sexta-feira, 16 de maio de 2014

Picadinho à Brasileira

                                        

Tarifas ou reajustes ?

 

       O ‘primeiro ministro’ de Dilma, Aloizio Mercadante bate de frente com Sua Excia. Guido Mantega. Disse o primeiro: “Você administra (preços) em função do interesse estratégico da economia, não há necessidade e não deve ser repassado imediatamente para os consumidores”. Ao que responde o Ministro da Fazenda: “Nós temos feito, sim, reajustes. Maior exemplo é o preço da energia, que subiu 18%. Onde está o represamento dos preços? Não é verdade que tarifas são represadas.”

 

A Estratégia do Medo

 

      Articulado por Lula da Silva e apoiado por Dilma, o filmete do perigo que volte o tempo de antes. Não sei se vai colar essa estratégia do medo, com as suas sombras, a chuva e os personagens de impressionismo alemão dos anos vinte. Em geral, esses temores abstratos – como o de Regina Duarte nas vésperas do pleito de 2002 – são vistos com ceticismo. Agora, isso de trazer de volta abstrações, é uma coisa; outra,  seria se nos  falasse de quem trouxe de volta a inflação, pois nesse caso não bateria em tecla hipotética, já que qualquer brasileiro ao entrar em  supermercado ou feira livre logo reconhece a presença do dragão...

 

No Futuro, energia suja

 
       O recurso às térmicas foi feito no quadro da excepcionalidade. Outra coisa seria planejar o uso de usinas térmicas de forma permanente para garantir o abastecimento. O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, nos vem anunciar que as térmicas (nuclear, a carvão e a gás natural) estão previstas para operar na base do sistema, vale dizer, de forma permanente para garantir a segurança energética.

       Nem uma palavra sequer sobre recurso a tecnologias de ponta, como a solar e a eólica. O perigo da nuclear é outro, com consequências terríveis para o meio ambiente. É lamentável que se planeje transformar uma matriz energética como a brasileira, uma das mais limpas do mundo, em ao invés, com o carvão e a lenha, uma das mais sujas nas próximas décadas.

 
O Presidente do TCU e a organização da Copa

 
          O Ministro Augusto Nardes, presidente do TCU, disse em discurso que muitas cidades vão passar vergonha na Copa. Tal se deve à circunstância de que  o evento será realizado em meio a obras de infraestrutura inacabadas, ou que não saíram do papel.
          Para Nardes, o Brasil precisa abandonar a cultura do improviso e do ‘jeitinho’. Episódios como esse podem servir de exemplo para que o problema não se repita nos preparativos dos Jogos Olímpicos de 2016 – cujos atrasos no cronograma  já receberam críticas de membros do COI.

          Citando casos específicos, disse Nardes: Teremos decepções na Copa. Estive em Cuiabá na semana passada e fiquei impressionado. A situação lá parece uma praça de guerra.  As obras nos aeroportos não estão terminadas. Houve atrasos em outros aeroportos, como no Galeão e em São Paulo, porque se demorou a fazer a concessão do serviço à iniciativa privada. E quando a decisão foi tomada, perdeu-se muito tempo para definir qual o modelo.

          Ainda no Rio de Janeiro, as obras de modernização do terminal de passageiros do porto ficaram no papel. Em Natal, as obras de modernização do terminal portuário foram concluídas. Mas não tem como navios atracarem porque a plataforma de desembarque foi construída num nível que não permite o desembarque de passageiros. Porto Alegre desistiu de realizar R$ 300 milhões em obras de mobilidade urbana.

           Em relação aos Jogos Olímpicos, o Ministro Nardes disse que sua maior preocupação é que as obras de expansão do metrô até a Barra da Tijuca fiquem prontas a tempo, por se tratar de um projeto complexo.

           Com respeito a esse último tópico do oportuno discurso do Presidente do TCU, deverá ter-se presente que o emprego do chamado Tatusão que é fundamental para o avanço dos aludidos trabalhos tem sido suspenso várias vezes nos últimos dias. Acha-se no trecho final entre Ipanema e Copacabana. Como não se desconhece, Ipanema, densamente povoada e construída, acha-se sobre uma restinga arenosa. Na altura da rua Barão da Torre, entre  as  transversais Farme de Amoedo e Teixeira de Melo, por atingirem a canos de gás e de água, os trabalhos tiveram que ser sustados. Até o momento não está esclarecida a causa dos afundamentos do terreno, que afetam a diversos prédios na Barão da Torre.

 
A  Copa para o Spiegel (Alemanha), o Economist (Reino Unido) e El Pais (Espanha).

 

             De todas, a cobertura mais contundente é a do semanário Der Spiegel, a principal revista alemã. Na capa, imagem da bola oficial do torneio caindo em chamas sobre o Rio de Janeiro... Nas três matérias (dez páginas), se apresenta o atraso nas obras, a insatisfação dos brasileiros com os altos custos do evento, e possíveis embates nas ruas das cidades-sede.

             Se se deve descontar o estilo sensacionalista e negativo deste semanário, a inserção pode ser contestada, mas não a veracidade dos fatos: v.g., gangues queimam ônibus todas as noites. A propósito, nesse tema de que tratei não faz muito – A queima dos ônibus – por que as autoridades não aplicam a legislação pertinente, que é copiosa e abrangente?

                The Economist – que não é de resto suspeito de simpatias por nossa terra – mostra que o improviso ainda é uma marca do Brasil e que a menos de um mês dos jogos, os organizadores lutam para ter tudo pronto a tempo.

               Reaparece no site, o Secretário-Geral da FIFA, Jérome Valcke e a sua descrição como “lidar com autoridades brasileiras é infernal”.

               O espanhol El Pais, por fim, é a cobertura mais serena e menos sensacionalista.  Por isso, talvez tenha mais efeito negativo... Refere pesquisa da Unicarioca de que somente 55% da população do Rio apoiarão a seleção brasileira. Ao contrário da última Copa na África do Sul, quando as ruas do Rio estavam enfeitadas com bandeiras e cartazes de apoio à seleção, o que não se repete desta feita. No entorno do Maracanã, segundo o jornal espanhol, há poucos postes pintados de verde e amarelo. Em Copacabana e Ipanema, não há qualquer decoração especial.

 

Vinda de Joe Biden ao Brasil

 
             O vice-presidente estadunidense, Joe Biden, virá ao Brasil, em 16 de junho, para assistir, na Arena das Dunas, em Natal, o jogo inaugural da seleção americana contra a de Gana.

              No dia seguinte, se a agenda for mantida, o Vice será recebido por Dilma Rousseff e pelo vice-presidente, Michel Temer, no Palácio do Planalto. Espera-se que o encontro dê o pontapé inicial no processo de reaproximação entre o Brasil e os Estados Unidos, depois dos estragos das revelações de Edward Snowden de que as atividades de espionagem dos USA incluíam a interceptação de comunicações eletrônicas de Dilma. Em função de tais revelações, a Presidente cancelou visita de Estado a Washington, em outubro de 2013.  Além do entrevero diplomático e discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, assim como iniciativas nesse quadro multilateral, Brasília anunciou a escolha do caça sueco Gripen para a FAB, preterindo entre outros o americano F/A – 18, Super Hornet, da empresa Boeing.

 

Tragédia na Turquia

 
           O desastre na mina de carvão em Soma, na Turquia, com pelo menos 283 mortos e a reação do Primeiro Ministro Recep Tayyip Erdogan, pode ser a pedra final no já longo processo de queda do Primeiro Ministro turco.

           A negligência do Governo Erdogan diante da ocorrência provocou vivas reações e protestos contra o governo, e a pessoa de Erdogan em especial.  A onda de protestos e manifestações de repúdio se espalhou pelo país. Decerto não melhorou a imagem de Erdogan – iniciada pelas revelações de corrupção em telefonemas gravados com a sua participação e a de um filho – a divulgação de fotos em que Yusuf Yerkel, o subchefe do Gabinete, chuta um manifestante caído, e já dominado por policiais. Esse homem agredido é parente de mineiro morto.

         Ao aparecer em Soma, na quarta-feira, foi recebido com gritos de ‘assassino’ e ‘ladrão’, Erdogan exagerou na insensibilidade ao afirmar que acidentes na mineração são normais, o que só fez triplicar a intensidade dos protestos. Erdogan, inclusive, acuado pelos populares revoltados, teve de refugiar-se em supermercado.

          Semelha difícil, por conseguinte, que diante da série de medidas infelizes,  das revelações de corrupção explícita, e das sequências de peripécias negativas, logre sobreviver politicamente  o premier Recep Erdogan. Após a sua decisão de mandar a tropa de choque dissolver à força manifestação pacífica em praça pública de Istambul – que se desejava preservar – se iniciou o processo da derrubada do ambicioso Primeiro Ministro. Por hubris e falta de sensibilidade, Recep Erdogan que se havia como estadista no mundo muçulmano,  se acreditava prestes a deixar o posto de Primeiro Ministro (em que o seu poder crescera deveras). Julgava-se, assim, a caminho de presidência reforçada e não mais do cargo cerimonial que é hoje.

           Numa autêntica peripeteia grega, Erdogan entrou em verdadeiro inferno astral. Parece, por conseguinte, pouco provável que  logre escapar de Sunset Boulevard e a consequente queda, por conjunção de fatores negativos, devidos na sua maior parte a  revelações comprometedoras, a par de comportamentos ineptos, como o que acaba de ter na visita a Soma. Isto sem falar dos inúmeros inimigos que soube fazer na sua decenal permanência à testa do governo, inimigos que incluem boa parte do alto-comando do exército, da magistratura e dos jornalistas.

 

 
( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )

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