terça-feira, 25 de março de 2014

A Trapalhona

                               

        Vendo onde o Governo de sua pupila está indo parar, será que Lula pensa em que talvez se haja precipitado, ao indicar alguém para sucedê-lo que no seu quarto de ano mandato tem bagagem tão pouco convincente ?
       Os erros e os escândalos se acumulam. É bem verdade que entre esses não há nenhum que sequer chegue perto do mensalão, quando o medo de Nosso Guia de ser levado de roldão pela crise não era mais hipótese acadêmica, como o próprio comportamento de D. Marisa, ao obter passaporte italiano, não deixa qualquer dúvida.

       O problema com Dilma Rousseff está na sua entrada em ano eleitoral com um punhado de problemas que já são de bom tamanho.

       Ela trouxe a inflação de volta. Entra mês, sai mês, a taxa média está sempre batendo no teto, o que traz para o convívio diário a  incômoda presença do Dragão. Se os surtos inquietantes foram contidos, a dificuldade está em que a economia se descobre sempre próxima do teto, o que traz nefastas consequências com a sopa dos índices, e o consequente vezo dos incrementos embutidos numa expectativa de viés sempre em alta.

      O Plano Real corre o risco de virar definitivamente retrato na parede, porque não se descortina ou competência, ou vontade de pôr a economia em ritmo menos subfebril de o que se assinala até agora, entra ano, sai ano.

      Nesse contexto, o anúncio do rebaixamento da economia brasileira até que  surpreendeu, mas por outros motivos. Contudo, o entorno de certa maneira frisa o relativo descrédito da corrente administração econômico-financeira.  A nota mais salgada saíu há menos de duas semanas de reunião entre representantes da Standard & Poor’s e o Ministro Guido Mantega, que apresentara coleção de dados novos à consideração da Agência.

      Apesar da barretada e do nível do mensageiro, a expectativa de que a queda ficasse para depois das eleições logo se esfumou. Com esse balde de água fria, o desempenho econômico do governo Dilma Rousseff se descobre com o aval de Wall Street ainda mais fragilizado nos debates das próximas eleições.

        Encerra-se, assim, uma década de elevações da nota brasileira pelas agências de classificação de risco.  E por mais voltas que se busque dar para minimizar a queda, o flanco fica em aberto.      

        Estamos agora dependurados no último ítem de investimento (BBB-). O abismo do junk (lixo) seria a próxima parada. Não há mais qualquer faixa que dele nos separe.

     Como sublinha Miriam Leitão não foi surpresa a decisão da Standard & Poor’s. Ao invés de procurar reverter a tendência, consoante frisa a colunista, “o governo ignorou todos os alertas e insistiu em manobras para manipular as contas públicas, em vez de corrigi-las.”

     No passado, o nosso PIB crescia e havia a expectativa de progressão. Passamos para uma outra faixa, aquela da turma de trás, que apesar da poeira semelha não ganhar muita experiência.

      De nada valera o aviso dado pela Standard & Poor em seis de junho do ano passado, quando a classificação brasileira foi posta pela agência em perspectiva negativa.

     Infelizmente, não está na natureza da administração de Dilma Rousseff não tratar sem artifícios fiscais as eventuais dificuldades. As nossas contas, com tantos truques, perderam boa parte de sua credibilidade. O pior na ingenuidade (para não dizer outra coisa) de parte das manipulações fiscais. A par de criar ambiente desfavorável, elas não enganam a ninguém.

       Tampouco é firula acadêmica o rebaixamento da nota.  As notas atribuídas pelas agências impactam igualmente o custo da dívida de empresas e países, porque os juros sobem. Quanto pior a imagem do país, mais alto pagará em juros, o que funciona como a mais valia do risco acrescido.  Por outro lado, quanto melhor a classificação, menos tenderá a ser o dispêndio com os juros.  Não é um bom negócio, portanto, para os empresários se partem para as chamadas captações. Esse eufemismo para a tomada de empréstimos será, doravante, de gosto mais salgado.

      Por outro lado, a rebaixa tem um efeito genérico e desmoralizante sobre a economia  atingida em geral. Se o viés passa a ser negativo, decresce o interesse, diminuem os IEDs (investimento econômico direto), sem falar de inversões mais duráveis. Se aumentam os investimentos especulativos, dada a sua volatilidade, não representa aporte confiável para um país que se debate nos andares debaixo da economia internacional.  

       Talvez esse tenha sido o erro mais pesado e ameaçador da impetuosa economista Dilma Rousseff. Não se pode nunca esquecer que a economia depende em grande medida da confiança na gestora.

       A grande ironia disso tudo estaria quem sabe na circunstância de que Lula da Silva foi procurar na sua chefa de gabinete uma gerentona para o Brasil. Pensou em termos administrativos eis que, enquanto Presidente, muito dependeu da atuação de Dilma no nível administrativo. No político, pensava ele.

       Como grande eleitor, Lula conseguiu o feito, que é negado a tantos presidentes, vale dizer, eleger o próprio sucessor. O único problema terá sido que se esqueceu de constituir um elemento indispensável para o sucesso da fórmula. Deu-nos uma gerente, quando o Brasil carece de um pouco mais.

 

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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