quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Trincheiras da Liberdade C 1


                      

         O líder do governo de Hong Kong, Leung Chun-ying, discursou perante a assembleia local. Televisado, foi  o seu primeiro pronunciamento público desde o término das manifestações de rua no mês passado.

         Mais uma vez, Leung reiterou o  propósito de por cobro à escassez de habitações, e estreitar as divisões existentes entre ricos e pobres. Em exercício desde 2012, o Chefe C.Y. Leung está consciente de que os protestos populares surgiram por essa causa, estendendo-se a manifestações pró-democracia, notadamente no que respeita à eleição por sufrágio popular do próximo líder de Hong Kong.

        Como funcionário que segue a linha do PCC em Beijing, o referido pleito teria de limitar-se, no entanto, a dois ou três candidatos previamente selecionados por  comitê formado de personalidades que obedeçam a  linha do governo chinês.

        Ao invés de candidatos apresentados por partidos independentes, como deseja a maioria da população, para o Sr. Leung o governo da lei, como fundação do poder em Hong Kong, deve inserir-se no processo democrático. Tal processo, no entanto, se enquadra em mecanismo legal que, na prática, seria negação da democracia, eis que o povo só poderia escolher entre candidatos que tenham o beneplácito do governo central. Para Leung, optar por um sufrágio aberto entre candidaturas livremente apresentadas seria forma de “levar Hong Kong a cair na anarquia”.

        A sinceridade de tais objetivos é colocada em dúvida pelos manifestantes do recente movimento, que  vêem o Sr.Leung como estreitamente ligado à elite empresarial pró-Beijing.

        É profunda, por conseguinte, a desconfiança na sinceridade da principal autoridade executiva. Nesse sentido, o seu discurso perante o Conselho Legislativo da Cidade foi interrompido aos berros por dois legisladores, que o acusaram de corrupção, pelo ganho ilícito de riqueza, e de trair os interesses da cidade. Os trabalhos só foram retomados depois desses dois representantes serem retirados à força do recinto.

        Para Chung Kim-wah, diretor do Centro de Estudos de Política Social na Universidade Politécnica de Hong Kong, “mais e mais gente acredita em que o sistema político esteja manipulado por interesses comerciais, o que leva a criar os problemas com que a região ora se defronta.” Na sua avaliação, o governo sem legitimidade política “não tem condições de avançar em algo que seja impopular.  Hong Kong vai ser muito difícil de governar.”

         É sério o problema da habitação em Hong Kong, o que resulta  da escassez da oferta – notadamente por causa das reduzidas dimensões da região. Os altos preços da propriedade beneficiam proprietários e grandes investidores. Segundo assinala o artigo do New York Times, o preço médio da habitação em Hong Kong corresponde a 14.9 vezes a renda  anual de casal de classe média, o que é mais alto do que qualquer outro mercado no mundo.

          Para C.Y. Leung, “a raiz de muitos problemas sociais e econômicos em Hong Kong está na escassez de terra”. No entanto, de acordo com os manifestantes pró-democracia, o Sr. Leung não tem mostrado muito apetite para mudanças que afetem aos mais ricos. No ápice dos protestos,  o governador da cidade disse que dar ao cidadão comum o livre poder de escolher os respectivos líderes daria à população pobre demasiada influência política.

           Conforme demonstrado,  o senhor Leung é um apparatchik que lá está para cuidar dos interesses do governo de Beijing. Vê-se, por conseguinte, quão afastada esteja, em termos ideológicos, a direção do Partido Comunista Chinês da promoção dos interesses daqueles extratos da população de que, segundo os respectivos princípios, deveria estar mais próxima...

 

( Fonte:  The New York Times )

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