quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Sucursal do Inferno ?

                               

        O Rio de Janeiro nunca se caracterizou por verões amenos. Daí a fuga para Petrópolis, na vizinha Serra do Mar, que é uma característica desde os tempos do Segundo Reinado, com as cidades-veraneio de Petrópolis e Terezópolis, não por acaso designadas com os prenomes do Imperador Pedro II e de sua esposa.

        No entanto, a canícula se tem ora caracterizado por presença quase permanente, que de resto não timbra por ater-se às estações climáticas clássicas.

        Se em meados do século passado as estações ainda eram razoavelmente marcadas – tanto que no inverno e à noite seria aconselhável um sweater de cashmere – nos tempos atuais as quedas de temperatura na estação invernal são bastante raras. Assim, o uso de cobertor (ou até do modernoso edredon) virou raridade na estação fria.

        Por isso, o carioca, sobretudo aquele com orçamento mais apertado, costuma dispensar no vestuário as roupas mais pesadas. Fia-se no calor quase permanente. Por isso, as casas que vendiam artigos invernais, ou quebraram, ou mudaram de especialidade.

        A alternância climática não é capricho esotérico de Mãe-natureza. Além de controlar as espécies mais danosas ao homem, através do carrossel das sazões, mantém à distância os insetos e sobretudo aqueles que portam as enfermidades tropicais.

        Cresci em tempos no qual o chamado progresso não nos tinha ainda apresentado a dengue. Extinta nos tempos de JK, cedo voltaria pelo norte, atravessando a fronteira da Venezuela (esses mosquitos não carecem de passaporte), e com o abraço da pobreza, da falta de saneamento básico, e de prudências elementares, ei-lo de regresso e do Oiapoque ao Chuí. 

       Dizem as más línguas do circuito Elizabeth Arden que o excesso de calor é inimigo de civilização e progresso. Nos tempos do chamado fardo do homem branco, havia o dito que só cães raivosos e loucos ingleses eram vistos nas ruas das colônias nas horas do meridião.

        Pode ser preconceito, mas  é teoria prevalente entre geógrafos que os países da área temperada têm maior potencialidade de crescimento e, por conseguinte,  poder pela ajuda climática.

       Na época da canícula no Rio de Janeiro essas teorias perdem o seu ranço preconceituoso e ganham ulterior credibilidade. Graças ao aquecimento global, a alternância de temperaturas na terra carioca parece evaporar-se por força da elevação das temperaturas médias, que devemos agradecer ao menosprezo do bicho homem por tudo que ajude a controlar-lhes a elevação.

        O infernal mecanismo do aumento da temperatura média global funciona do seguinte modo. O fator principal é o egoísmo oportunista. Nesse sentido, cada um cuida de si e delega aos outros a incumbência de trabalhar  pelo estabelecimento de medidas responsáveis, que não contribuam para o incremento do gás carbônico na atmosfera. Essa atitude pode favorecer o infrator a curto prazo, mas seguramente voltará com juros e correção monetária para puni-lo mais tarde. É uma falácia burra – mas infelizmente muito generalizada – que o crime climático possa compensar. A curtíssimo prazo, pode dar essa impressão, mas a realidade conjunta tratará de logo corrigir essa esperteza que as coisas desse gênero tem as pernas bastante curtas.

        Seja culpa nossa ou não, a verdade é que o Rio de Janeiro já dispunha de fatores para dar u’a mãozinha no aquecimento climático. Basta ver a conformação do grande-Rio para que se vislumbre magnífica área de conservação da temperatura, imenso receptáculo oferto pela disposição da Serra do Mar, o que garante um verdadeiro caldeirão, com a consequente alça e, sobretudo, permanência das elevadas temperaturas ambientes.

        E a sensação do morador na metrópole carioca se vê corroborada pela medição comparativa das temperaturas das capitais brasileiras.  Este ano cabe ao Rio de Janeiro o dúbio galardão de ser a cidade mais quente entre essas capitais. Nem Boa Vista, nem Teresina chegam perto...

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