sábado, 15 de março de 2014

Revista da Semana (VI)

                           
Dilma no Purgatório Astral?


        Por ora, as coisas não parecem correr à feição de Dilma Rousseff. Se as notícias não são calamitosas, será difícil considerá-las positivas.
       Por exemplo.  A crise com a bancada do PMDB vem fermentando há tempos. Os liderados de Eduardo Cunha (RJ) acabaram se cansando com a arrogância da Presidenta, e esta última semana foi o diabo para o Planalto. O futuro dirá se a jornada de desafio terá sido uma jornada de tolos[1], ou se marcará tendência para o declínio do poder de Dilma, que nesta semana mordeu a poeira.

       Já hoje, O Globo e a Folha noticiam, em primeira página, as vaias recebidas por Dilma de moradores de conjunto habitacional, quando da entrega de unidades residenciais do programa assistencialista Minha Casa, Minha Vida.
       Como sempre, a reação da Rousseff descambou para viés fantasioso. Na sua ‘resposta’ trocou alhos por bugalhos.

       Com efeito, ela censurou os apupos dizendo “aqueles que não dão importância às pessoas terem a casa própria é porque nasceram em berço esplêndido”. Dilma dividiu o palanque com o governador tucano Siqueira Campos, ao inaugurar conjunto habitacional com 1788 casas em Araguaína (a cerca de 400 km de Palmas).
      Ela teve, no entanto, de aguentar os protestos de moradores de outro conjunto do mesmo programa. As reclamações se deviam ao fato de a nova obra – Residencial Costa Esmeralda – foi inaugurada já com creche, escola e posto de saúde, enquanto a deles – a chamada Vila Azul - entregue em finais de 2011, não recebera nenhum desses benefícios, a par de arrostar problemas de infraestrutura.

       Daí os protestos, que a Presidenta tentou inabilmente desmoralizar. Porque, como se vê, não se trata de gente que ‘nunca ralou’ ou que ‘nasceu em berço esplêndido’.  Sentindo-se enganados, eles agitaram  cartazes, com frases como ‘corruPTos’, e ‘saúde sim, Copa não’.

 
O Domínio do Estado por um Partido

 
         Para quem por dever de ofício viveu no antigo eldorado do P.R.I. – Partido Revolucionário Institucional – a experiência continua rica de ensinamentos. Sem embargo, posto que, para felicidade geral da Nação mexicana o predomínio do PRI como virtual partido único[2] acabaria duas décadas depois – é forçoso reconhecer que nunca o governo do PT se vem parecendo tanto com o do finado PRI. Ainda na Folha de hoje, na página A12, temos uma foto de Dilma na companhia de anciã e de um homem sorridente, todos juntos em um janelão, olhando para ponto impreciso (o futuro radioso ?).

        Se descolorirmos a foto, ela vira pura propaganda do PRI! Como o antigo Partido Republicano Institucional, o PT pretende estender o seu domínio, e para tal se utiliza da maquinaria do Estado, e dos tributos, não só para apossar-se do funcionalismo estatal, mas também, e, sobretudo, da inchação dos postos gratificados. O neopopulismo continua mais vivo do que nunca, e o grande truque está no seu controle político pelo Partido, eis que os programas pagos com o dinheiro dos impostos (i.e., do contribuinte) funcionam como propaganda dos respectivos candidatos, seja à Presidência, seja ao Legislativo...
          

O Custo da Ficção, segundo Miriam Leitão

 
      Declarações em contrário – e é o que não faltam -  segundo Miriam Leitão já soma R$ 30 bilhões o gasto para se manter a ilusão dos preços de energia.

      Para os que acompanharam a última campanha presidencial, não terá escapado a habitual arrogância de Dilma Rousseff estigmatizando o racionamento sofrido durante o governo de FHC, cousa impensável em uma administração petista.
     Pois é...  Reaparece o consueto malabarismo fiscal, agora por meio do pacote de energia.  No entender da colunista, o mais grosseiro dos truques  é a ideia de usar a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para se endividar e emprestar às distribuidoras. É difícil de entender como uma agência sem ativos possa assumir  compromisso de tal espécie.

      Consoante Miriam Leitão seria apenas para esconder das agências de risco (aquelas que estão em Wall Street e pensam em rebaixar a nota do Brasil).  Mas só ilude os trouxas, porque é fácil de ver a camuflagem no gasto que o governo está costurando em mais uma operação heterodoxa.
     Tudo isso é para enganar o eleitor. O governo Dilma gastou R$ 9 bilhões em 2013 para cobrir o passivo das distribuidoras com a queda de energia. A conta prevista para este ano de 2014 – com o repasse para as tarifas – passa para 2015, porque estamos em ano de eleição! E seriam trinta bilhões ao todo !

       E se a seca continuar, o perigo do racionamento  pode virar realidade! E quem vai gargalhar então?

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo)




[1] Dia dos Tolos (Journée des Dupes) 11 de novembro de 1630 – em Paris, os conjurados contra o Primeiro Ministro Cardeal Richelieu são logrados na expectativa de derrubá-lo.  
[2] Espertamente, não se apresentava como governo de um só partido. Mas era apenas pra inglês ver, porque os outros três não contavam.

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