O coronavírus
tenderá a atrapalhar os planos de gospodin Putin que pretendia transformar,
dentro de seu estilo autoritário-personalista, o corrente ano de 2020 em uma
espécie de apoteose de suas duas décadas no poder.
Dada a situação internacional, e os avanços da Covid-19 em outros países, cresceu
o desconforto - sobretudo na Rússia - e a suspicácia no exterior, diante do
baixo número de infecções pelo vírus, afinal os segmentos competentes do Estado
sob as ordens de Vladimir Putin acabaram por reconhecer no dia 24 do corrente que tal se deve à
subnotificação por falta de exames.
O
estado presidido por Putin, dentro da linha autoritária por ele privilegiada, seria
candidato natural para que - ao contrário da grande maioria dos países -
houvesse uma diminuição estatística
da temível presença da Covid-19. Na mão do estado de Putin pesa o legado
autoritário que obedece não aos interesses da população, mas àqueles de suposto
"prestígio", dentro do formato do Estado "forte" que
caracteriza a atual governança.
Assim, o governo russo
admitiu a 24 do corrente, que tal se
deve à subnotificação por falta de exames.
Nessas condições, disse o prefeito de Moscou, Sergei Sobianin,
coordenador nacional dos esforços contra
a pandemia: "O número de doentes é significativamente mais alto. Ninguém sabe (...), afirmou, segundo a Tass."
As
atuais características da governança de Putin explicam o mistério - ou melhor
dizendo - a baixa valorização da realidade estatística. Não surpreende,
portanto, que o Estado russo, com sua herança autoritária, valorize a
subnotificação dos casos da doença, dadas as deformações estatísticas
condicionadas por considerações de "prestígio" nacional. No artigo de Igor Gielow se aponta o caso do
jornalista Iuri - que pede para não revelar o sobrenome - sendo exemplo da
aplicação da chamada subnotificação: apesar de ter sintomas (febre e tosse por
duas semanas), foi informado de que não seria testado para a Covid-19,porque os
seus sintomas eram leves e os kits são
destinados a quem for internado.
Sem
embargo, a pandemia originária da China (Wuhan) promete atrapalhar as
cerimônias relacionadas com as celebrações ligadas ao ciclo Putin. Com a usual
manobra na Duma, que a Corte Constitucional chancelou, ele poderá disputar um
quinto e - quem sabe? - um sexto mandato à frente do Kremlin. A prorrogação no poder exigirá um referendo.
Marcada para 22 de abril, mas o porta-voz Dmitri Peskov já disse que a consulta
será adiada devido à emergência da pandemia. Quem sabe em junho, Putin verá
atendida a sua aspiração (que é superar a permanência no poder do camarada Jossif Stalin).
A outra data - também importante para gospodin
Putin - é o nove de maio, que celebrará os 75 anos do triunfo da União
Soviética sobre a Alemanha nazista na IIª Guerra Mundial. O quê fazer diante da epidemia da Covid-19 e a imprevisível situação sanitária ? Como organizar as festividades - com a
presença de líderes estrangeiros?
Especula-se na fórmula de colocar quinze mil soldados e quatrocentos
veículos militares nas largas avenidas moscovitas, com a condição de não haver
público...
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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