O Rio de
Janeiro nunca se caracterizou por verões amenos. Daí a fuga para Petrópolis, na
vizinha Serra do Mar, que é uma característica desde os tempos do Segundo
Reinado, com as cidades-veraneio de Petrópolis e Terezópolis, não por acaso
designadas com os prenomes do Imperador Pedro II e de sua esposa.
No entanto, a canícula se tem ora caracterizado
por presença quase permanente, que de resto não timbra por ater-se às estações
climáticas clássicas.
Se em meados
do século passado as estações ainda eram razoavelmente marcadas – tanto que no
inverno e à noite seria aconselhável um sweater de cashmere – nos tempos atuais
as quedas de temperatura na estação invernal são bastante raras. Assim, o uso
de cobertor (ou até do modernoso edredon) virou raridade na estação fria.
Por isso, o
carioca, sobretudo aquele com orçamento mais apertado, costuma dispensar no
vestuário as roupas mais pesadas. Fia-se no calor quase permanente. Por isso,
as casas que vendiam artigos invernais, ou quebraram, ou mudaram de
especialidade.
A alternância
climática não é capricho esotérico de Mãe-natureza. Além de controlar as espécies
mais danosas ao homem, através do carrossel das sazões, mantém à distância os
insetos e sobretudo aqueles que portam as enfermidades tropicais.
Cresci em
tempos no qual o chamado progresso não nos tinha ainda apresentado a dengue.
Extinta nos tempos de JK, cedo voltaria pelo norte, atravessando a fronteira da
Venezuela (esses mosquitos não carecem de passaporte), e com o abraço da
pobreza, da falta de saneamento básico, e de prudências elementares, ei-lo de
regresso e do Oiapoque ao Chuí.
Dizem as más línguas
do circuito Elizabeth Arden que o excesso de calor é inimigo de civilização e
progresso. Nos tempos do chamado fardo do homem branco, havia o dito que só
cães raivosos e loucos ingleses eram vistos nas ruas das colônias nas horas do
meridião.
Pode ser
preconceito, mas é teoria prevalente
entre geógrafos que os países da área temperada têm maior potencialidade de
crescimento e, por conseguinte, poder
pela ajuda climática.
Na época da
canícula no Rio de Janeiro essas teorias perdem o seu ranço preconceituoso e
ganham ulterior credibilidade. Graças ao aquecimento global, a alternância de
temperaturas na terra carioca parece evaporar-se por força da elevação das
temperaturas médias, que devemos agradecer ao menosprezo do bicho homem por
tudo que ajude a controlar-lhes a elevação.
O infernal
mecanismo do aumento da temperatura média global funciona do seguinte modo. O
fator principal é o egoísmo oportunista. Nesse sentido, cada um cuida de si e
delega aos outros a incumbência de trabalhar
pelo estabelecimento de medidas responsáveis, que não contribuam para o
incremento do gás carbônico na atmosfera. Essa atitude pode favorecer o
infrator a curto prazo, mas seguramente voltará com juros e correção monetária
para puni-lo mais tarde. É uma falácia burra – mas infelizmente muito
generalizada – que o crime climático possa compensar. A curtíssimo prazo, pode
dar essa impressão, mas a realidade conjunta tratará de logo corrigir essa
esperteza que as coisas desse gênero tem as pernas bastante curtas.
Seja culpa
nossa ou não, a verdade é que o Rio de Janeiro já dispunha de fatores para dar
u’a mãozinha no aquecimento climático. Basta ver a conformação do grande-Rio
para que se vislumbre magnífica área de conservação da temperatura, imenso
receptáculo oferto pela disposição da Serra do Mar, o que garante um verdadeiro
caldeirão, com a consequente alça e, sobretudo, permanência das elevadas
temperaturas ambientes.
E a sensação
do morador na metrópole carioca se vê corroborada pela medição comparativa das
temperaturas das capitais brasileiras.
Este ano cabe ao Rio de Janeiro o dúbio galardão de ser a cidade mais
quente entre essas capitais. Nem Boa Vista, nem Teresina chegam perto...
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