quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O que fazer do Maranhão ?

                                      

       A colunista Eliane Cantanhêde, que é de origem maranhense, escreveu ontem, em uma das notas-editoriais da segunda página da Folha, ‘Intervenção já!’
        É texto que abre um pouco mais da cortina que envolve aquele Estado. Todos sabemos que o patriarca José Sarney não é homem comum, como o afirmou Lula da Silva, então Presidente, vindo defendê-lo, no escândalo dos atos secretos do Senado Federal.

       Como tantos outros escândalos no Brasil, não deu em nada. O próprio Senador por São Paulo, Eduardo Suplicy, dera a Sarney um cartão vermelho. Na paráfrase de um poema: para quê? para nada.
       Os indicadores sociais daquele estado não poderiam ser piores. Já o fato de ser campeão da bolsa-família é um duplo indicador: da situação da própria população e dos limites do assistencialismo.

       A vergonha, que não é só do Estado, que vinha sempre sendo empurrada para baixo do tapete, coube a um órgão da OEA rasgar a diáfana cortina da hipocrisia e da consequente inação, ao denunciar – e exigir providências – no que tange ao Presídio de Pedrinhas.

       Esse presídio é parente próximo do de Porto Alegre, e sem dúvida, para lembrar célebre autor que já não está entre nós, faz parte desse imenso arquipélago de prisões medievais que o Brasil partilha com tantas outras nações emergentes.

      Para que se faça idéia da complexidade dessa matéria, outro colunista de nomeada reportou-se à hipocrisia da justiça, que igualmente seria responsável indireta pela continuidade de tal situação. Sobre o estado prisional, a juízo do jornalista Janio de Freitas “os governos estaduais e o federal são os acusados de sempre. Por merecimento. Mas por exagero acusatório também, como é igualmente de praxe. A nenhum juiz, desembargador ou integrante de tribunal superior falta conhecimento das condições criminosas vigentes em presídios brasileiros. A nenhum promotor e nenhum procurador do Ministério Público falta o mesmo conhecimento.”
      São palavras duras e de difícil contestação. No entanto, se a condição de nossas prisões faria empalidecer o Marquês de Beccaria, devemos convir que nem todos têm a mesma responsabilidade. No Brasil, muito se fala sobre o problema, mas pouco se faz. Existe um pequeno arquipélago de presídios federais de segurança máxima, e semelha de todo interesse que o seu número seja aumentado, respeitada a qualidade e a distribuição na Federação. Assim, se contribuiria a que menos se discorresse acerca do presente estado calamitoso de coisas, através de estabelecimentos que tivessem presente como mandatória dupla segurança: a da prisão e a do respectivo prisioneiro.

     Candidatos naturais a receber tais estabelecimentos são aqueles estados em que é mais precária (e desumana) a condição de encarceramento. Dessa maneira, ao invés de vazios lamentos de altas autoridades, se procederia à construção de grande arquipélago de cárceres de autêntica segurança máxima. A localização não seria submetida ao arbítrio de estados da Federação, e sim às condições reais nas prisões neles existentes.

       No que tange às condições do Maranhão, a matéria se encontra com o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deverá decidir, em breve prazo, se cabe requerer ao Supremo Tribunal Federal intervenção federal no estado, por causa da violência nos presídios, que vem assumindo características dantescas. Não obstante, segundo o governo de São Luís, da governadora Roseana Sarney (PMDB) há ‘inverdades’ sendo divulgadas acerca do assunto.  Que ‘inverdades’ são essas, e que relevância teriam para a decisão judicial, é assunto decerto da competência do Procurador-Geral da República.

 

(Fonte: Folha de S. Paulo)

       

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