domingo, 18 de maio de 2014

Colcha de Retalhos B 19

                                     

O Irã sob o moderado Hassan Rouhani

 
       Recente e interessante matéria, de Christopher de Bellaigue, nos fala  sobre o novo Irã, surgido após a eleição do clérigo Hassan Rouhani com  mais de 50% dos votos.

       Consoante o correspondente de The New York Review – que tem suficiente trânsito junto aos ayatollahs para dispor de visto e visitar regularmente o Irã – Rouhani era, na prática, o único dos principais nomes concorrentes à presidência que desfruta da confiança de Líder Supremo, Ali Khamenei.  Nesse sentido, serviu como assessor de Khamenei por muitos anos. É igualmente próximo de Akbar Hashemi Rafsanjani – ex-presidente que teve a candidatura vetada – e é respeitado por muitos reformistas. No entanto, o seu título principal, no entender de Bellaigue, seria o de não ter aderido à chamada ‘sedição’, que foram os distúrbios causados pela eleição roubada de Mir Moussavi e do clérigo Karroubi, com a fraudulenta vitória de Mahmoud Ahmadinejad.

       A confirmação por Khamenei da ‘vitória’ de Ahmadinejad trouxe uma fase de marchas e demonstrações populares (a onda verde), a que o poder teocrático respondeu com prisões e torturas.  Os dois principais nomes – Moussavi e Karroubi – continuariam em prisão domiciliar.

       Entre as missões esperadas de Hassan Rouhani, um clérigo com educação britânica, está a normalização das relações da república islâmica com o mundo, e, em especial com o Ocidente, e obviamente a superpotência. Em 24 de novembro de 2013 se iniciou entre os membros permanentes do Conselho de Segurança e a República Federal da Alemanha, um processo de negociação cujo escopo é o de terminar a crise nuclear da década passada, com a readmissão do Irã à aceitabilidade e ao comércio global.

       Segundo as fontes de Bellaigue, até o presente os ganhos do Irã do acordo de Genebra – pelo qual Teerã concordou em sustar partes de seu programa nuclear que poderia ter utilização militar, em troca da escalonada liberação de alguns bilhões dos congelados fundos da república dos ayatollahs – são bastante pequenos, se cotejados com os US$ 5 bilhões que a república islâmica perde a cada mês por conta das sanções, sem falar dos quase cem bilhões de dólares em depósitos congelados que tem  no exterior.

         Segundo se assinala, a importância do entendimento de Genebra é acima de tudo psicológica. O acordo de novembro trouxe o otimismo de volta para muitos iranianos. A desmistificação dos Estados Unidos – a foto do Secretário de Estado John Kerry ao lado do Ministro do Exterior Mohammad Javad Zarif, em Nova York, setembro de 2013, estampada pela imprensa iraniana seria não só impensável antes,  também acena com o início de reaproximação.

         Há movimentos decorrentes que podem ajudar na volta da República iraniana à normalização. Assim, o ministro do petróleo, Bijan Namdar Zanganeh, informou seus colegas da OPEC que o Irã espera atrair compradores ocidentais de volta.  Por outro lado, o Presidente Rouhani compareceu ao Foro Econômico Mundial de Davos. Nessa ocasião, Rouhani prometeu ‘participação construtiva’, havendo bem impressionado os demais delegados.  É importante frisar que Rouhani está muito consciente de que uma de suas principais vantagens é não ser Ahmadinejad. Por outro lado, o seu antecessor nunca foi convidado ao foro de Davos.

          Por isso, Rouhani é bastante esperto para não cair em polêmicas com o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que o chamou de ‘lobo em pele de cordeiro’. Além de não negar a existência do Holocausto – o seu ministro do exterior o referiu como ‘tragicamente cruel’ – fez substancial doação a um hospital judeu em Teerã (o Irã tem população de nove mil judeus, a maior no Oriente Médio depois de Israel). Por outro lado, as posições de direita de Netanyahu – além do fervoroso apoio que deu a Mitt Romney na última eleição presidencial estadunidense – o tornam figura um tanto patética na política internacional.

           Nem tudo porém é céu azul no futuro do governo Rouhani. O Líder Supremo já declarou que ele não se opõe às negociações nucleares, embora ele não antecipe que tenham êxito.  Bellaigue interpreta – a meu ver, corretamente – que a aparente dissociação de Ali Khamenei é uma medida de prudência, para quem deve ter presente a oposição dos guardiães da revolução e dos críticos linha-dura de Rouhani.

            No entender do articulista, as condições para um acordo entre o Irã e o Ocidente são as mais favoráveis para uma solução (deal), do que elas se apresentavam por anos a fio.  As expectativas de solução para a situação iraniana – levantadas pela habilidade do presidente Rouhani – são altas, e não interessa à alta hierarquia desapontá-las. Segundo Bellaigue, por mais dura que seja a barganha dos diplomatas iranianos – e do próprio Supremo Líder – seria difícil imaginar que eles queiram ser aqueles inculpados de não viabilizá-la.

 

A Queda da Diretora Executiva do New York Times

 

        A queda de Jill Abramson, a primeira diretora-executiva do New York Times, que assumira o posto em 2011, caíu nesta semana, de forma inesperada. Segundo transpirou, os seguidos desencontros com o presidente da Companhia New York Times, e editor-chefe do jornal, Arthur Sulzberger Jr. determinou a sua queda.

       Apesar de profissional competente,  Jill Abramson, de 60 anos de idade,  caíu vítima da velha húbris, após desentendimentos com o proprietário.  Tampouco se entendia bem com o seu segundo, o afro-americano Dean Baquet, tomando decisões controversas na designação dos chefes de departamento do jornal.

       Para suceder a Jill, o editor Arthur Sulzberger Jr. designou a Dean Baquet, de 57 anos. É ele o primeiro afro-americano a assumir a direção-executiva.

 

Opiniões de George Soros

 
          George Soros, nascido na Hungria em agosto de 1930, terá surgido na cena mundial econômico-financeira quando venceu  sua aposta no que tange à desvalorização da libra esterlina.

          Milionário, preside o Fundo Soros de Aplicações, que rendeu um dividendo de 22% em 2013, segundo se noticia.

          A sua entrevista, concedida ao correspondente do Spiegel   (revista alemã) Gregor Peter Schmitz, antedata a movimentação de Vladimir Putin no que tange à Ucrânia oriental, mas não penso perca a respectiva validade quanto aos motivos básicos da agressiva política de gospodin Putin.

          Na interpretação de Soros – e não há negar-lhe a própria sensibilidade, dada a origem centro-européia, e a óbvia atenção às movimentações do urso russo – “o elemento importante a ter em mente é que Putin está liderando fundado em uma posição de fraqueza. (...) Com a reação popular ao acordo pré-combinado com Medvedev – que passou de Primeiro Ministro para Presidente – Putin se sentiu existencialmente ameaçado pelo movimento de protesto. Tornou-se repressivo em casa e agressivo no estrangeiro.”

           George Soros observa em seguida: “Foi então quando a Rússia começou a transportar armas de forma maciça para o regime Assad na Síria, o que contribuíu para virar a mesa contra os rebeldes. A jogada teve êxito por causa da preocupação dos poderes ocidentais – o Estados Unidos e a União Europeia – com os seus problemas internos.” Após mencionar a sua intervenção em favor de Obama na questão das armas químicas, Soros vai adiante e chega à seguinte conclusão no que concerne ao levante da praça Maidan em Kiev: “A espontânea revolta do povo ucraniano deve ter mostrado a Putin que o seu sonho de reconstituir o que resta do Império Russo é inatingível.”

           Soros vai adiante na sua análise da política de Putin (presumivelmente, por volta da anexação da Crimeia. A ameaça à Ucrânia oriental é pós-data esse raciocínio). “Ele está agora diante da escolha entre perseverar ou mudar de curso, e tornar-se mais cooperante no exterior e menos repressivo no interior.  O seu atual curso de ação já se demonstrou sem perspectivas (self-defeating), mas por enquanto ele não mudou de orientação.”

 

Os  Perigos do Transporte Rodoviário

 

            Dentre as opções de transporte intermunicipal no Brasil, não creio se possa duvidar que o mais perigoso potencialmente seja o transporte por ônibus. O noticiário registra com preocupante regularidade os inúmeros acidentes fatais que ocorrem nesse tipo de transporte, preferencialmente utilizado por camadas da população de menores recursos.

            Há demasiados acidentes distribuídos por essa vasta rede roviária pelo interior do Brasil. No Globo on-line de hoje nos chega a notícia de que há vinte vítimas fatais em desastre no Ceará.

            Esses acidentes com muitas vítimas acontecem de forma muito mais frequente do que o de qualquer outro ramo de transporte.

            É esta inquietante frequência, e a sua constante presença no noticiário, que deveria merecer mais atenção das autoridades.

            Qualquer observação dessa questão, com o número de óbitos e de feridos graves, a par de sua continuada incidência está a reclamar atenção mais urgente e mais aprofundada voltada para a rede rodoviária. Os desastres que se repetem não podem, por isso, perdurar a receber uma atenção isolada para cada caso.

          A série de acidentes de ônibus em rodovias mostra quanto urge alcançar  visão abrangente e sistêmica do problema. Tratá-lo como cadeia de desgraças isoladas será contribuir para que essa série de acidentes fatais só tenda, infelizmente, a crescer.

 

 

 

(Fontes:  The New York Times, The New York Review, O Globo-on line)

Nenhum comentário: