quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Diário da Mídia (I)

                                        

Guerra psicológica

        Há talvez duas explicações básicas para o súbito maniqueísmo da acusação de guerra psicológica, brandida pela Presidenta na sua alocução, supostamente ao ensejo do Novo Ano, e na realidade como salva inicial na campanha eleitoral.
         As críticas dos economistas se centraram sobre as razões da falta de confiança do empresariado. Nesse contexto, Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, afirmar que o governo mostra resistência em perceber que é o causador da falta de confiança por parte dos empresários, fruto, segundo ele, da piora do desempenho fiscal, da manutenção da inflação em patamar alto e das frequentes mudanças de regras. E, a tal respeito, sintetiza: “se há guerra psicológica, foi o governo quem a começou”.

         A explicação me parece convincente, mas  carece não de retoques, mas de adições que insiram no quadro o crescente parentesco do lulo-petismo com o chavismo, esse suposto avatar do neo-populismo em que o espírito de confrontação com a realidade econômico-financeira se reflete em várias gradações de deturpação intelectual.
         Talvez Dilma Rousseff não veja qualquer parentesco com a boçalidade do neo-chavismo de Nicolàs Maduro, mas na verdade a genérica acusação de guerra psicológica coloca as visões respectivas dos dois governos no mesmo campo, se afastarmos a cortina de fumaça da pobreza conceitual do limitado caminhoneiro, que transforma a alta inflação e o desabastecimento em caso de polícia.

         Culpabilizar o adversário é tática mais velha do que a Sé de Braga. Lembra a resposta do afogado, que no desespero tenta arrastar para as funduras  seu prospectivo salvador.
        De resto, basta olhar à volta – Argentina e Venezuela são bons exemplos – para indicar que o caminho das pedras não é por aí...

 
Ainda o discurso de Dilma

 
         Não se vá esperar de candidato de oposição que elogie o governo. Embora não tenha procuração da Presidenta para defende-la, parece-me, no entanto,  que o senador Aécio Neves escolheu mal no caminho das censuras, ao acusar Dilma Rousseff de silêncio sobre a tragédia do Espírito Santo.
         O que parece óbvio é que Dilma gravou a alocução de Ano Novo antes de partir de férias para a Bahia. Não poderia, assim, referir-se a uma situação que só se agravaria nos dias sucessivos.

 
Estranha Sentença

 
         O juiz Alexandre Teixeira de Souza, da 4ª Vara Cível de Petrópolis declarou nulo, por sentença, o processo de tombamento do Instituto  Estadual do Patrimônio Cultural (Inecpac)  de 1991. A decisão judicial põe em risco centenas de imóveis históricos na cidade imperial.
         Dentre os imóveis tombados pelo Inepac estão prédios importantes como a Agência Central  dos Correios e Telégrafos, o Colégio Dom Pedro II, o antigo Cine Petrópolis (na rua do Imperador) e o Teatro Municipal Dom Pedro, na Praça dos Expedicionários.

         A sentença foi baixada no dia dezesseis de dezembro, em favor da proprietária de imóvel na rua Coronel Veiga 424, que está incluído no conjunto protegido pelo Inepac.
        A propósito, merece transcrição a  declaração da representante da Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico (AMA), Myriam Born:

        É uma irresponsabilidade do Judiciário. Um juiz não pode abrir um precedente como este em uma cidade como Petrópolis, onde há um enorme assédio da especulação imobiliária. Não conheço o imóvel alvo da ação, mas esta decisão pode trazer consequências muito graves para a cidade. A sociedade que sempre lutou contra a ferocidade da especulação está apavorada, porque essa decisão deixa Petrópolis indefesa. Ela é uma afronta a todos nós que lutamos há anos pela preservação do patrimônio. Ela é o decreto do fim da cidade, que já sofre com a falta de fiscalização nos imóveis tombados.”

 
Uma Crise Previsível

 
         Os atentados de Volgogrado ( a antiga Stalingradoo de domingo, 29, com a explosão em estação ferroviária e dezessete mortos; e o de segunda, trinta, e a explosão de ônibus, e catorze mortos) não provocaram uma pronta reação do Presidente Vladimir Putin, o que só fez mais tarde.
         As nuvens sobre os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi persistem. Há muitas razões que militam contra a oportunidade de realizá-los nessa localidade ao sul da Rússia, próxima do Mar Negro e da Georgia. Entre essas, fatores meteorológicos que não a tornam o sítio ideal para esportes invernais.

         Tais motivos ora se afiguram menos importantes, do que a insurreição na Tchetchênia, com a ameaça que o desespero dos atentados suicidas venha a representar.
         Ora Putin vem afinal assinalar todo o empenho do Estado russo em estabelecer o rigor securitário. Sem embargo, a segurança dos atletas e do público continua em jogo, dada a proximidade do enclave terrorista que continua a existir no Norte do Cáucaso, a despeito dos bilhões de dólares gastos para erradica-lo (como assinala Leonid Bershidsky, do Moscow Times).

 
(Fontes: O  Globo, Folha de S. Paulo)

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