sexta-feira, 14 de março de 2014

Problemas de Dilma

                                      

        Estará terminada a crise criada por Dilma Rousseff pelo seu temperamento e os muitos conselhos que terá ignorado? Se a previsão do futuro  será sempre missão sujeita a chuvas e trovoadas, não creio esteja longe da verdade afirmar que, a despeito da revolta na Câmara, com as desfeitas dos ministros convocados e a comissão externa para a Petrobrás (talvez a melhor coisa da rebelião), as relações de Dilma com a Câmara dos Deputados e, em especial, com a bancada do PMDB liderada pelo deputado Eduardo Cunha, se acham por ora em mar ainda encapelado.

        A Presidenta acumulou erros – no médio e curto prazo -, a mor parte ditada pelo próprio comportamento, e a falta de visão mais integrada e proficiente da política como ela ora se desenvolve em Pindorama.

        Muitos dos equívocos se devem a deficiências de conhecimento. Ela acreditou possível isolar o líder Cunha de sua bancada. Má-informação tanto na teoria quanto na prática.

        Na sua nota de hoje ‘Meia-sola ministerial’, Ricardo Noblat, com a habitual proficiência, conclui: (Dilma) “sai da reforma politicamente mais fraca do que quando entrou”.

        Não terá sido este o seu propósito. Pois, em fim de contas, passada a fase aguda, ‘o PMDB do Senado apoia o Governo. O PMDB da Câmara deixou de apoiá-lo.’

       Mas há um ulterior aspecto que não deixará de ser ativamente considerado, posto que não pareça oportuno ou mesmo relevante aos diretamente interessados enfatizá-lo.

       Uma coisa é a revolta surda, que se agita nos conciliábulos, nos corredores  e até nas bancas da Câmara. Outra é a realização de sua potencialidade, comprovada em voto em comissão e plenário.

       Se a sopitada insatisfação dá lugar a votações concretas, em que se contesta e se contraria o poder do Palácio, a situação se transforma. Não é hora de bombeiros, porque o fogo já grassou na campina.

       Agora, a hora é outra. Hora de engolir o que antes seria impensável. Hora de procurar compor o que for possível, e esquecer o resto.

        Perder, e tirar a lição, qualquer que ela seja, é uma coisa. Outra é perder e fingir que nada de ruim aconteceu.

        Em geral, para essa dicotomia, os resultados não variam. No primeiro, ainda que aos trancos, as coisas tendem a acomodar-se, pelo menos no futuro previsível. Perdem-se este ou aquele anel, mas se guardam os dedos.

       Já no segundo caso, precisa repetir que a estória será outra ?

 

(Fonte:  O Globo)

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