Tarifas ou reajustes ?
O ‘primeiro
ministro’ de Dilma, Aloizio Mercadante
bate de frente com Sua Excia. Guido
Mantega. Disse o primeiro: “Você administra (preços) em função do interesse
estratégico da economia, não há necessidade e não deve ser repassado
imediatamente para os consumidores”. Ao que responde o Ministro da Fazenda:
“Nós temos feito, sim, reajustes. Maior exemplo é o preço da energia, que subiu
18%. Onde está o represamento dos preços? Não é verdade que tarifas são
represadas.”
A Estratégia do Medo
Articulado por Lula da Silva e apoiado por Dilma, o
filmete do perigo que volte o tempo de antes. Não sei se vai colar essa
estratégia do medo, com as suas sombras, a chuva e os personagens de
impressionismo alemão dos anos vinte. Em geral, esses temores abstratos – como
o de Regina Duarte nas vésperas do pleito de 2002 – são vistos com ceticismo.
Agora, isso de trazer de volta abstrações, é uma coisa; outra, seria se nos falasse de quem trouxe de volta a inflação,
pois nesse caso não bateria em tecla hipotética, já que qualquer brasileiro ao
entrar em supermercado ou feira livre
logo reconhece a presença do dragão...
No Futuro, energia suja
Nem uma palavra
sequer sobre recurso a tecnologias de ponta, como a solar e a eólica. O
perigo da nuclear é outro, com consequências terríveis para o meio ambiente. É
lamentável que se planeje transformar uma matriz energética como a brasileira,
uma das mais limpas do mundo, em ao invés, com o carvão e a lenha, uma das mais
sujas nas próximas décadas.
O Ministro Augusto Nardes, presidente do TCU, disse em discurso que muitas
cidades vão passar vergonha na Copa. Tal se deve à circunstância de que o evento será realizado em meio a obras de
infraestrutura inacabadas, ou que não saíram do papel.
Para Nardes,
o Brasil precisa abandonar a cultura do improviso e do ‘jeitinho’. Episódios
como esse podem servir de exemplo para que o problema não se repita nos
preparativos dos Jogos Olímpicos de 2016 – cujos atrasos no cronograma já receberam críticas de membros do COI.
Citando
casos específicos, disse Nardes: Teremos
decepções na Copa. Estive em Cuiabá
na semana passada e fiquei impressionado. A situação lá parece uma praça de guerra. As obras nos aeroportos não estão terminadas.
Houve atrasos em outros aeroportos, como no Galeão e em São
Paulo, porque se demorou a fazer a concessão do serviço à iniciativa
privada. E quando a decisão foi tomada, perdeu-se muito tempo para definir qual
o modelo.
Ainda no Rio
de Janeiro, as obras de
modernização do terminal de passageiros
do porto ficaram no papel. Em Natal, as obras de modernização do terminal portuário foram concluídas. Mas
não tem como navios atracarem porque a
plataforma de desembarque foi construída num nível que não permite o
desembarque de passageiros. Porto Alegre desistiu de realizar R$ 300 milhões em obras de mobilidade urbana.
Em relação
aos Jogos Olímpicos, o Ministro Nardes disse que sua maior preocupação é que as
obras de expansão do metrô até a Barra da Tijuca fiquem prontas a tempo, por se
tratar de um projeto complexo.
Com respeito
a esse último tópico do oportuno discurso do Presidente do TCU, deverá ter-se
presente que o emprego do chamado Tatusão que é fundamental para o
avanço dos aludidos trabalhos tem sido suspenso várias vezes nos últimos dias. Acha-se
no trecho final entre Ipanema e Copacabana. Como não se desconhece, Ipanema,
densamente povoada e construída, acha-se sobre uma restinga arenosa. Na altura
da rua Barão da Torre, entre as transversais Farme de Amoedo e Teixeira de
Melo, por atingirem a canos de gás e de água, os trabalhos tiveram que ser
sustados. Até o momento não está esclarecida a causa dos afundamentos do
terreno, que afetam a diversos prédios na Barão da Torre.
De todas, a
cobertura mais contundente é a do semanário Der Spiegel, a principal
revista alemã. Na capa, imagem da bola oficial do torneio caindo em chamas
sobre o Rio de Janeiro... Nas três matérias (dez páginas), se apresenta o
atraso nas obras, a insatisfação dos brasileiros com os altos custos do evento,
e possíveis embates nas ruas das cidades-sede.
Se se
deve descontar o estilo sensacionalista e negativo deste semanário, a inserção
pode ser contestada, mas não a veracidade dos fatos: v.g., gangues queimam ônibus todas as noites. A propósito, nesse
tema de que tratei não faz muito – A queima
dos ônibus – por que as
autoridades não aplicam a legislação pertinente, que é copiosa e abrangente?
Já The Economist – que não é de resto
suspeito de simpatias por nossa terra – mostra que o improviso ainda é uma
marca do Brasil e que a menos de um mês dos jogos, os organizadores lutam para
ter tudo pronto a tempo.
Reaparece no site, o
Secretário-Geral da FIFA, Jérome Valcke e a sua descrição como
“lidar com autoridades brasileiras é infernal”.
O
espanhol El Pais, por fim, é a cobertura mais serena e menos
sensacionalista. Por isso, talvez tenha
mais efeito negativo... Refere pesquisa da Unicarioca de que somente 55% da
população do Rio apoiarão a seleção brasileira. Ao contrário da última Copa na África
do Sul, quando as ruas do Rio estavam enfeitadas com bandeiras e cartazes de
apoio à seleção, o que não se repete desta feita. No entorno do Maracanã, segundo
o jornal espanhol, há poucos postes pintados de verde e amarelo. Em Copacabana
e Ipanema, não há qualquer decoração especial.
Vinda de Joe Biden ao Brasil
No dia
seguinte, se a agenda for mantida, o Vice será recebido por Dilma Rousseff e pelo vice-presidente, Michel Temer, no Palácio do
Planalto. Espera-se que o encontro dê o pontapé inicial no processo de
reaproximação entre o Brasil e os Estados Unidos, depois dos estragos das
revelações de Edward Snowden de que
as atividades de espionagem dos USA incluíam a interceptação de comunicações
eletrônicas de Dilma. Em função de tais revelações, a Presidente cancelou
visita de Estado a Washington, em outubro de 2013. Além do entrevero diplomático e discurso na
Assembleia Geral das Nações Unidas, assim como iniciativas nesse quadro
multilateral, Brasília anunciou a escolha do caça sueco Gripen para a FAB, preterindo entre outros o americano F/A – 18, Super Hornet, da empresa Boeing.
Tragédia na Turquia
A
negligência do Governo Erdogan diante da ocorrência provocou vivas reações e
protestos contra o governo, e a pessoa de Erdogan em especial. A onda de protestos e manifestações de
repúdio se espalhou pelo país. Decerto não melhorou a imagem de Erdogan – iniciada
pelas revelações de corrupção em telefonemas gravados com a sua participação e
a de um filho – a divulgação de fotos em que Yusuf Yerkel, o subchefe do Gabinete, chuta um manifestante caído,
e já dominado por policiais. Esse homem agredido é parente de mineiro morto.
Ao aparecer
em Soma, na quarta-feira, foi recebido com gritos de ‘assassino’ e ‘ladrão’,
Erdogan exagerou na insensibilidade ao afirmar que acidentes na mineração são normais,
o que só fez triplicar a intensidade dos protestos. Erdogan, inclusive, acuado
pelos populares revoltados, teve de refugiar-se em supermercado.
Semelha
difícil, por conseguinte, que diante da série de medidas infelizes, das revelações de corrupção explícita, e das
sequências de peripécias negativas, logre sobreviver politicamente o premier
Recep Erdogan. Após a sua decisão de mandar a tropa de choque dissolver à força
manifestação pacífica em praça pública de Istambul – que se desejava preservar –
se iniciou o processo da derrubada do ambicioso Primeiro Ministro. Por hubris e falta de sensibilidade, Recep
Erdogan que se havia como estadista no mundo muçulmano, se acreditava prestes a deixar o posto de
Primeiro Ministro (em que o seu poder crescera deveras). Julgava-se, assim, a
caminho de presidência reforçada e não mais do cargo cerimonial que é hoje.
Numa
autêntica peripeteia grega, Erdogan
entrou em verdadeiro inferno astral. Parece, por conseguinte, pouco provável
que logre escapar de Sunset Boulevard e a consequente queda,
por conjunção de fatores negativos, devidos na sua maior parte a revelações comprometedoras, a par de
comportamentos ineptos, como o que acaba de ter na visita a Soma. Isto sem
falar dos inúmeros inimigos que soube fazer na sua decenal permanência à testa
do governo, inimigos que incluem boa parte do alto-comando do exército, da
magistratura e dos jornalistas.
( Fontes: Folha de S. Paulo, O
Globo )
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