terça-feira, 24 de março de 2020

Crise institucional no horizonte ?


        
       Segundo noticia o Estado de S. Paulo, a principal empresa de consultoria do mundo para avaliação de risco político, a Eurasia mudou para pior as perspectivas do Brasil.

           Com efeito, até a pandemia do coronavírus chegar ao Brasil, essa consultoria acreditava que, apesar da beligerância do presidente Jair Bolsonaro, o Congresso progredia no sentido da aprovação de reformas que conduziriam a maior crescimento econômico, alimentando um ciclo virtuoso, a longo prazo, para o país."Esse ciclo se quebrou", diz Christopher Garman, diretor da consultoria para as Américas. "E poderemos ter um ciclo vicioso."
           Para Garman, por causa dos desdobramentos da crise do coronavírus, o País pode correr, inclusive,  o risco de um conflito institucional mais sério, se o presidente Jair Bolsonaro, em reação a um enfraquecimento político, continuar a apelar à retórica anti- política. Nesse contexto, tudo vai depender, na sua avaliação,  de como será a reação do Palácio do Planalto, nas próximas semanas, ao aumento da propagação da doença.  Para o analista, a postura inicial do governo foi "desastrosa", mas ainda há tempo  para ele tentar se recuperar.
            E acrescenta: "Os momentos mais dramáticos, do ponto de vista econômico e social, ainda estão por vir. Os maiores testes, também."

            Perguntado sobre as perspectivas do cenário, Garman respondeu: "Nós poderemos ter crescimento baixo; um presidente que reage ao seu enfraquecimento, indo às suas bases e reforçando a retórica anti-establishment contra a classe política e uma classe política desesperada com as suas perspectivas de reeleição em 2022. Então a coalizão reformista no Congresso também poderá se fracionar. Aquele cenário de que aprovar reformas era do próprio interesse dos parlamentares, com um presidente um pouco mais tranquilo da sua posição política e com um ciclo virtuoso de reformas e crescimento econômico se auto-alimentando, esse ciclo foi quebrado. E poderemos ter um ciclo vicioso."

           Inquirido sobre se existe possibilidade de um conflito institucional sério mais à frente, assim respondeu o analista: "Essa hipótese, com certeza, entrou no radar.  É isso que queríamos sinalizar com um downgrade a longo prazo. O cenário político que virá depois da crise vai depender muito de o que  acontecerá nos próximos dois, três meses. Os momentos mais dramáticos, do ponto de vista econômico e social, ainda estão por vir. Os maiores testes, também. O governo está fazendo uma mudança, mas a avaliação de como ele passará por esses testes vai depender da agressividade das medidas."

              Por fim, perguntado sobre como avalia as medidas tomadas até o presente, Christopher Garman respondeu: As primeiras iniciativas foram tímidas.  Acredito que a ajuda às famílias e às empresas vai aumentar muito. A pergunta é se o governo vai liderar esse processo ou não. Se for tímido, o Congresso vai agir com propostas mais agressivas. Então, o risco de haver medidas não coordenadas ou que acarretem gastos permanentes na estrutura fiscal aumenta. O ideal é que o governo tome medidas muito agressivas, mas com uma estrutura de gastos temporária, de modo que a dinâmica fiscal possa ser equilibrada, quando passada a crise.  Para isso funcionar, eles precisam estruturar essas propostas e colocar uma bala muito forte.  Eles estão agindo nessa direção, mas estão ainda atrás da curva. O perigo é que errem na dosagem.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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