segunda-feira, 5 de maio de 2014

Picadinho Carioca

                             
O mistério da cantora Hanna

        Desde muito, acompanho através dos muros e das cercas de obras os recitais da cantora Hanna. Até hoje, no entanto, e ao longo de décadas, a minha participação nos espetáculos se tem resumido à visão dos cartazes!
      O que me surpreendia nessa publicidade era um detalhe que ao cabo se fixou na minha memória visual. Os cartazes eram sempre os mesmos! Não, não me refiro à eventual circunstância de que a sua diagramação e cores fossem iguais às anteriores, mas ao fato de que Hanna não envelhecia nunca.

      Passavam os anos – e põe ano nisso! – e o cartaz com a cantora empunhando o microfone não variava, assim como tampouco existia qualquer diferença entre a Hanna de cinco ou dez anos atrás!
      Comecei a achar estranho aquilo, e senti pruridos de aparecer nos tais espetáculos para conferir. O quê desejava checar? Qual era a idade deste fenômeno que não envelhecia!

      Pois hoje, em outra obra, esta perto de casa, vi um do Pedro Bial, que se diz também fã de Hanna, e mais adiante, outro cartaz que me consternou.  Não é que a eterna juventude da cantora não passava de um mito, repetido a perder de vista pela mesma composição gráfica?
     Agora, não mais.  Ao invés da foto da imutável, eternamente jovem Hanna, não é que me aparece outra cantora, igualmente de nome Hanna, que mostra na fisionomia o inelutável, inexorável passar do tempo?!

      No seu eterno convite, o cartaz não muda.  Contudo, no detalhe da foto está a diferença. Pois a Hanna que aí aparece não é mais a mesma! Não é que para ela, depois de muita resistência gráfica, também passou o deus Cronos, que em longos intervalos pode surpreender os fãs, até aqueles que nunca atenderam ao chamado simples da cantora!
      E, parodiando Drummond, como dói a quebra desse encanto!

 

Liberação das Apostas no Futebol

 
       No Brasil, como todos sabemos, o jogo está estritamente proibido. Acabaram com os cassinos, a começar pelo da Urca! Assim, o legislador dispunha, preocupado com a jogatina desenfreada e o risco para o patrimônio das famílias!        

       Sem embargo, para um extraterrestre ou mesmo para gringo não familiarizado com as draconianas normas vigentes (que na realidade não são assim tão firmes), a jogatina impera, desde que sob os auspícios da Caixa Econômica. Se se vai a uma lotérica, impressiona o número de boletos, a começar pela tele-sena, que no Natal atrai multidões na esperança de ficarem milionários (contra todas as probabilidades matemáticas). Isso sem falar nos corretores zoológicos de que se encontram mesinhas em cada esquina, e a que, pelo que dizem, acorrem muitos brasileiros para fazer a fezinha, fruto de algum sonho ou visão...
        Apesar de ser jogo proibido, não tenho acompanhado muita repressão nesse sentido, desde que, em memorável ocasião, foram declarados presos todos os chefões de uma sentada. Se remontarmos ainda mais no passado, combate a esse tipo de jogo está no filme policial de Jorge Ileli Amei um bicheiro (1952), em que o personagem Passarinho, encarnado por Grande Otelo morre intoxicado pela fumaça e a noção de um estranho dever.

         Mas agora parece que desejam promover apostas on-line no futebol. Os leitores deste blog sabem que sou um torcedor – apesar de padecer sob uma antes grande equipe que hoje sofre sob a administração de Roberto Dinamite – mas não poderia estar mais contrário a esse palpite infeliz de trazer a jogatina também para o futebol.

          Pediria que encarecessem aos seus congressistas (quem por acaso se lembre em quem votou na eleição passada) de não aprovarem este projeto nocivo para o futebol em geral. Não é através de jogos de azar que desbastaremos o caminho para criar “fundos para projetos de iniciação esportiva”.

          Não é segredo para o que levam as ditas apostas on-line sobre o resultado de jogos. Em muita corrupção! Há pouco descobrirem uma rede enorme – que teve repercussões inclusive na América do Sul – de subverter os resultados de partidas.  Não precisa ser nenhum Sherlock para atinar de onde provem o incentivo para a criminosa prática de ‘administrar’, vale dizer subverter os resultados de partidas.

           Não é por aí que se criarão fundos reais, que financiem limpa e produtivamente a prática do esporte bretão.
          Vamos manter o jogo o quanto possível longe do futebol. Que os cavalões apostem nos cavalinhos, tudo bem. 

          Mas no futebol,  com apostas feitas em sites,  em jogos do Brasileirão, da Copa do Brasil, dos Estaduais e o escambau, por favor  NÃO !
          Esqueçam esse palpite infeliz, dado por algum paredro desempregado, porque uma coisa se pode garantir: NÃO SERÁ PELA JOGATINA com todas as suas miríades de jogos de azar que vamos reforçar os nossos clubes, e transformá-los em empresas.

          O Congresso das Quartas-Feiras tem de se preocupar com coisas importantes para o País.
          O PANO VERDE (e seus sucedâneos) NÃO TEM NADA A VER COM ISSO.

 

(Fonte: Folha de S. Paulo)             

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