É com grande satisfação que registro o início oficial da causa pela santidade de dom Hélder Pessoa Câmara. Para quem teve a fortuna de conhece-lo em vida, essa providência canônica constitui apenas confirmação de uma realidade.
A santidade é virtude rara.
Não se encontra amiúde, até mesmo nas cerimônias em que comparece grande número
de prelados, como as realizadas na basílica vaticana. Como ela se acha nos
domínios do imponderável, semelha difícil, quase impossível descrevê-la. E, no
entanto, se se tem a ventura de praticar ou, até mesmo, contemplar uma
personalidade a quem se atribua esse dom, não será difícil dar-se conta de tal
presença.
Assim, era dom Helder. E essa
realidade se manifestava em qualquer lugar no qual se tivesse a oportunidade de
vê-lo.
Dom Helder partiu há quinze
anos atrás. Para quem foi um exemplar arcebispo de Olinda e Recife, um apostolo
da paz e dos direitos humanos como poucos, a sua ascensão para os largos
espaços celestes destinados a personalidades como a sua terá sido rápida, sem
os entraves burocráticos terrenos. Esses consumiram três lustros para
principiar a reconhecer-lhe os títulos.
Mas tomemos de sua cartilha, a
bondade, a misericórdia e a infinda paciência que a caracterizam, a lição de
receber com alegria e sem questionamentos esta atenção, inda que tardia.
Para quem relevou e suportou
sem uma palavra de queixa, o tratamento que lhe dispensou o sucessor, D. José
Cardoso Sobrinho, o silêncio reveste a força dos justos.
O regime militar, porque com
os seus parcos meios materiais ele constituía a proteção dos mais fracos e
oprimidos, chegou a proibir-lhe a divulgação do nome. Em vão. Nem o empenho de
quem tudo fez para desmerecer-lhe a obra e o legado lograria apagar da lembrança dos fiéis o
significado e o alcance do próprio testemunho de fé e sacrifício.
É importante que o povo de Deus, nessa hora de
turbulências e de falsos profetas, veja reconhecido com a celeridade das
grandes causas o dom da santidade, com que dom Helder visitou os fiéis, e
honrou a igreja peregrina dos deserdados da sorte.
Dom Fernando Saburido, o
presente Arcebispo e sucessor apostólico de dom Helder Pessoa Câmara, acaba de
assinar carta para o dicastério da Causa dos Santos, que formalmente abre a
causa da beatificação.
Para um cristão como dom
Helder, após o reconhecimento como Venerável Servo de Deus, se hão de seguir a
beatificação e, mais adiante, a canonização como Santo.
Muitos esperam por essa
data. Entre esses, Padre Antonio Henrique Pereira, que foi assassinado quando assessor de dom
Hélder, por ter sido fiel e diligente secretário episcopal na defesa dos mais
humildes. Se o rosto de seus carrascos está oculto, a sua identidade será
eternamente conhecida no respectivo lugar de destino.
Nesses tempos em que
vivemos, o Brasil carece muito de Santos.
E Dom Helder será um deles.
( Fonte: O
Globo on-line )
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