segunda-feira, 24 de março de 2014

Folhetim de Fim de Semana

                                    

Os oito anos de Mantega

 
       O Ministro Guido Mantega aparece contente na foto. Em breve, completará oito anos como Ministro da Fazenda. Nas contas da imprensa, como logo alcançará  Pedro Malan, que ficou dois mandatos sob FHC, ele passará a ser considerado como o Ministro da Fazenda mais longevo. Epa! E o Artur da Souza Costa[1], que foi Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas, como fica? Os áulicos de plantão já vieram com a fórmula: Mantega é o ministro de mais longa permanência em regime democrático.
       Já sob tal aspecto, o critério é dúbio. Regime democrático? O que tem isso a ver com o peixe, se pensarmos que Ministros da Fazenda não são eleitos, mas bem demissíveis ad nutum...

        O que isto significa? Mais um truque dentre os muitos que Mantega tem aplicado ou permitido no seu longo ministério, a começar pelas capitalizações que tanto foram do gosto de Lula da Silva?
        Mantega tem presença afirmativa nas finanças do Brasil? A Presidenta segue as suas recomendações ou será que é o contrário?  Mantega, nesse octênio, tem acompanhado as pegadas firmes de seu antecessor Palocci?  Ele inspira confiança, ou não? A sua liderança na Fazenda tem sido incontrastável ou não? Ofusca a todos os demais, ou admite que cometas, como Arno Augustin, façam suas aparições ?

        Por fim, como Mantega vem sido avaliado externa e internamente?  Excluindo o Economist, tem recebido elogios pela firmeza e transparência?  E o que tem contribuído para a avaliação das finanças brasileiras sob o mando – e põe mando nisso! – de  Dilma Rousseff ?

 

 Silêncio dos Militares ?

 
         Depois do mutismo oficial, da atitude obsequiosa, beirando o servil, do poder civil, é importante para o Brasil que alguém como Maria Celina D’Araujo venha manifestar-se sobre a atitude das Forças Armadas.

        Reporto-me à entrevista na Folha deste domingo.  As suas palavras são de grande relevância, sobretudo em país onde a classe política e o poder civil tem atitude de extrema cautela com a instituição militar,  postura  que não fica nada bem no retrato. Se compararmos com outros países sul-americanos – a Argentina, por exemplo – a postura de nossos líderes democráticos eleitos tem sido de cautela excessiva, como vemos de resto nos resultados práticos: ao contrário daquele país, algum militar de alta patente foi condenado e serviu pena na prisão?

         A sua análise da relação dos militares em geral me parece lapidar. E no obsequioso mutismo prevalente, não poderia ser mais oportuna.

         Há muitas coisas importantes no seu depoimento a assinalar.  Frisemos algumas: “Hoje as Forças Armadas exercem poder de veto no Brasil, porque têm a capacidade de impedir que informações venham a público. Quando um ator político tem poder de veto, não há democracia.”

Na América do Sul, somos o único país em que ninguém foi responsabilizado individualmente pelos crimes da ditadura. O Estado assumiu a culpa e pronto. Nossa Anistia foi uma autoanistia, os militares perdoaram a si mesmos. Isso aconteceu em lugares como Chile e Argentina, mas depois as pessoas foram julgadas”

O Governo Lula foi um retrocesso muito grande. Veja a demissão de José Viegas do Ministério da Defesa (em 2004). O General Francisco Albuquerque, comandante do Exército, fez um manifesto defendendo o golpe de 1964 sem consultar o Ministro, seu chefe. Era uma dupla irregularidade, porque militar não pode fazer manifestação política e houve quebra de hierarquia, mas Lula demitiu o Ministro e manteve o comandante no cargo.

“Depois, o Tarso Genro (ministro da Justiça) declarou que era favorável a rever a Lei da Anistia para que os militares respondessem por crimes contra a Humanidade. O que o Lula disse ? ‘Não se toca mais neste assunto.’ Ele tinha uma atitude reverencial com as Forças Armadas.”

 

(Fontes: O Globo,  Folha de S. Paulo)        



[1] Foi Ministro da Fazenda do Presidente Getúlio Vargas de 24 de julho de 1934 a 29 de outubro de 1945.

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