domingo, 2 de março de 2014

Colcha de Retalhos B 8

                

Invasão russa da Crimeia

 

         Embora a magnitude da questão seja muito superior à da crise na Geórgia em agosto de 2008, a invasão russa daquele ano na pequena Geórgia pode apontar as grandes linhas da reação dos Estados Unidos (e da União Europeia), a atitude da população local direta ou indiretamente envolvida (reporto-me, em ordem crescente de gravidade, a reações pontuais da população de fala russa na zona oriental da Ucrânia, incluída a Crimeia), e do próprio Kremlin.

         Se Obama falou dos custos dessa operação para Moscou, e a sua conversação telefônica de noventa minutos – que, na verdade, correspondem a 45 minutos para a tradução respectiva (por questões protocolares, não é provável que Vladimir Putin tenha falado em inglês), o exemplo anterior de George Bush mostra que, na maioria dos casos, Moscou não se inquieta com restrições pontuais (depósitos bancários, limitações ao intercâmbio), se a questão é de prestígio nacional ou de alto interesse (como o é agora o caso da Crimeia).

        Autorizada por resolução unânime do Senado, a invasão branca da Crimeia pode doravante realizar-se de forma aberta. No entanto, não será fácil ocultar o viés imperialista da operação. Como afirma o cientista político Alexander Konovalov: “não está clara a missão dessa força expedicionária. Apesar da linguagem da resolução apresentada pelo Kremlin, não havia nenhuma evidência de perigo aos cidadãos da Crimeia ou de ameaça à base russa de Sebastopol.”

        Na Crimeia, o primeiro-ministro Sergei Aksionov é considerado ilegítimo pelo governo central.  Com efeito, a eleição de Aksionov, na quinta-feira, viola a Constituição Nacional. Feita a portas fechadas, e um dia após que um grupo armado se apossou do parlamento local, há toda razão para suspeitar de que se trata de operação que visa a aproveitar-se do virtual domínio de Moscou sobre a Crimeia. Nesse contexto, Aksionov anunciou ontem que ira adiantar para trinta de março, referendo aprovado na quinta pelo parlamento já tomado, com vistas a ampliar a autonomia da Crimeia.

        Por sua vez, os nacionalistas ucranianos – próximos de Yulia Timoshenko, a ex- Primeiro Ministro  que Yanukovich fez condenar por um processo suspeito – ocupam atualmente os cargos de presidente e primeiro-ministro. Nesse sentido, o presidente interino da Ucrânia colocou as Forças Armadas nacionais em ‘alerta máximo’ e o governo instruíu o seu representante permanente na ONU, o embaixador Yuri Sergeiev, para acionar o Conselho de Segurança para interromper a agressão russa.

         Se Moscou privilegia a força, seja embuçada, seja arrimada a posteriori por resolução do Conselho da Federação (Senado),  voltamos a um cenário do século XIX, em que o mundo se deparava com o concerto das Grandes Potências (a que tudo ou quase tudo se permitia)  e o restante das Nações, que se empenhavam pelo respeito ao direito internacional.
         Essa involução – de que o Presidente Vladimir Putin se tem valido, como o atesta o precedente do ataque à Geórgia e a anexação (virtual ou não) das repúblicas da Abkazia e da Ossétia do Sul, em 2008 – é processo perigoso e deletério. Se a força nua passa a ser a razão bastante para decidir do traçado das fronteiras, aonde ficam a Corte Internacional de Justiça da Haia, os Tratados de limites e, não por último, o Direito Internacional Público ?    

 

 A  República do Retoque

             
         Por que as notícias da véspera costuma ser melhores? No setor das contas públicas, fica mais fácil entender as involuções surpreendentes. Em dezembro último, as contas foram maquiadas, no sentido de que para apresentar um balanço mais luzidio o governo preferiu atrasar os pagamentos em dezembro.

         Dessarte, o que se ocultou em dezembro, reponta em janeiro – despesas federais com pessoal, programas sociais e investimentos – com um incremento de 19,5% sobre janeiro do ano passado. A gastação corre no sangue da administração de d. Dilma.

         Por isso, dadas as iteradas recaídas no campo da ficção fiscal, seria mais apropriado que se olhasse com cuidado todas as súbitas reconversões da Administração. Eis que são tantas as vezes que a imprensa, bem-comportada como sempre, registra obediente as promessas de cristão-novo  deste governo petista, quem é na verdade que estão fazendo de bobo ?  Será que pensam manter sempre a credibilidade? Ou imaginam que esse primarismo vá poupá-los do rebaixamento da nota pelas Agências de avaliação de Wall Street?

 

A  República do Retoque (2)

 
         E o Mais médicos, hein ?  Quem pensou que o Brasil fosse Venezuela e que certas coisas que no reino balouçante de D. Maduro são aceitas  possam valer por aqui ?

        A brutal discrepância entre os salários pagos a profissionais médicos de outros países, e os pífios vencimentos que recebem os cubanos, sob regime de virtual escravidão – como assinala mestre Ives Gandra Martins  - ainda mais com a retenção feita pelo governo cubano – quem acreditou que um tal mostrengo seria politica e eticamente viável na república federativa do Brasil ?

        Costurado por Alexandre Padilha, quem cuidou de minorar o erro inicial?  Pois foi mesmo Lula da Silva, quem viajou a Cuba para convencer Raul Castro que o esquema, no Brasil, era insustentável. De acordo com o noticiário, os médicos cubanos passam a ganhar US$ 1,245.00 (cerca de três mil reais e não mais apenas mil). O Ministro Arthur Chioro entrou na questão pro-forma, como se a iniciativa fosse do próprio Ministério da Saúde.      

       Como a discrepância continua, posto que reduzida, não está escrito que a questão vá ficar nesses termos.

 
O Samba da Diplomacia Doida

       A Revista VEJA dessa semana sob o título ‘O samba da diplomacia doida’ (inspirado sem dúvida no famoso samba do crioulo doido, de Sérgio Porto) nos informa de um vexame ocorrido em Bruxelas.
       Ao ler o registro sem nexo de afirmações peremptórias se experimenta talvez o que Lord Altrincham afirmara dos discursos lidos pela vozinha esganiçada da jovem rainha Elizabeth – uma dor forte no pescoço. O problema está em que o fato é real, e corresponde a um discurso pronunciado obviamente de improviso pela Presidenta. Dois exemplos: “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela, porque é a capital da Amazônia” e “Nós consideramos como estratégica essa relação, até por isso fizemos essa parceria estratégica.”

 

O Mensalão vai virar  pizza ?

 
      Eliane Cantanhêde na coluna ‘Batuque com Pizza’ aventa a perspectiva de uma ‘revisão criminal’ para inocentar de vez os mensaleiros ilustres, sobretudo José Dirceu. O risco, no entender dessa jornalista em geral bem-informada é de uma grande pizza. 

      De acordo com o informe, quem abre alas nesse Carnaval é o Ministro Ricardo Lewandowski. Como está na fila para assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal, toda especulação – sobretudo com a formação de uma nova maioria já na última votação – é possível. Ainda mais pela circunstância de que falta muita coisa a decidir na pauta do tribunal quanto à Ação Penal 470...

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, The New York Times, VEJA)

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