Segundo
Celso Lafer, ex-ministro das
Relações Exteriores nos governos de Collor e de FHC, afirmou ontem, nove de março, que a
diplomacia do governo Bolsonaro rompe com a tradição do Itamaraty por ser de "enfrentamento".
"A política externa que Bolsonaro conduz é uma diplomacia de
combate. A tradição do Brasil é a diplomacia de cooperação, que traduz
necessidades internas em possibilidades
externas", declarou Lafer na sua aula inaugural para alunos do Instituto
de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP).
" Cooperação entende-se, por exemplo, como a solução pacífica de
controvérsias, a prevalência dos direitos humanos e a não-intervenção."
São "princípios que embasam a tradição diplomática no Brasil e não se
inserem, com elegância hermenêutica, na diplomacia de combate."
Segundo explicou o Professor da Faculdade de Direito da USP, "em um
cenário internacional complexo - com tensões nas altas esferas de poder, como a
disputa entre EUA e China e os conflitos no Oriente Médio - é preciso promover
o diálogo."
Nessa linha de raciocínio, o professor Celso Lafer continuou "não
tem como resolver esses assuntos a não
ser mediante um esforço de entendimento. Uma diplomacia construtiva, como o
Brasil deveria fazer e é de sua tradição, seria importante para ajudar a criar
um clima nesse sentido."
Sob o mesmo ângulo, o ex-chanceler destacou ainda que ao Brasil
interessa o bom funcionamento do sistema internacional e ressaltou que o País
tem construído sua participação global por meio de sua vocação pacífica. Para
o Professor Lafer, a política de combate
"afasta e não agrega, mais subtrai do que qualquer outra coisa". Nesse sentido, acrescentou o professor
:" o Presidente conduz sua estratégia de governo da mesma maneira como
conduziu sua estratégia eleitoral: pela polarização."
Sob tal premissa, Lafer afirmou
que é pouco provável alcançar um expressivo número de membros da comunidade
internacional com tal abordagem. Nesse contexto, o professor da USP também citou a vinculação entre Bolsonaro e
Donald Trump, qualificada como "excessiva" e que "não
contribui para a maior presença do Brasil no mundo".
Sobre meio ambiente, Lafer indicou que a posição do Brasil afeta as
negociações, como o acordo Mercosul-União Europeia. "A maneira pela qual
o governo conduz a temática tende a fortalecer a resistência."
O ex-Ministro das Relações Exteriores Celso Lafer também citou a reação
dos consumidores e de fundos de investimento ao não comprarem e não investirem
em companhias caso desaprovem seus padrões de sustentabilidade : "É muito
significativo e traduz uma restrição de recursos para o Brasil."
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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