O Ministro dos Negócios Estrangeiros da
Rússia, Sergei Lavrov, costuma inculpar os ucranianos, como se mal agissem
ao defenderem sua terra. Tampouco aprova combaterem as ações dos ditos ‘separatistas’, que, por artes
misteriosas, aparecem armados de mísseis do tipo Stinger (portáteis e terra-ar).
Na verdade, unidades formadas por
agentes ‘com negros uniformes descaracterizados’, se ‘apareceram’ na operação
que levou à anexação da Crimeia, surgem agora nas regiões do Leste ucraniano.
Depois de assinar o último acordo de
Genebra – que não foi respeitado pelo Kremlin
sequer por um dia -, Lavrov ora recomenda moderação
à Ucrânia, suspeita de empenhar-se na defesa de sua terra.
O falso enigma do apoio do Leste
ucraniano à Rússia, em realidade é conto encomendado pelo governo de gospodin Vladimir Putin. Há uma
minoria de ex-combatentes e da classe
operária, que deseja a união com Moscou, por ser saudosista da antiga URSS. A maioria da população, no
entanto, deseja permanecer na Ucrânia, se possível com mais direitos federais.
Conforme já foi aqui referido, essa fratura no leste ficou bem clara na última
eleição. Se a tendência à reunião com a mãe-russa fosse realmente majoritária,
ela prescindiria da intimidação. Para evitar que a participação na recente
eleição presidencial desmentisse a patranha de que o Leste aspira ser anexado
por Moscou, não careceria de impedir o pleito pelo fechamento das seções eleitorais.
Assim procedendo, por temerem os resultados das urnas, os separatistas
mostraram a própria fraqueza.
O candidato-eleito Petro Poroshenko pode
esperar tudo do Kremlin, menos boa
fé. Assim como Herr Hitler não se
negava a reunir-se com os presidentes dos países que pretendia anexar em
seguida, tampouco Vladimir Putin e seu eficiente Ministro Lavrov deixarão de
mostrar-se corteses e dispostos a conversar.
Moscou procura mostrar assim
bom-comportamento, para evitar ulteriores sanções do Ocidente. O temor de Putin, nesse sentido, terá mais
presente o Congresso americano, eis que bem conhece quanta água para o seu
moinho pode trazer-lhe a moderação de Barack Obama.
Em área oriental, as forças
separatistas controlam o aeroporto de Slaviansk,
que se situa entre Kharkov, ao norte,
e Donetsk que está no sul próximo do
mar de Azov. Tentativa do exército ucraniano de retomá-lo foi rechaçada, pela
derrubada de helicóptero através de míssil tipo Stinger (terra-ar e portátil), com a perda de catorze militares,
inclusive do general Serhiy Kulchytskiy.
Os rebeldes também voltaram a sequestrar
quatro monitores da Organização de
Segurança e Cooperação Europeia (OSCE),
de nacionalidade turca, suíça, dinamarquesa e estoniana. Pelo visto, os observadores da OSCE (de que a
Rússia é membro) incomodam as forças ditas pro-Rússia.
Aliás, a batalha pela posse do aeroporto
de Donetsk (vencida pelo exército da Ucrânia) contribuíu para levantar um pouco
mais o véu sobre a real composição das forças
rebeldes. Nas cerca de 50 baixas sofridas pelos ‘separatistas’ havia 33 cadáveres de russos que serão
repatriados.
Se os óbitos de cidadãos russos
aumentarem, a sua volta ao solo russo, além de desvendar a lenda do levante
espontâneo e autóctone na Ucrânia, pode
arranhar a popularidade do presidente de todas as Rússias. Se as aventuras além-fronteira acarretam a
perda de muitos nacionais, aumentarão as perguntas dos compatriotas de Vladimir
Putin acerca da serventia e eventuais más consequências das ilusões do
imperialismo e do irredentismo, que não são tão anódinas e indolores quanto
assegura a alegre cobertura da mídia moscovita...
(Fonte: The New York Times)
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