Pela vontade do presidente Lula da
Silva, o Brasil arrebatou a oportunidade de promover dois prestigiosos
certamens, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A conquista para a respectiva
realização se realizou em um momento mais feliz da Nação brasileira. Nesses
dois torneios, o Rio de Janeiro não entrou como Pilatos no Credo, empenhando-se
sobretudo para suceder a Londres na realização olímpica, o que seria por
primeira vez no hemisfério sul.
Dentro das
características nacionais, nas duas oportunidades apresentamos o nosso carnê de
candidato, de forma hábil e imaginosa, prometendo com maior facilidade do que
discernimento.
Desde muito, soara o momento de o Brasil sediar outra Copa.
Já o fizéramos com a Jules Rimet – que os ladrões levaram – em 1950, e o
esforço nacional se concentrou sobremaneira na construção do grande estádio do
Maracanã.
Criança ainda, meu tio me levou para assistir
a um dos primeiros jogos daquela Copa. A seleção ganhou então por 2x0 (um dos
quais, do centroavante Ademir, de sem-pulo) da Iugoslávia, país que sempre foi
temível no futebol, e que hoje não mais existe. Não será decerto, por acaso,
que a partida de estreia será disputada com a Croácia, uma das nações saídas do
esfacelamento iugoslavo. Não mais no Maracanã que naqueles tempos mais simples
ainda estava semi-acabado, quando sediou o primeiro jogo-treino internacional de
nosso scratch, que foi de 4x0 contra o México (naquela época, excluída a
celeste uruguaia e a seleção argentina, não tínhamos adversário à altura na
América Latina).
Para a
presente Copa – em que a Fifa se representa, não mais pelo
grupo de simpáticos velhinhos com Jules
Rimet à frente, mas por uma companhia de suíços e franceses que se dão
muitos ares (Sepp Blatter, o
presidente da junta, exige até honras de chefe de estado) – o Brasil acede após
longa espera. Superamos o trauma do Maracanazo
em 1950, quando mais de duzentas mil pessoas, depois da série de vitórias por
7x1 (Suécia) e 6x1 (Espanha) no quadrangular final, ledamente pensavam que a
final com o Uruguai culminaria na merecidíssima conquista da seleção canarinho.
Não creio que seja
o caso de referir ulteriores detalhes, além da incrível distribuição de faixas
de campeão para os jogadores, no local da concentração (as dependências do
estádio de São Januário). No nosso otimismo fomos quase ingênuos, mas não há
negar que o Brasil foi de longe a melhor seleção daquela Copa, que retomava,
depois do hiato determinado pela Segunda Guerra Mundial, os torneios
patrocinados pela FIFA.
Agora voltamos
ao Maracanã – que não é mais o mesmo – esperando, contra tudo e contra todos,
carregar o caneco, que nos saberá muito, pela paixão do brasileiro e por um
especial (ainda que muito postergado) gostinho de desforra.
Por demagogia e
desígnios político-eleitorais, se ampliaram demasiado as sedes regionais da
Copa. Lula terá pensado colher proveito para o respectivo partido se as
multiplicasse por esses Brasis, com Arenas em Cuiabá e Manaus, no Ceará,
em Natal, no Recife, em Salvador, em Brasília, em Belo Horizonte, Curitiba
e Porto Alegre, sem falar do Itaquerão e do Maracanã.
Esse esforço
já cobrou o seu macabro preço, com nove mortes de operários (contra as duas na
África do Sul). Mais do que consternador e traumatizante, deve ser objeto de
reflexão que tantos de nossos compatriotas hajam sido vítimas do projeto de
elevar tão magníficos coliseus modernos ao deus dos estádios. Já o sugeri antes
e me permito repiti-lo que será mais do que oportuno, visto que justíssimo, que tais construções
levem os nomes de quem teve a vida cortada por elas.
A cercania da
Copa do Mundo tem inebriado muita gente, além do núcleo em torno do técnico Felipão, que fez a
sua escolha dos vinte e três. Espero pelo Brasil que esteja certo e que proteja
os jogadores da onda nefasta do já-ganhou, que é um de nossos recorrentes
defeitos.
Desde que nas
passeatas do passe-livre, em junho de 2013, se aludiu oportunamente à aplicação do
padrão-Fifa para as demais realizações dos governos, temos visto crescer a
febre oportunista de servir-se do compromisso assumido com a realização da Copa
do Mundo, como instrumento de brutal extorsão para arrancar as vantagens e prebendas
que venham à mente do sindicalismo oportunista.
Para saco de
pancadas, facções sindicais – como matilha de lobos – se propõem tirar vantagem
– numa espécie de Lei de Gerson elevada ao cubo – do compromisso internacional
(não imposto, mas ardentemente desejado pela Nação), ou melhor, de transformar
tais compromissos em objeto de chantagem.
Tudo obedeceria
à máxima de que vá à breca o país e o nosso compromisso perante o mundo, pelo
intento de colher proveitos em causas próprias. Nesse contexto, a extorsão não
se peja de mostrar a carantonha, por conta de uns cobres que pensa arrancar
pelo lôbrego oportunismo.
Esse hábito de
atingir o instrumento comum para lograr um benefício da ocasião – sem qualquer
atenção à ética – se tem alastrado como uma praga por nosso país. Não é por acaso que muitas instituições
judiciárias estabeleçam plantões para atender a essas tristes ‘emergências’, de
modo que a sociedade disponha dos meios necessários para neutralizar, oportuna
e adequadamente, a essa caterva .
Esperemos que
na hora do grande certâmen, um valor mais alto se alevante. Já não seria sem
tempo, mas na dúvida os plantões judiciários (e administrativos) estão aí para
atender ao interesse público.
Um comentário:
Até agora toda esta invenção de Copa do Mundo me soa como uma grande fantasia. Entramos neste embalo de forma irresponsável e, pelo andamento das obras de Porto Alegre, tudo funcionará como um cenário, prestes a desabar a qualquer momento.
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