terça-feira, 27 de maio de 2014

Santidade de Dom Helder Câmara

                      

               É com grande satisfação que registro o início oficial da causa pela santidade de dom Hélder Pessoa  Câmara. Para quem teve a fortuna de conhece-lo em vida, essa providência canônica constitui apenas  confirmação de uma realidade. 

                A santidade é  virtude rara. Não se encontra amiúde, até mesmo nas cerimônias em que comparece grande número de prelados, como as realizadas na basílica vaticana. Como ela se acha nos domínios do imponderável, semelha difícil, quase impossível descrevê-la. E, no entanto, se se tem a ventura de praticar ou, até mesmo, contemplar uma personalidade a quem se atribua esse dom, não será difícil dar-se conta de tal presença.

                Assim, era dom Helder. E essa realidade se manifestava em qualquer lugar no qual se tivesse a oportunidade de vê-lo.

                Dom Helder partiu há quinze anos atrás. Para quem foi um exemplar arcebispo de Olinda e Recife, um apostolo da paz e dos direitos humanos como poucos, a sua ascensão para os largos espaços celestes destinados a personalidades como a sua terá sido rápida, sem os entraves burocráticos terrenos. Esses consumiram três lustros para principiar a reconhecer-lhe os títulos.

                Mas tomemos de sua cartilha, a bondade, a misericórdia e a infinda paciência que a caracterizam, a lição de receber com alegria e sem questionamentos esta atenção, inda que tardia.

                 Para quem relevou e suportou sem uma palavra de queixa, o tratamento que lhe dispensou o sucessor, D. José Cardoso Sobrinho, o silêncio reveste a força dos justos.

                  O regime militar, porque com os seus parcos meios materiais ele constituía a proteção dos mais fracos e oprimidos, chegou a proibir-lhe a divulgação do nome. Em vão. Nem o empenho de quem tudo fez para desmerecer-lhe a obra e o legado  lograria apagar da lembrança dos fiéis o significado e o alcance do próprio testemunho de fé e sacrifício.

                  É importante que o povo de Deus, nessa hora de turbulências e de falsos profetas, veja reconhecido com a celeridade das grandes causas o dom da santidade, com que dom Helder visitou os fiéis, e honrou a igreja peregrina dos deserdados da sorte.

                     Dom Fernando Saburido, o presente Arcebispo e sucessor apostólico de dom Helder Pessoa Câmara, acaba de assinar carta para o dicastério da Causa dos Santos, que formalmente abre a causa da beatificação.

                     Para um cristão como dom Helder, após o reconhecimento como Venerável Servo de Deus, se hão de seguir a beatificação e, mais adiante, a canonização como Santo.

                     Muitos esperam por essa data. Entre esses, Padre Antonio Henrique Pereira,  que foi assassinado quando assessor de dom Hélder, por ter sido fiel e diligente secretário episcopal na defesa dos mais humildes. Se o rosto de seus carrascos está oculto, a sua identidade será eternamente conhecida no respectivo lugar de destino.

                     Nesses tempos em que vivemos, o Brasil carece muito de Santos.  E Dom Helder será um deles.

 

( Fonte: O  Globo on-line )            

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