O líder do governo de Hong Kong, Leung Chun-ying, discursou perante a assembleia local. Televisado,
foi o seu primeiro pronunciamento público
desde o término das manifestações de rua no mês passado.
Mais uma vez, Leung reiterou o propósito de por cobro à escassez de
habitações, e estreitar as divisões existentes entre ricos e pobres. Em
exercício desde 2012, o Chefe C.Y. Leung está consciente de que os protestos
populares surgiram por essa causa, estendendo-se a manifestações
pró-democracia, notadamente no que respeita à eleição por sufrágio popular do
próximo líder de Hong Kong.
Como funcionário que segue a linha do
PCC em Beijing, o referido pleito teria de limitar-se, no entanto, a dois ou
três candidatos previamente selecionados por comitê formado de personalidades
que obedeçam a linha do governo chinês.
Ao invés de candidatos apresentados por
partidos independentes, como deseja a maioria da população, para o Sr. Leung o
governo da lei, como fundação do poder em Hong Kong, deve inserir-se no
processo democrático. Tal processo, no entanto, se enquadra em mecanismo legal
que, na prática, seria negação da democracia, eis que o povo só poderia
escolher entre candidatos que tenham o beneplácito do governo central. Para Leung,
optar por um sufrágio aberto entre candidaturas livremente apresentadas seria forma
de “levar Hong Kong a cair na anarquia”.
A
sinceridade de tais objetivos é colocada em dúvida pelos manifestantes do recente
movimento, que vêem o Sr.Leung como estreitamente
ligado à elite empresarial pró-Beijing.
É profunda, por conseguinte, a
desconfiança na sinceridade da principal autoridade executiva. Nesse sentido, o
seu discurso perante o Conselho Legislativo da Cidade foi interrompido aos
berros por dois legisladores, que o acusaram de corrupção, pelo ganho ilícito
de riqueza, e de trair os interesses da cidade. Os trabalhos só foram retomados
depois desses dois representantes serem retirados à força do recinto.
Para Chung Kim-wah, diretor do Centro de Estudos de Política Social na
Universidade Politécnica de Hong Kong, “mais e mais gente acredita em que o
sistema político esteja manipulado por interesses comerciais, o que leva a
criar os problemas com que a região ora se defronta.” Na sua avaliação, o
governo sem legitimidade política “não tem condições de avançar em algo que
seja impopular. Hong Kong vai ser muito
difícil de governar.”
É sério o problema da habitação em
Hong Kong, o que resulta da escassez da
oferta – notadamente por causa das reduzidas dimensões da região. Os altos
preços da propriedade beneficiam proprietários e grandes investidores. Segundo
assinala o artigo do New York Times,
o preço médio da habitação em Hong Kong corresponde a 14.9 vezes a renda anual de casal de classe média, o que é mais
alto do que qualquer outro mercado no mundo.
Para C.Y. Leung, “a raiz de muitos problemas sociais e econômicos em
Hong Kong está na escassez de terra”. No entanto, de acordo com os manifestantes
pró-democracia, o Sr. Leung não tem mostrado muito apetite para mudanças que
afetem aos mais ricos. No ápice dos protestos,
o governador da cidade disse que dar ao cidadão comum o livre poder de
escolher os respectivos líderes daria à população pobre demasiada influência
política.
Conforme demonstrado, o senhor Leung é um apparatchik que lá está para cuidar dos interesses do governo de
Beijing. Vê-se, por conseguinte, quão afastada esteja, em termos ideológicos, a
direção do Partido Comunista Chinês da promoção dos interesses daqueles
extratos da população de que, segundo os respectivos princípios, deveria estar
mais próxima...
( Fonte: The New York Times )
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