela Copa. A seleção ganhou então por 2x0 (um dos quais, do centroavante Ademir, de sem-pulo) da Iugoslávia, país que sempre foi temível no futebol, e que hoje não mais existe. Não será decerto, por acaso, que a partida de estreia será disputada com a Croácia, uma das nações saídas do esfacelamento iugoslavo. Não mais no Maracanã que naqueles tempos mais simples ainda estava semi-acabado, quando sediou o primeiro jogo-treino internacional de nosso scratch, que foi de 4x0 contra o México (naquela época, excluída a celeste uruguaia e a seleção argentina, não tínhamos adversário à altura na América Latina).

        Para a presente Copa – em que a Fifa se representa, não mais pelo grupo de simpáticos velhinhos com Jules Rimet à frente, mas por uma companhia de suíços e franceses que se dão muitos ares (Sepp Blatter, o presidente da junta, exige até honras de chefe de estado) – o Brasil acede após longa espera. Superamos o trauma do Maracanazo em 1950, quando mais de duzentas mil pessoas, depois da série de vitórias por 7x1 (Suécia) e 6x1 (Espanha) no quadrangular final, ledamente pensavam que a final com o Uruguai culminaria na merecidíssima conquista da seleção canarinho.

       Não creio que seja o caso de referir ulteriores detalhes, além da incrível distribuição de faixas de campeão para os jogadores, no local da concentração (as dependências do estádio de São Januário). No nosso otimismo fomos quase ingênuos, mas não há negar que o Brasil foi de longe a melhor seleção daquela Copa, que retomava, depois do hiato determinado pela Segunda Guerra Mundial, os torneios patrocinados pela FIFA.

       Agora voltamos ao Maracanã – que não é mais o mesmo – esperando, contra tudo e contra todos, carregar o caneco, que nos saberá muito, pela paixão do brasileiro e por um especial (ainda que muito postergado) gostinho de desforra.

      Por demagogia e desígnios político-eleitorais, se ampliaram demasiado as sedes regionais da Copa. Lula terá pensado colher proveito para o respectivo partido se as multiplicasse por esses Brasis, com Arenas em Cuiabá e Manaus,  no Ceará, em Natal, no Recife,  em Salvador,  em Brasília, em Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, sem falar do Itaquerão e do Maracanã.

         Esse esforço já cobrou o seu macabro preço, com nove mortes de operários (contra as duas na África do Sul). Mais do que consternador e traumatizante, deve ser objeto de reflexão que tantos de nossos compatriotas hajam sido vítimas do projeto de elevar tão magníficos coliseus modernos ao deus dos estádios. Já o sugeri antes e me permito repiti-lo que será mais do que oportuno,  visto que justíssimo, que tais construções levem os nomes de quem teve a vida cortada por elas.

         A cercania da Copa do Mundo tem inebriado muita gente, além do  núcleo em torno do técnico Felipão, que fez a sua escolha dos vinte e três. Espero pelo Brasil que esteja certo e que proteja os jogadores da onda nefasta do já-ganhou, que é um de nossos recorrentes defeitos.

         Desde que nas passeatas do passe-livre, em junho de 2013, se aludiu oportunamente à aplicação do padrão-Fifa para as demais realizações dos governos, temos visto crescer a febre oportunista de servir-se do compromisso assumido com a realização da Copa do Mundo, como instrumento de brutal extorsão para arrancar as vantagens e prebendas que venham à mente do sindicalismo oportunista.

        Para saco de pancadas, facções sindicais – como matilha de lobos – se propõem tirar vantagem – numa espécie de Lei de Gerson elevada ao cubo – do compromisso internacional (não imposto, mas ardentemente desejado pela Nação), ou melhor, de transformar tais compromissos em objeto de chantagem.

        Tudo obedeceria à máxima de que vá à breca o país e o nosso compromisso perante o mundo, pelo intento de colher proveitos em causas próprias. Nesse contexto, a extorsão não se peja de mostrar a carantonha, por conta de uns cobres que pensa arrancar pelo lôbrego oportunismo.

        Esse hábito de atingir o instrumento comum para lograr um benefício da ocasião – sem qualquer atenção à ética – se tem alastrado como uma praga por nosso país.  Não é por acaso que muitas instituições judiciárias estabeleçam plantões para atender a essas tristes ‘emergências’, de modo que a sociedade disponha dos meios necessários para neutralizar, oportuna e adequadamente, a essa caterva .

       Esperemos que na hora do grande certâmen, um valor mais alto se alevante. Já não seria sem tempo, mas na dúvida os plantões judiciários (e administrativos) estão aí para atender ao interesse público.

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

Até agora toda esta invenção de Copa do Mundo me soa como uma grande fantasia. Entramos neste embalo de forma irresponsável e, pelo andamento das obras de Porto Alegre, tudo funcionará como um cenário, prestes a desabar a qualquer momento.