O Irã sob o moderado Hassan Rouhani
Recente e interessante matéria, de Christopher
de Bellaigue, nos fala sobre o novo Irã,
surgido após a eleição do clérigo Hassan Rouhani com mais de 50% dos votos.
Consoante o
correspondente de The New York Review – que tem suficiente trânsito junto aos
ayatollahs para dispor de visto e visitar regularmente o Irã – Rouhani era, na
prática, o único dos principais nomes concorrentes à presidência que desfruta
da confiança de Líder Supremo, Ali Khamenei.
Nesse sentido, serviu como assessor de Khamenei por muitos anos. É igualmente
próximo de Akbar Hashemi Rafsanjani – ex-presidente que teve a candidatura
vetada – e é respeitado por muitos reformistas. No entanto, o seu título
principal, no entender de Bellaigue, seria o de não ter aderido à chamada
‘sedição’, que foram os distúrbios causados pela eleição roubada de Mir
Moussavi e do clérigo Karroubi, com a fraudulenta vitória de Mahmoud
Ahmadinejad.
A confirmação
por Khamenei da ‘vitória’ de Ahmadinejad trouxe uma fase de marchas e
demonstrações populares (a onda verde), a que o poder teocrático respondeu com
prisões e torturas. Os dois principais
nomes – Moussavi e Karroubi – continuariam em prisão domiciliar.
Entre as
missões esperadas de Hassan Rouhani, um clérigo com educação britânica, está a
normalização das relações da república islâmica com o mundo, e, em especial com
o Ocidente, e obviamente a superpotência. Em 24 de novembro de 2013 se iniciou
entre os membros permanentes do Conselho de Segurança e a República Federal da
Alemanha, um processo de negociação cujo escopo é o de terminar a crise nuclear
da década passada, com a readmissão do Irã à aceitabilidade e ao comércio
global.
Segundo as
fontes de Bellaigue, até o presente os ganhos do Irã do acordo de Genebra –
pelo qual Teerã concordou em sustar partes de seu programa nuclear que poderia
ter utilização militar, em troca da escalonada liberação de alguns bilhões dos
congelados fundos da república dos ayatollahs – são bastante pequenos, se
cotejados com os US$ 5 bilhões que a república islâmica perde a cada mês por
conta das sanções, sem falar dos quase cem bilhões de dólares em depósitos
congelados que tem no exterior.
Segundo se
assinala, a importância do entendimento de Genebra é acima de tudo psicológica.
O acordo de novembro trouxe o otimismo de volta para muitos iranianos. A
desmistificação dos Estados Unidos – a foto do Secretário de Estado John Kerry
ao lado do Ministro do Exterior Mohammad Javad Zarif, em Nova York, setembro de
2013, estampada pela imprensa iraniana seria não só impensável antes, também acena com o início de reaproximação.
Há movimentos
decorrentes que podem ajudar na volta da República iraniana à normalização.
Assim, o ministro do petróleo, Bijan Namdar Zanganeh, informou seus colegas da
OPEC que o Irã espera atrair compradores ocidentais de volta. Por outro lado, o Presidente Rouhani
compareceu ao Foro Econômico Mundial de Davos. Nessa ocasião, Rouhani prometeu
‘participação construtiva’, havendo bem impressionado os demais delegados. É importante frisar que Rouhani está muito consciente de que uma de suas principais vantagens é não
ser Ahmadinejad. Por outro
lado, o seu antecessor nunca foi convidado ao foro de Davos.
Por isso,
Rouhani é bastante esperto para não cair em polêmicas com o Primeiro Ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, que o chamou de ‘lobo em pele de cordeiro’. Além
de não negar a existência do Holocausto – o seu ministro do exterior o referiu
como ‘tragicamente cruel’ – fez substancial doação a um hospital judeu em Teerã
(o Irã tem população de nove mil judeus, a maior no Oriente Médio depois de
Israel). Por outro lado, as posições de direita de Netanyahu – além do
fervoroso apoio que deu a Mitt Romney na última eleição presidencial
estadunidense – o tornam figura um tanto patética na política internacional.
Nem tudo
porém é céu azul no futuro do governo Rouhani. O Líder Supremo já declarou que
ele não se opõe às negociações nucleares, embora ele não antecipe que tenham
êxito. Bellaigue interpreta – a meu ver,
corretamente – que a aparente dissociação de Ali Khamenei é uma medida de
prudência, para quem deve ter presente a oposição dos guardiães da revolução e
dos críticos linha-dura de Rouhani.
No
entender do articulista, as condições para um acordo entre o Irã e o Ocidente
são as mais favoráveis para uma solução (deal), do que elas se apresentavam por
anos a fio. As expectativas de solução
para a situação iraniana – levantadas pela habilidade do presidente Rouhani –
são altas, e não interessa à alta hierarquia desapontá-las. Segundo Bellaigue,
por mais dura que seja a barganha dos diplomatas iranianos – e do próprio
Supremo Líder – seria difícil imaginar que eles queiram ser aqueles inculpados
de não viabilizá-la.
A Queda da Diretora Executiva do New York Times
A queda de Jill Abramson, a primeira
diretora-executiva do New York Times, que assumira o posto em 2011, caíu nesta
semana, de forma inesperada. Segundo transpirou, os seguidos desencontros com o
presidente da Companhia New York Times, e editor-chefe do jornal, Arthur Sulzberger
Jr. determinou a sua queda.
Apesar de
profissional competente, Jill Abramson,
de 60 anos de idade, caíu vítima da
velha húbris, após desentendimentos
com o proprietário. Tampouco se entendia
bem com o seu segundo, o afro-americano Dean Baquet, tomando decisões
controversas na designação dos chefes de departamento do jornal.
Para suceder a
Jill, o editor Arthur Sulzberger Jr. designou a Dean Baquet, de 57 anos. É ele
o primeiro afro-americano a assumir a direção-executiva.
Opiniões de George Soros
Milionário,
preside o Fundo Soros de Aplicações, que rendeu um dividendo de 22% em 2013,
segundo se noticia.
A sua
entrevista, concedida ao correspondente do Spiegel
(revista alemã) Gregor Peter Schmitz,
antedata a movimentação de Vladimir Putin no que tange à Ucrânia oriental, mas
não penso perca a respectiva validade quanto aos motivos básicos da agressiva
política de gospodin Putin.
Na
interpretação de Soros – e não há negar-lhe a própria sensibilidade, dada a
origem centro-européia, e a óbvia atenção às movimentações do urso russo – “o elemento importante a ter em mente é que
Putin está liderando fundado em uma posição de fraqueza. (...) Com a reação popular ao acordo pré-combinado com
Medvedev – que passou de Primeiro Ministro para Presidente – Putin se sentiu existencialmente ameaçado pelo movimento de protesto.
Tornou-se repressivo em casa e agressivo no estrangeiro.”
George
Soros observa em seguida: “Foi então quando a Rússia começou a transportar
armas de forma maciça para o regime Assad na Síria, o que contribuíu para virar
a mesa contra os rebeldes. A jogada teve êxito por causa da preocupação dos
poderes ocidentais – o Estados Unidos e a União Europeia – com os seus
problemas internos.” Após mencionar a sua intervenção em favor de Obama na
questão das armas químicas, Soros vai adiante e chega à seguinte conclusão no
que concerne ao levante da praça Maidan em Kiev: “A espontânea revolta do povo
ucraniano deve ter mostrado a Putin que o seu sonho de reconstituir o que resta
do Império Russo é inatingível.”
Soros vai
adiante na sua análise da política de Putin (presumivelmente, por volta da
anexação da Crimeia. A ameaça à Ucrânia oriental é pós-data esse raciocínio). “Ele
está agora diante da escolha entre perseverar ou mudar de curso, e tornar-se
mais cooperante no exterior e menos repressivo no interior. O seu atual curso de ação já se demonstrou
sem perspectivas (self-defeating), mas por enquanto ele não mudou de
orientação.”
Os Perigos do Transporte
Rodoviário
Dentre as opções de transporte intermunicipal
no Brasil, não creio se possa duvidar que o mais perigoso potencialmente seja o
transporte por ônibus. O noticiário registra com preocupante regularidade os
inúmeros acidentes fatais que ocorrem nesse tipo de transporte,
preferencialmente utilizado por camadas da população de menores recursos.
Há demasiados
acidentes distribuídos por essa vasta rede roviária pelo interior do Brasil. No
Globo on-line de hoje nos chega a notícia de que há vinte vítimas fatais em
desastre no Ceará.
Esses acidentes com muitas vítimas
acontecem de forma muito mais frequente do que o de qualquer outro ramo de
transporte.
É esta
inquietante frequência, e a sua constante presença no noticiário, que deveria
merecer mais atenção das autoridades.
Qualquer
observação dessa questão, com o número de óbitos e de feridos graves, a par de
sua continuada incidência está a reclamar atenção mais urgente e mais
aprofundada voltada para a rede rodoviária. Os desastres que se repetem não
podem, por isso, perdurar a receber uma atenção isolada para cada caso.
A série de
acidentes de ônibus em rodovias mostra quanto urge alcançar visão abrangente e sistêmica do problema.
Tratá-lo como cadeia de desgraças isoladas será contribuir para que essa série
de acidentes fatais só tenda, infelizmente, a crescer.
(Fontes:
The New York Times, The New York Review, O Globo-on line)
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