A questão, na verdade, não é nova. Após o
anúncio de Âncara que não mais impediria o fluxo de imigrantes rumo à Europa,
Grécia e Bulgária fecharam incontinente as respectivas fronteiras, e dessarte
passaram a barrar viajantes procedentes da Turquia.
Este sinistro jogo aduaneiro faz semanas
que está anunciado. Dessarte, o governo de Atenas anunciou ter impedido quatro mil imigrantes vindos da Turquia de
adentrarem seu território. Consoante a
Organização internacional para as Migrações (agência da ONU) o número pode ser
maior, visto que cerca de treze mil pessoas estão ao largo dos 212 km de fronteira, entre a Turquia e o
antigo território do sul da Síria.
Essa nova onda migratória está motivada
pelos atuais confrontos em Idlib, na Síria. Esse enclave é o último reduto dos
rebeldes sírios, a que pensa pôr fim o ditador da Síria, Bashar al-Assad (que,
na verdade, é aliado e vassalo de Putin, presidente russo). Como já referi, o "aliado"
de gospodin Putin, al-Assad, está em vias de recuperar o seu poder dito soberano sobre o
que falta ainda ser-lhe submetido, achando-se assim pela indiferença do
Ocidente - o tema já foi por mim sobejamente desenvolvido - à implementação da
respectiva restauração, a qual implicará não poucos padecimentos ao povo sírio
afetado.
Milhares de sírios fugiram diante do
avanço das tropas de Assad, e parte delas para território turco. Como Âncara pretexta não ter condições de
receber mais refugiados, o governo turco, de Recep Tayyip Erdogan, pressiona a Europa para obter ajuda.
Dessar-te, entre a Turquia e a Grécia, a situação é tensa. Milhares de
pessoas se aglomeram na esperança de adentrar território grego, e assim escapar,
tanto do turco Erdogan, quanto do sírio al-Assad. Embora eles representem outra
realidade, os policiais helênicos disparam gás lacrimogêneo e os migrantes lançam pedras. Milhares de
migrantes, inclusive afegãos, iraquianos e sírios, passam a noite na
fronteira, reunidos em torno de improvisadas fogueiras.
Nesse também improvisado limite - aí
se mistura a fumaça das migrantes fogueiras com as nuvens de gás lacrimogêneo
- os refugiados,escorraçados e desesperados,
espreitam o momento em que, imaginam, a sorte lhes permitirá passar. "Se
não reabrirem a fronteira, tentaremos atravessá-la clandestinamente. Fora de
questão, voltar para Istambul", disse um refugiado.
Migrante egípcio - que pediu
anonimato - disse que aguarda uma decisão da "padroeira da União
Europeia" Ângela Merkel. É
conhecido o episódio em que a Primeiro
Ministro germânica permitira
entrada franca na Alemanha de cerca de um milhão de sírios, no auge da crise
humanitária, com o que se contrapunha ao egoismo prevalente na União Europeia,
que, diante da miséria de um povo, mais preferia a resposta do Primeiro
Ministro húngaro Viktor Orbán, do que abrir as cancelas, como faria a Merkel,
armada apenas de sua humanitária coragem.
Em 2016, a Turquia
assinara um acordo com Bruxelas para
reduzir o fluxo de migrantes. Não obstante agora Erdogan ameaça romper esse
pacto, para obter apoio no que tange à guerra síria.
Como se fora castigo, a Turquia, na
última quinta-feira, 27 de fevereiro, sofreu as mais pesadas baixas desde o
início de sua intervenção em território sírio. Morreram 33 soldados turcos,
abatidos em ataques aéreos atribuídos ao regime de Assad, apoiado pela Rússia, no noroeste do país.
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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