Joaquim Barbosa, nomeado por Lula ministro do
Supremo, mostrou ao que veio, mas não no sentido do presidente que o nomeou,
dos ministros seus contemporâneos a quem surpreendeu, da presidenta que perdeu
boa oportunidade de mostrar grandeza, e dos sólitos compadres e comadres da
imprensa, que não poderiam entende-lo, por não adequar-se aos usuais modelos da
Corte.
Joaquim Barbosa sabe quão sinuoso é o
preconceito. A mor parte das vezes ele subjaz às críticas acerbas, às ironias
fora do esquadro, à súbita contradição nos critérios aplicados. Nesse campo
lamacento, é de considerar-se um galardão e um primor de hipocrisia, que
instituição a qual me foi cara por cinquenta anos o tenha tristemente reprovado
em dúbio exame oral. Seria oportuno que para escarmento da cínica injustiça um
presidente futuro o convide para a cadeira de Rio Branco.
Como a rosa não vem sem espinhos,
nesse contexto sobressai a análise crítica de Joaquim Falcão. Teve mais
desassombro do que outros, que preferiram colocar como cerejas em um bolo
amargo os escassos elogios. Dir-se-ia que para esses existem apenas como
maneira de ressaltar os apodos e as verrinas.
Não sei se Joaquim Barbosa sai da
presidência do Supremo para entrar na história. É cedo para que os observadores
se aventurem nessa senda, pois o cotejo com Getúlio Vargas na verdade não se
coloca. Além da passada tragédia, as circunstâncias são afortunadamente muito
diversas.
Mas querendo ou não, com Branca de
Neve e seus anões por perto, o presidente Joaquim Barbosa, com traços largos e
passos ainda maiores fez história, e quem sabe? continuará a fazê-lo para
perplexidade de muitos que se sentem mais à vontade com as empoladas mediocridades e os sinuosos
figurantes de Santa Madre Rotina.
O mais engraçado nisso tudo é o Povo,
aquele que alguns chamam soberano. Ele não tem as dúvidas, nem os risos
escarninhos da gente da Corte, a quem a presença e a atuação de Joaquim Barbosa
muito incomoda. Ao invés, não se peja de aprovar-lhe a conduta, lendo com facilidade
o sentido de seu propósito que tanto perturba aos corifeus e ao bem-comportado público dos paços de governo e
adjacências.
Joaquim Barbosa é o homo novus, de uma espécie rara, que
floriu na República Romana. Seria um cometa, que se distingue, como na
Antiguidade, pelas próprias qualidades, que diferiam das de seu entorno. Os
romanos lhe saudavam a vinda pelo que tinha de renovador. Mostravam, em assim
agindo, que bem compreendiam o alcance do fenômeno, que lhes trazia, pela
novidade, contribuição relevante para a maior grandeza de Roma. A aparente
generosidade do gesto refletia o interesse maior da República. Mas para tanto
tinham o propósito facilitado pela mesma grandeza de que eram partícipes.
(Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo)
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