quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Corrupção e Verdade

                                          

         Em duas  colunas sucessivas, Míriam Leitão nos dá  visão de uma batalha que já está perdida.  Em  sua húbris, a Presidenta se nega a ler o que está escrito nas paredes de seus palácios.

        Assim, ela convoca reunião de seu farsesco ministério para combater  a realidade. Nesse sentido, pede o empenho da amorfa tropa para uma batalha que já se sabe perdida.

         Para a crise de energia, reservou apenas uma frase: “todas as ações cabíveis para assegurar o fornecimento de energia”.

         Há dois anos o Brasil vive tremenda seca. No entanto, as palavras foram usadas para dissociar o governo federal de ações concretas para a solução da questão, eis que o suprimento é atribuição dos estados, mas o Governo Federal está ajudando todos os governadores, principalmente os do Sudeste, pela gravidade do problema que enfrentam.

          Há um ano, quando os reservatórios das hidrelétricas estavam em 40%, especialistas e empresas do setor pediam a racionalização do uso de energia, que permitisse poupar água nos reservatórios e o desligamento das térmicas mais caras. Hoje,as térmicas permanecem ligadas e os reservatórios estão em 17%.

          Como se vê, não se trata de agir e fazer. É como se o processo eleitoral continuasse, e o que importa, numa hipotética batalha pela opinião do Povo, será a retórica do discurso.

         Dir-se-ía que a Presidenta no seu combate assumiu apenas a negação, dentre as atitudes psicológicas, ou estágios do luto, elencados pela Kübler-Ross.[1]  A essa díspare companhia que é o seu gabinete, Dilma preconiza: reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação. Diante da realidade, ela recomenda o discurso da retórica.

         Em outro aspecto, a presidente afirmou “estamos diante da necessidade de promover um reequilíbrio fiscal” e tomar “medidas de caráter corretivo”. A esquizofrenia política a leva, no entanto, a esquecer que as escolhas de Dilma I “são parte integrante do desequilíbrio fiscal em que o país está agora. E isso não é boato, nem versão; são os fatos.”

        Por outro lado, o problema da corrupção do governo do PT tampouco é intriga da oposição. A patética espera do Governo por um balanço aceitável da Petrobrás não encontra uma saída na publicação pela metade do balanço da corrupção,

       Diante do assalto sofrido pela Petrobrás a PricewaterhouseCoopers (PwC) não tem ainda condições de auditar o balanço da Estatal. Depois do aparelhamento da Petróleo Brasileiro S.A. pelo Partido dos Trabalhadores, a formação de cartéis voluntários ou não pelas grandes empreiteiras, e a implantação da propina como norma, dá para entender porque a empresa tenha posto R$ 88 bilhões sob suspeita. Tais estimativas são, no entanto, suposições, que não podem ser colocadas no resultado financeiro, malgrado os dois meses de atraso e a impossibilidade de uma auditoria técnica, conforme aos padrões das grandes firmas de auditoria.

          Neste vexame nacional e internacional – porque não há só o perigo de  multa da SEC (Securities and Exchange Commission) e elas não costumam ser pro-forma, mas há também o risco de o Brasil cair sob as garras dos Fundos Abutre, as nêmesis de Cristina Kirchner. Assim, a corrupção na Petrobrás se alevanta imponente como um programa de governo, o famigerado Petrolão, que substituíu faz muito o Mensalão como fonte de financiamento de partidos da base.

            Como o processo da Petrobrás o mostra com crescente clareza, a cupidez político-partidária e a corrupção como sistema de governo trazem dentro de si  sua própria perda, que vem pela própria cobiça dos interessados, a ilusão de sistema à prova da eventual denúncia que surgirá pela própria exponencial dinâmica do processo e a consequente impossibilidade da manutenção do sigilo.

            É o que estamos ora deparando. Como diria Aporelly, há muitas coisas no ar,   além dos aviões de carreira.

           Mais uma vez pode configurar-se processo de nome inglês, o chamado impeachment. Ele tem força inercial específica, como o único exemplo pregresso o demonstra. E por mais corrupto que seja o meio que deva avaliá-lo, a pressão da opinião pública seguirá normas diversas que, como Anteu, encontram a força necessária no terreno lodoso em que tais criaturas costumam grassar.

 

( Fontes: Coluna de Miriam Leitão;  O Globo )



[1] Elisabeth Kubler-Ross, no seu livro sobre a morte, aponta cinco estágios: negação, raiva, negociação, depressão, aceitação.

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