sexta-feira, 30 de maio de 2014

Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo


                         
          Joaquim Barbosa, nomeado por Lula ministro do Supremo, mostrou ao que veio, mas não no sentido do presidente que o nomeou, dos ministros seus contemporâneos a quem surpreendeu, da presidenta que perdeu boa oportunidade de mostrar grandeza, e dos sólitos compadres e comadres da imprensa, que não poderiam entende-lo, por não adequar-se aos usuais modelos da Corte.

        Joaquim Barbosa sabe quão sinuoso é o preconceito. A mor parte das vezes ele subjaz às críticas acerbas, às ironias fora do esquadro, à súbita contradição nos critérios aplicados. Nesse campo lamacento, é de considerar-se um galardão e um primor de hipocrisia, que instituição a qual me foi cara por cinquenta anos o tenha tristemente reprovado em dúbio exame oral. Seria oportuno que para escarmento da cínica injustiça um presidente futuro o convide para a cadeira de Rio Branco.

         Como a rosa não vem sem espinhos, nesse contexto sobressai a análise crítica de Joaquim Falcão. Teve mais desassombro do que outros, que preferiram colocar como cerejas em um bolo amargo os escassos elogios. Dir-se-ia que para esses existem apenas como maneira de ressaltar os apodos e as verrinas.

         Não sei se Joaquim Barbosa sai da presidência do Supremo para entrar na história. É cedo para que os observadores se aventurem nessa senda, pois o cotejo com Getúlio Vargas na verdade não se coloca. Além da passada tragédia, as circunstâncias são afortunadamente muito diversas.

         Mas querendo ou não, com Branca de Neve e seus anões por perto, o presidente Joaquim Barbosa, com traços largos e passos ainda maiores fez história, e quem sabe? continuará a fazê-lo para perplexidade de muitos que se sentem mais à vontade  com as empoladas mediocridades e os sinuosos figurantes de Santa Madre Rotina.

         O mais engraçado nisso tudo é o Povo, aquele que alguns chamam soberano. Ele não tem as dúvidas, nem os risos escarninhos da gente da Corte, a quem a presença e a atuação de Joaquim Barbosa muito incomoda. Ao invés, não se peja de aprovar-lhe a conduta, lendo com facilidade o sentido de seu propósito que tanto perturba aos corifeus e ao  bem-comportado público dos paços de governo e adjacências.

         Joaquim Barbosa é o homo novus, de uma espécie rara, que floriu na República Romana. Seria um cometa, que se distingue, como na Antiguidade, pelas próprias qualidades, que diferiam das de seu entorno. Os romanos lhe saudavam a vinda pelo que tinha de renovador. Mostravam, em assim agindo, que bem compreendiam o alcance do fenômeno, que lhes trazia, pela novidade, contribuição relevante para a maior grandeza de Roma. A aparente generosidade do gesto refletia o interesse maior da República. Mas para tanto tinham o propósito facilitado pela mesma grandeza de que eram partícipes.

          

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo)

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