Quem,
em pessoas de minha geração, não ouviu na infância comentários e observações de seus familiares sobre a
chamada gripe espanhola ? Ainda
criança, ouvia de meus avós e de minha mãe - a morte por acidente aeronáutico
de meu pai não o inclui entre essas testemunhas do pós-primeira guerra - a
menção a vários parentes - entre eles a primeira esposa (Maricota) de meu avô materno
Antonio Mendes Filho - que tinham sido levados por esse flagelo da segunda década do
século vinte.
Com efeito, as
comparações se acumulam, mas a pandemia da gripe espanhola de 1918 continua a
ser a mais letal da história, muito à frente do novo coronavírus. Depois da
carnificina das trinchei-ras, ela matou pelo menos cinquenta milhões de pessoas
em todo o mundo, o equivalente a cerca de duzentos milhões hoje, sendo meio
milhão delas habitantes dos Estados Unidos.
Talvez o mais alarmante é que a maioria dos mortos pela doença estava no
auge existencial - geralmente entre vinte e quarenta anos- e não idosos ou
pessoas com a imunidade enfraquecida.
Segundo assevera o New York Times,
mesmo com a atmosfera de medo - com o uso de máscaras cirúrgicas, armazenamento
de alimentos e assembleias públicas sobre a prevenção da doença - e possíveis
consequências econômicas similares às de 1918, a realidade médica é bem
diversa. "Enfermeiras costumavam
dar de cara com cenas que remetiam às
dos anos da praga do século XIV",
segundo escreveu o historiador Alfred W.Crosby em "America's Forgotten Pandemic".
Como assinala o artigo do New York Times, em 1918, o mundo era um
lugar muito diferente. Os médicos sabiam
que existiam vírus, mas nunca haviam visto um - não existiam microscópios
eletrônicos, e o material genético dos vírus tampouco havia sido
descoberto. Hoje, sem embargo, os
pesquisadores não só sabem como isolar, mas conseguem identificar sua sequência
genética, testar medicamentos antivirais e desenvolver vacinas. No passado, era impossível testar pessoas com
sintomas leves para que pudessem ser colocadas voluntariamente em quarentena. E
era quase impraticável fazer o rastreamento do contágio, pois a gripe parecia
infectar - e causar pânico em - cidades e comunidades de uma só vez. Isso sem falar na escassez de equipamento de proteção para os
profissionais da saúde. Tampouco existiam aparelhos com respiradores, que podem
ser usados por doentes graves hoje.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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