terça-feira, 31 de março de 2020

Miriam Leitão e o Risco Duplo


                                 
        Visitar os colaboradores de um jornal corresponde a uma espécie de avaliação da qualidade do órgão de imprensa. Tenha cuidado, leitor,  no entanto, diante de tal assertiva.Em toda obra humana, o equilíbrio e a abrangência são fundamentais.
         Além de ser, por exemplo, risível a circunstância de inserir algum jornalista de nomeada, em órgão de imprensa marcado pela mais burocrática mediocridade, na esperança de que vá transformar a imagem daquele diário, e dar-lhe o peso da relevância, não se estará dizendo nada de novo ou surpreendente, se tivermos presente que entre medíocres aquela presença não fará outro efeito do que a passagem de um cometa. Nada mudará, porque o que faz o sucesso de um meio de comunicação é a sua qualidade, e tal pressupõe, decerto, equilíbrio, abrangência e coerência, para ficarmos em qualidades essenciais, cuja ausência se reflete sobre a credibilidade da informação.
          Haverá outros tópicos, mas para a minha modesta impressão, se a qualidade é necessária, a ausência dos atributos acima referidos importaria em lacunas que não são consentâneas em grandes veículos de informação.
          O Rio de Janeiro já teve muitos jornais de peso. A resistência no tempo dos grandes veículos da informação impressa, diante dos múltiplos desafios colocados pelos meios de comunicação eletrônica, está decerto sujeita a um número crescente de obstáculos, diante da concorrência da televisão, e das dificuldades colocadas pela evolução da sociedade pós-moderna. O Rio já teve uma pletora de jornais que até trouxeram melhoras e atualizações na qualidade gráfica, como foi v.g. a Última Hora, outros que, sem serem pasquins, estavam muito ligados ao personalismo político, como é o caso da Tribuna da Imprensa, com o tribuno Carlos Lacerda, cujo vitriólica palavra provocou alguns estragos. Lacerda envolveu-se em muitas conspirações, mas emudeceu por um tempo pelo suicídio de Vargas. Como já disse em outro lugar, foi na fila da edição especial sobre a morte de Getúlio Vargas pelo então vespertino  O Globo, que ouvi,na fila de espera para adquirir a sua edição extraordinária, a frase trocada entre dois jovens mais velhos do que eu, os quais me pareceram udenistas : "dizem que a carta é apócrifa". Apesar de bastante jovem, sempre fui partidário de Getúlio, e não tive dúvidas ao escutar o comentário,  cujo sentido então desconhecia, que decerto não era favorável àquele grande presidente...   A imprensa no Rio de Janeiro viu crescer a relevância de outros grandes jornais, como o Correio da Manhã, de Paulo Bittencourt, isto muito antes da chamada redentora instaurar uma versão de terrorismo cultural, com a censura, que chegou a ser instalada nas próprias redações se acaso fossem de oposição ao regime militar.
          Como depois se verificou, o suicídio de Getúlio e a sua carta-testamento (que nada tinha de falsa) passaram a dominar o panorama político, primo durante o governo do vice (Café Filho), que aderira à oposição. A presença de Vargas - a despeito dos jornais oposicionistas (apenas defendia o presidente anterior a Última Hora, de Samuel Wainer), pelo apoio popular que tinha, acrescido ainda pelo trauma do seu trágico fim, como que inviabilizara o governo de seu vice infiel (Café Filho), e cerca de um ano e meio após, a calma do Posto Seis presenciou o desenvolvimento de outro golpe militar, este encabeçado pela facção do general Lott, que poria um tanque na portaria do prédio em que vivia o então presidente, e pouco depois ouvi o estrondo de um canhão do Forte de Copacabana, que visava o cruzador Barroso, e que felizmente errou a pontaria (nesse navio de nossa marinha de guerra viajava com Café Filho a facção contrária àquela do general Lott, que encabeçara o movimento de restabelecimento dos quadros institucionais vigentes, o que trocado em miúdos, apoiava a volta ao processo constitucional e às eleições). Diga-se de passagem que por morar então em prédio no posto seis, a duas quadras do edifício em que residia o vice Café Filho, se o comandante do Barroso houvesse decidido responder ao canhonaço do Forte, não seria de excluir que o autor dessas linhas de testemunha da história aqui não estivesse, dada a potência dos canhões do cruzador. Por felicidade, prevaleceu o bom senso e se evitou a represália, que traria a destruição a uma extensa área do Posto Seis em Copacabana, a qual só mais tarde deu-se conta do perigo que atravessara ...           
             Mas voltemos à colunista econômica Miriam Leitão, a que já tive a oportunidade de manifestar, através desse modesto blog, a boa impressão que me causam as suas avaliações tanto de economia, quanto de política.
              Para infelicidade do presidente Bolsonaro, venho de assistir, através do Fantástico, uma impressionante resenha de o que significa, no campo mundial, a presença do cronavírus (ou da Covid-19), para dar apenas um dos muitos nomes com que se veste este flagelo que faz a muitos relembrarem o que já provocara no Brasil outro virus, como o que recebeu o nome de Gripe Espanhola, logo após terminasse a carnificina da Iª guerra mundial.
               Ao invés de praticar as loucuras (ou sandices) de sair em público e de realizar  tudo aquilo que os profissionais médicos recomendam não faça, dada a gravidade dessa enfermidade, e as consequências que pode causar  para si e para os seus familiares esse gesto impensado e imprudente, quero crer que seja urgente que Vossa Excelência tenha bem presente o cuidado que os Estados Unidos do Presidente Trump estão dispensando a essa pandemia. Todos aqueles que, na Itália ou na Espanha, se meteram na cabeça que essa praga não se devia levar a sério, sofreram consequências  graves ou mesmo mortais que os seus concidadãos  não desejariam que caíssem sobre sua presidencial cabeça. O Ministro Mandetta, talvez por respeito disciplinar,  parece não o estar informando com a força e a clareza necessárias de o que Vossa Excelência teima em ignorar ou afrontar (o que seria no caso, ainda pior). Repense, por favor, Presidente, antes que seja tarde.
Nota.  Problemas de impressão retardaram a postagem do blog.  Somente hoje foi possível resolvê-los com a participação oportuna e competente de técnico em computação. Como o assunto continua atual e relevante creio que continue oportuno para publicação.

( Fonte;  O  Globo )

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