quarta-feira, 26 de março de 2014

Trincheiras da Liberdade B 5

                                    

Exclusão da Rússia

 
       Convocadas de urgência por Barack Obama – que parece ter acordado de seu torpor – as potências reunidas na Holanda decidiram excluir do G-8 [1](que passa a ser G-7) a Rússia, por comportamento não conforme aos princípios que orientam o Grupo.

       A Rússia estava há quinze anos no G-8, mas o seu profissional Ministro do Exterior, Sergei Lavrov, não viu problema na decisão: ‘se nossos parceiros ocidentais acreditam que esse formato está esgotado, não fazemos questão (dele)’.

       Dentro do festival Sochi, promovido por Vladimir Putin – o maior certâmen havia sido os Jogos Olímpicos de Inverno – esse centro invernal no Cáucaso não mais sediará, portanto, a reunião das principais potências, dado o cancelamento do encontro em Sochi.

       O afastamento da Federação Russa do grupo é faca de dois gumes. Se funciona como ‘punição’ pelo comportamento não-conforme ao direito internacional e aos tratados firmados do regime Putin, a reunião regular poderia ser cenário para discussões informais que tenderiam a dar via de escape para as tensões.

       Por outro lado, conforme referido anteriormente pelo blog, a Assessora de Segurança Nacional  Susan E. Rice anunciara uma reavaliação das relações com a Rússia pelos Estados Unidos.

       Não foram poucas as críticas dos dois principais partidos estadunidenses quanto à negligência de Obama no que tange às questões europeias (leia-se Síria e Ucrânia). A respeito, tem sido objeto de não poucas censuras a atitude de retraimento de Obama, não só quanto ao Ditador Bashar al-Assad, senão no que tange a gospodin Putin.

       A conversa com o então presidente Dmitri Medvedev representa marco importante. Captado por microfone deixado operante por descuido – o que seria uma espécie de ‘testemunha acidental da história’ -  Obama disse que oportunamente (depois das eleições presidenciais de 2012) cuidaria de desativar o escudo anti-míssil na Europa, que era um dos pontos de atrito de Putin com o Ocidente. Animado pela boa nova, Medvedev disse que se daria pressa em transmiti-la para Vladimir (que logo reassumiu a presidência).

      A interpretação de muitos é que esse escudo representava deterrente importante no que tange a Moscou, e que Vladimir Putin, uma vez reeleito para a presidência (no caso, uma formalidade) começou a tirar as deduções que a seu talante cabiam no que respeita às relações com o Ocidente (e o tratamento dos países considerados na sua suposta esfera de influência).

      Obama, na reunião da Holanda, não omitiu alfinetada em Moscou, a que denominou de ‘poder regional’.  

      Sem embargo, para Kiev – que acaba de assinar o acordo com a  União Europeia, acordo esse rejeitado na vigésima-quinta hora pelo então presidente Viktor Yanukovich, em favor da União Aduaneira proposta pelo Kremlin – a movimentação das tropas russas na sua fronteira oriental com a Rússia constitui motivo de grande apreensão, mormente após a tomada ilegal da Criméia.

 
 A Democracia Venezuelana

 
       Dois acontecimentos, um dos quais farsesco, refletem a real situação na Venezuela e a conveniência de acompanhar, com cautela e isenção, a evolução política naquele país.

       O Presidente Nicolás Maduro anunciou a prisão de três generais da Força Aérea que estariam conspirando contra o estado democrático chavista. Se há consistência ou não nesta grave acusação, os fatos não deixarão de demonstrá-lo. Com as iniciativas do governo chavista voltadas agora para a repressão de conspiratas militares, a situação naquele país não será das mais tranquilas, o que é direta decorrência da funda e sólida incompetência do sucessor do Comandante Hugo Chávez.

      Por outro lado, o presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, sem trocadilho nos vem com uma descabelada decisão. Com efeito, Diosdado Cabello de sua curul assemblear anunciou que a deputada da oposição Maria Corina Machado perdera o  mandato e está proibida de entrar no recinto da Assembléia!

     A ‘motivação’ dessa  ilegal resolução – há um procedimento legal para as cassações de mandato, que obviamente não se coaduna com a intempestiva, sponte sua determinação de Cabello – está em que a deputada aceitou o papel de representante suplente do Panamá, e solicitou o direito à palavra em sessão da OEA nesta sexta-feira.  Dada a impossibilidade até agora de a OEA ouvir relato da oposição sobre a situação na Venezuela (com grandes protestos populares contra o governo Maduro desde o início de fevereiro), o Panamá cedeu lugar na sua delegação para que a OEA fosse inteirada.

       Sem embargo, os representantes dos países-membros na OEA, por maioria de votos, aprovaram (22 votos a favor, três contrários e nove abstenções) a moção da delegação venezuelana de que fosse retirado da agenda o ítem dedicado à análise da situação no país. Dessarte, o corajoso empenho da deputada foi preventivamente calado. Cabello – que não se pejou de cassar o mandato da deputada, posto que para tanto não dispusesse de qualquer base legal – mostrou, a contrario sensu, qual é a verdadeira situação na pobre Venezuela.  Para os distúrbios que,  apesar de tudo, continuam – para os surdos de tanto ouvirem – há macabro balanço de 36 mortos desde 12 de fevereiro.
       Será que disse algo a propósito o saltitante passarinho que aparecera na campanha no ombro do caminhoneiro Maduro?...

 

(Fontes:  The New York Times,  Folha de S. Paulo, O  Globo)    




[1] Formado por Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Japão.

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