Em seu terceiro
discurso em rádio e TV sobre a Covid-19, o presidente Bolsonaro continuou a
manter posição que acintosamente discrepa daquela dos governadores e do grande
público nacional.
Diante desse enorme desafio à
coletividade brasileira - desafio este que é mundial, como o demonstra, dentre
outros, a mortandade na Itália, notadamente na Lombardia, e a crise no
atendimento já refletida na Espanha - é de estranhar que o presidente se
obstine em falar de "gripezinha", o que semelha incompreensível deboche de um flagelo, que na História só vê
levantar-se a horrenda figura da chamada gripe
espanhola, que seria o carrasco de
uma geração, em época de ainda profunda ignorância quanto aos meios científicos
de debelar o fenômeno que foi o terror espalhado pelo contágio dessa peste, a praga
dos morticínios e das incríveis condições da higiene nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial. Dentre os mais velhos,
quem não terá antepassado que haja caído vítima desta maldição das
trincheiras e do cruel e traiçoeiro despertar de tais epidemias, em época de
escassos, quase nulos, meios tecnológicos para lidar com tal terrível desafio,
no sentido toynbeeano[1]
do termo?
Há várias teorias daqueles que
não temem mergulhar nas profundezas dos raciocínios, por vezes delirantes, que
se empenham em trazer para as áreas do bom senso e da consequente imperiosa
necessidade de arrostar esse desafio à nossa cultura e à nossa civilização. Se
todas as gerações se vêem ameaçadas por tal flagelo que vem abatendo mais
pessoas na Itália do que na China, ninguém tem o direito de debochar desse
monstro que é o cronavirus, que tem carregado, no seu sinistro carrinho, os
cadáveres de tantas crianças, homens e mulheres.
A tal respeito, vendo essas
mostras levianas que partem de personalidades em que se estimaria encontrar as
palavras do bom senso, me vem à mente a comparação entre a crítica ao
fechamento das escolas e o menosprezo à chamada "gripezinha".
Não trepido um só instante
entre preferir o bater das caçarolas e das panelas pelo Povo justamente
enraivecido, a essas posturas negacionistas irresponsáveis, que, ao parecer, julgam
possível servir-se da morte como parceira.
(
Fontes: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo )
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