Em momento de desaceleração da economia
e muita incerteza por causa do avanço do
coronavirus, o Congresso Nacional impôs
ulterior derrota ao governo Bolsonaro, ao criar fatura adicional de R$ 20 bilhões
anuais, por meio da ampliação do alcance do benefício assistencial à baixa
renda.
Para a
equipe econômica, o resultado da votação ganhou contornos de crise para o
governo Bolsonaro. Nesse contexto desastroso de derrubada de um enésimo veto
presidencial, a equipe econômica do governo prevê ulterior dificuldade para
fechar as contas, diante de um cenário de queda na arrecadação e da necessidade
de frear gastos com custeio e investimento.
A
falta de diálogo entre o poder executivo e o Legislativo vem produzindo uma
colheita desastrosa em que os vetos presidenciais fracassam, e o resultado
inexorável é o aumento da conta a ser paga pela Nação.
O
Presidente Bolsonaro, ao não empenhar-se em criar uma relação construtiva com o
Legislativo, e ao invés fiar-se em uma sucessão de vetos que só seriam
realistas e, portanto, efetivos se houvesse de parte do Executivo uma atitude
pró-ativa, na qual se privilegiasse o trabalho político quanto as vantagens
para o Povo de uma política em que se criasse um entendimento mais amplo e
equilibrado de o que cabe tanto ao Executivo, quanto ao Legislativo, no sentido
desse entendimento amplo, em que, ao invés de atitudes confrontativas ( como a
ameaça de movimentos de rua contra o Legislativo ) se desenvolvesse o diálogo
entre os Poderes.
Esse tipo de diálogo, como é notório, não se constrói com posturas de
ataque e confrontação. O Povo brasileiro está interessado não na vitória seja
do Executivo, seja do Legislativo, mas que ambos os poderes trabalhem de forma coordenada, após o
necessário exame conjunto dos problemas que nos afetam a todos. Para que a razão prevaleça, deve haver trabalho de parte a parte, com
vistas à conscientização de o que carece de ser realizado. Não será através de ataques a instituições
que se garante o necessário equilíbrio das contas públicas, que é resultado de
trabalho de ambas as Partes, porque
Executivo e Legislativo devem conscientizar-se em que o Bem Público, não
é um maná que caia sobre o povo, mas o resultado de um esforço e de um denodo
de consultas e negociações, que respondem a imperativos tão inexoráveis, quanto
respeitáveis.
Não se decreta assim a prosperidade com uma política negativa que se
nega a examinar o que, numa situação em
que duas proposições se colocam,
representa o interesse do Povo brasileiro. O confronto só tende a criar, através da
animosidade, uma postura que considera como inimiga a parte adversária, quando,
na verdade, ambas as partes ao
perseguirem o mesmo fim, estão implicitamente negando qualquer valia a atitudes
que se contrapõem, ao invés de buscarem pelo diálogo e a recíproca análise das
vantagens respectivas qual é o
verdadeiro núcleo a ser perseguido e sempre através do entendimento e do
aprofundamento das posturas em exame.
Enquanto poderes do Estado do Brasil, manda a inteligência e a
experiência de administrações exitosas do passado que será somente através do mútuo
consenso que será factível alcançar o progresso. É através dessa ordem, que os
fundadores da República cuidaram de ornar a nossa bandeira, que o avanço social
se torna não só possível, mas também viável.
E na política com P maiúsculo não há atalhos, nem poções milagrosas, nem
tampouco a ideia absurda de que Poderes unidos em torno de tantos princípios, a
começar pela nossa Federação na República, possam de alguma forma avançar e
produzir resultados dignos de tal nome, se não através de um empenho sincero e
bem-intencionado em que os representantes desses Poderes se conscientizem que
não será através de diktats, nem com a intenção - vazia e mesmo estulta
- de que um Poder possa ao cabo não só prevalecer, mas prosperar através do
embate e da visão que confunde o parceiro como se fora um inimigo. Os três poderes se complementam e não há
visão nem práxis que possa considerar os Poderes da República como adversários.
Na verdade, no entendimento mais comezinho, eles são representantes de um só
Poder. que é o Povo brasileiro. Só através da união, do respeito mútuo e da
negociação voltada para somar esforços, e não para contê-los ou embaraçá-los, é
que haverá base para essa magnífica construção que é a de um Brasil em que os
respectivos poderes constitucionais não perdem nunca de vista a visão de
Brasil de contas equilibradas, e em que os diversos partícipes tenham a clara
noção que tudo poderão obter através da cooperação - expressa nas posições de
Executivo e Legislativo - e nunca pelos
ínvios caminhos da confrontação - que é necessariamente negativa e que
só leva à desolação, e aos solitários, e
por conseguinte, inúteis trabalhos de um Hércules que se compõem de muitas
partes, se lermos com o cuidado e atenção que merece, o nosso livrinho
constitucional, no qual a equação da ordem e do progresso resulta não da vazia
confrontação mas de um esforço conjunto e por conseguinte aguilhoado pelas boas
intenções de um trabalho que só persegue o Bem do Brasil, e este preciosíssimo Bem é resultado da cooperação,
tão larga quanto possível, e tão bem intencionada quanto desejável, porque quem a reclama, e a Nós todos, é o próprio Brasil.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, Folha de
S. Paulo e O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário