sábado, 1 de março de 2014

Intervenção de Putin na Ucrânia

                           

       É estarrecedor o desrespeito do Presidente Vladimir V. Putin pela soberania ucraniana. Como se estivesse em pleno século XIX, Putin manifesta  seu desagrado com os eventos na Ucrânia pelo envio de tropas à Crimeia. Diante da desfaçatez evidenciada no que concerne às questões internas da Ucrânia, o Presidente da Federação Russa dá a impressão de estar ingressando no próprio quintal.
        Dois aeroportos na península da Crimeia – na capital, Simferopol e em Sebastopol – foram tomados por homens fortemente armados, mas sem qualquer distintivo ou marca nos respectivos uniformes. Fontes ucranianas denunciaram a chegada de dois mil soldados russos em treze aeronaves. Em total desprezo pelas autoridades competentes, o espaço aéreo sobre a Crimeia fora fechado sem qualquer aviso prévio. Além disso, foram instaladas barreiras nas rodovias, e chegaram a anunciar manobras anti-terror para proteger a base do Mar Negro, onde está abrigada a Frota Russa.

       O presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov não teve meias palavras: ‘A Rússia mandou tropas para a Crimeia. Estão trabalhando com cenários análogos aos da Abcasia,onde começaram um conflito e, em seguida, principiaram a anexar o território’.  Em sua denúncia, Turchinov se reportava ao inquietante cenário similar aplicado na invasão da Geórgia, em 2008.     
       De um anúncio de manobras a serem realizadas por 150 mil homens se passa a um quadro muito mais grave, pois tais ‘exercícios’ não se desenvolvem nas sagradas terras russas, mas adentro de território ucraniano, como é a península da Criméia.

      Desde a independência da Ucrânia, ali se manifesta o irredentismo de parte da população, que desejaria voltar a integrar o solo russo, como antes de 1954.  No entanto, na península existe também minoria tártara, que não quer saber de domínio russo, pelo morticínio e os sacrifícios impostos ao tártaros pelo ditador Josef Stalin, em 1944.

     Até mesmo o presidente deposto, em sua entrevista à imprensa em Rostov, no sul da Rússia, não pôde deixar de censurar o Kremlin pela invasão da Crimeia: ‘Acredito que qualquer ação militar é inaceitável. Acredito que a Ucrânia deve permanecer unida e indivisível’.  Se Viktor F. Yanukovich teve de repreender o padrinho pela interferência armada, não viu, no entanto, nenhuma contradição em apelar para o poder maior, dentro do cenário habitual das autoridades destronadas: ‘Acho que a Rússia deve agir e está forçada a agir. Conhecendo pessoalmente Vladimir Putin, estou surpreso que ele não tenha dito nada. A Rússia não pode ficar indiferente (...). A Rússia deve usar todos os meios para acabar com o caos e o terror que varrem a Ucrânia.”
      Como seria de esperar, Yanukovich falou em russo...

      O Presidente Barack Obama resolveu quebrar o silêncio, dizendo-se profundamente preocupado (concerned) com os relatos de movimentos militares tomados pela Federação Russa  na Ucrânia. ‘Qualquer violação da soberania ucraniana seria profundamente desestabilizante. Essa ação não será sem custos’.

      Por outro lado, o Presidente Vladimir Putin resolve agora pedir ao Conselho da Federação, que é o Senado na Rússia,  para empregar força militar na Ucrânia. Dadas as circunstâncias de que a Rússia já tens destacamentos sediados na Crimeia, a providência do Kremlin, além de ser medida formal, serve também como resposta à recentíssima declaração do Presidente Obama de que haveria ‘custos’ para a Rússia se a operação Crimeia prosseguisse.

        Vladimir Putin se acredita, por conseguinte, em condições de impor outro fato consumado, nos moldes da operação Geórgia de 2008, com a anexação na bruta da Abcásia do Sul e da Ossetia do Sul, as duas repúblicas separatistas da Geórgia, ocupadas pela Rússia.

         Será que Putin confunde Ucrânia e ocupação da Crimeia com uma crise no mesmo peso da fragmentação imposta à pequena Georgia? E não se vá nem falar de que o Ocidente, por intermédio, entre outros, de grandes potências de então,  França e  Inglaterra, já se empenhara em  guerra na Crimeia em meados do século XIX e que acabara mal para o Tzar de então, Alexandre II ?

 

(Fontes:  Folha de S.Paulo, O  Globo, The New York Times )

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