quinta-feira, 20 de março de 2014

Pra que Superávit Primário ?

           

         Mais objeto de vergonha do que de dúvida, todas as manipulações que o Ministério da Fazenda de Guido Mantega procurou fazer a propósito do superávit primário, na verdade poderiam constituir uma fábula para o exercício e aprendizado dessa gente que, com Mantega no ápice da construção, tanto e vãmente se empenhou em lograr iludir por um dia que fosse o público interessado.

         Com efeito, a exigência do superávit primário, em sua aparente simplicidade, na verdade, ou configura a famosa pedra no meio do caminho do poeta Carlos Drummond de Andrade, ou é embuste cruel para os trapaceiros, pois coloca exigência que eles não podem cumprir.

          Na mesma linha de pensamento, nos vem à mente a máxima do Duque de La Rochefoucauld: a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude.

          Sabia-se que, ameaçado pelos piratas das agências de risco, Guido Mantega – que se diz Ministro da Fazenda – cuidara de preparar um tapa-boca para os detratores do dílmico governo. Iria apresentar um superávit primário que iria calar a malta dos críticos, além de silenciar os mouros d’além-mar. Posto que provoque ceticismo a sua reivindicação plena da ministrança – é voz corrente que Dilma assumiu a Fazenda, como uma dúzia de outras Pastas que estão à sua altura – a azáfama de fim de ano e a cercania do Carnaval o ajudaram na tarefa de ser levado a sério.   

          Guido não ignorava a própria dificuldade. Como um governo que gasta de forma compulsiva, pode querer apresentar superávit primário digno do nome?

           Perguntou-se então se grandes mentiras poderiam ser úteis. Talvez. Quanto maior a construção, mais tempo teria pela frente para ocultar-lhe a natureza.

          Irritava-lhe, no entanto, ler blogs que, malgrado os ingentes esforços,  tachavam a sua criação já a treze de janeiro de ‘Superávit Ficcional’ !

         E, no entanto, por artes que Gil Castello Branco viria a mostrar só a 18 de março, o samba-enredo do superávit primário se transformaria em claro enigma.

         Será cansativo descrever os truques e os macetes fiscais, que envolvem intensa manipulação. Todas essas mágicas têm vida curta. Os enganos têm prazos de validade que qualquer farmacêutico definiria como abusivos, quase inadmissíveis.

         É um senhor esforço!  Na dura realidade, todavia, será que engana alguém ?

         Movimentar tudo isso – setenta e cinco bilhões! – com que propósito? Mostrar que mentira tem perna curta?

        Para que toda essa parafernália? Desmoralizar as contas? Tampouco o exercício faz sentido... Além do mais, esse tipo de contabilidade fiscal não é sério...

        Então, se não é sério, quer dizer com isto que o humor negro passou a encarregar-se das contas nacionais...

(Pano rápido)

(Fonte: O Globo)

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