Visitar os colaboradores de um jornal
corresponde a uma espécie de avaliação da qualidade do órgão de imprensa. Tenha
cuidado, leitor, no entanto, diante de
tal assertiva.Em toda obra humana, o equilíbrio e a abrangência são
fundamentais.
Além de ser, por exemplo, risível a
circunstância de inserir algum jornalista de nomeada, em órgão de imprensa
marcado pela mais burocrática mediocridade, na esperança de que vá transformar
a imagem daquele diário, e dar-lhe o peso da relevância, não se estará dizendo
nada de novo ou surpreendente, se tivermos presente que entre medíocres aquela
presença não fará outro efeito do que a passagem de um cometa. Nada mudará,
porque o que faz o sucesso de um meio de comunicação é a sua qualidade, e tal
pressupõe, decerto, equilíbrio, abrangência e coerência, para ficarmos em
qualidades essenciais, cuja ausência se reflete sobre a credibilidade da
informação.
Haverá outros tópicos, mas para a
minha modesta impressão, se a qualidade é necessária, a ausência dos atributos
acima referidos importaria em lacunas que não são consentâneas em grandes
veículos de informação.
O Rio de Janeiro já teve muitos jornais
de peso. A resistência no tempo dos grandes veículos da informação impressa,
diante dos múltiplos desafios colocados pelos meios de comunicação eletrônica,
está decerto sujeita a um número crescente de obstáculos, diante da
concorrência da televisão, e das dificuldades colocadas pela evolução da
sociedade pós-moderna. O Rio já teve uma pletora de jornais que até trouxeram
melhoras e atualizações na qualidade gráfica, como foi v.g. a Última Hora, outros que, sem serem
pasquins, estavam muito ligados ao personalismo político, como é o caso da Tribuna da Imprensa, com o tribuno Carlos Lacerda, cujo vitriólica palavra
provocou alguns estragos. Lacerda envolveu-se em muitas conspirações, mas
emudeceu por um tempo pelo suicídio de Vargas. Como já disse em outro lugar,
foi na fila da edição especial sobre a morte de Getúlio Vargas pelo então
vespertino O Globo, que ouvi,na fila de espera para adquirir a sua edição extraordinária,
a frase trocada entre dois jovens mais velhos do que eu, os quais me pareceram
udenistas : "dizem que a carta é apócrifa".
Apesar de bastante jovem, sempre fui partidário de Getúlio, e não tive dúvidas
ao escutar o comentário, cujo sentido
então desconhecia, que decerto não era favorável àquele grande presidente... A imprensa no Rio de Janeiro viu crescer a
relevância de outros grandes jornais, como o Correio da Manhã, de Paulo
Bittencourt, isto muito antes da chamada redentora instaurar uma versão de terrorismo cultural, com a censura, que chegou a ser instalada nas
próprias redações se acaso fossem de oposição ao regime militar.
Como depois se verificou, o suicídio
de Getúlio e a sua carta-testamento (que nada tinha de falsa) passaram a dominar o panorama político, primo durante o governo do vice (Café Filho), que aderira à
oposição. A presença de Vargas - a despeito dos jornais oposicionistas (apenas
defendia o presidente anterior a Última
Hora, de Samuel Wainer), pelo apoio popular que tinha, acrescido ainda pelo
trauma do seu trágico fim, como que inviabilizara o governo de seu vice infiel (Café Filho), e cerca de um
ano e meio após, a calma do Posto Seis presenciou o desenvolvimento de outro
golpe militar, este encabeçado pela facção do general Lott, que poria um tanque
na portaria do prédio em que vivia o então presidente, e pouco depois ouvi o
estrondo de um canhão do Forte de Copacabana, que visava o cruzador Barroso, e
que felizmente errou a pontaria (nesse navio de nossa marinha de guerra viajava
com Café Filho a facção contrária àquela do general Lott, que encabeçara o
movimento de restabelecimento dos quadros institucionais vigentes, o que
trocado em miúdos, apoiava a volta ao processo constitucional e às eleições). Diga-se
de passagem que por morar então em prédio no posto seis, a duas quadras do
edifício em que residia o vice Café Filho, se o comandante do Barroso houvesse
decidido responder ao canhonaço do Forte, não seria de excluir que o autor
dessas linhas de testemunha da história aqui não estivesse, dada a potência dos
canhões do cruzador. Por felicidade, prevaleceu o bom senso e se evitou a
represália, que traria a destruição a uma extensa área do Posto Seis em Copacabana, a qual só mais tarde deu-se conta do
perigo que atravessara ...
Mas voltemos à colunista econômica
Miriam Leitão, a que já tive a oportunidade de manifestar, através desse modesto
blog, a boa impressão que me causam as suas avaliações tanto de economia,
quanto de política.
Para infelicidade do presidente
Bolsonaro, venho de assistir, através do Fantástico, uma impressionante resenha
de o que significa, no campo mundial, a presença do cronavírus (ou da
Covid-19), para dar apenas um dos muitos nomes com que se veste este flagelo
que faz a muitos relembrarem o que já provocara no Brasil outro virus, como o
que recebeu o nome de Gripe Espanhola, logo após terminasse a carnificina da Iª
guerra mundial.
Ao invés de praticar as loucuras
(ou sandices) de sair em público e de realizar
tudo aquilo que os profissionais médicos recomendam não faça, dada a gravidade
dessa enfermidade, e as consequências que pode causar para si e para os seus familiares esse gesto
impensado e imprudente, quero crer que seja urgente que Vossa Excelência tenha
bem presente o cuidado que os Estados Unidos do Presidente Trump estão
dispensando a essa pandemia. Todos aqueles que, na Itália ou na Espanha, se
meteram na cabeça que essa praga não se devia levar a sério, sofreram
consequências graves ou mesmo mortais
que os seus concidadãos não desejariam
que caíssem sobre sua presidencial cabeça. O Ministro Mandetta, talvez por
respeito disciplinar, parece não o estar
informando com a força e a clareza necessárias de o que Vossa Excelência teima
em ignorar ou afrontar (o que seria no caso, ainda pior). Repense, por favor,
Presidente, antes que seja tarde.
Nota. Problemas
de impressão retardaram a postagem do blog. Somente hoje foi possível resolvê-los com a
participação oportuna e competente de técnico em computação. Como o assunto
continua atual e relevante creio que continue oportuno para publicação.
(
Fonte; O Globo )