sexta-feira, 27 de março de 2020

Em tempos de peste o cardápio é um só ?


                               

         Em tempos como os do presente, temos que vestir-nos da prudência dos primeiros exploradores, daqueles, meus caros leitores, que na célebre imagem camoniana, foram por mares nunca de antes navegados, vestidos de simples, máscula coragem, e que ao enfrentar perigos e guerras esforçados, passaram ainda além da Taprobana.

         A par da coragem, temos de armar-nos, por isso, daquela velha e calejada prudência, que nos aconselha a fiar-se no conhecimento, pois ambos são companheiros de longa data daqueles viajores em terras ignotas, como o é este mundo que costuma desvelar a jóia da ciência àqueles que não só a respeitam, mas também fazem por merecê-la.

          Vivemos por fortuna numa época em que os perigos deixaram muita vez de envolver-se nos pesados panos da ignorância ou de sua irmã, a intolerância, eis que encontramos à nossa volta o rosto bondoso de mãe-ciência, que nos aconselha, em preito aturado, a não descurar desta nossa segunda mãe, que com modos severos nos aponta o caminho da ciência como aquele da salvação.

             Nesse mundo, vasto mundo de tantas tropelias, devemos fugir dos cretinos e da grei dos irresponsáveis aproveitadores da ignorância, e, sobretudo, daqueles que repudiam ciência e conhecimento.

            As pestes podem ter nomes diversos,  mas todas temem a mão segura da ciência e, sobretudo, do conhecimento. Vejam, ilustres passageiros, o que aconteceu com aqueles que escutaram em Bérgamo a voz da ignorância, ao invés da cautela e dos cuidados da ciência.  Em tempos de peste, pululam, por desgraça, tanto os fracos, quanto os incautos e os ignaros, que dão ouvido a irresponsáveis, que privilegiam a superstição à ciência da medicina.  E, por isso, ao invés do reconforto da cura,  a colheita de Bérgamo ficou por conta de soturnos, pesados caminhões, que, sob o manto cúmplice da noite,  levaram a sua carga nefanda de desgraças com os seus muitos mortos para o cemitério.

              E por quê não ouviram a ciência do Dr.Silvio Garattini que, com a sua luz de vida e experiência, privilegia o recurso à prudência e à quarentena?


( Fontes: Luiz de Camões, Carlos Drummond de Andrade, Dr. Silvio Garattini).

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