quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Traços Preocupantes

                                         

         O segundo governo de Dilma Rousseff, e não só pela falta de coesão na composição do ministério, já vai registrando os seus primeiros enfrentamentos internos, que podem implicar-lhe em virtual paralisia, por falta de um norte preponderante.

        A posse de Joaquim Levy, a que o establishment e as correntes moderadas prestaram a homenagem devida, veio cercada não só da contradição entre a linha liberal do novo ministro e as ‘realizações’ do improviso que caracterizaram (e afundaram) as promessas do primeiro mandato, hoje cercado de geral descrédito, com uma única exceção.

        Ora, essa remanescente dúvida não é de somenos. Quem a representa, menos pela palavra, hoje silente, do que pelo gesto e anterior postura é – como já se antevê – a própria Presidenta.

         Mais pela crueza do poder presidencialista, do que por inexistentes virtudes e ganhos no passado quadriênio, Dilma paira como permanente ameaça, que, num piscar de olhos, tudo pode pôr a perder.

         Se o argumento de que está no seu interesse manter esse lábil equilíbrio terá o peso não só do bom senso, mas também o do próprio interesse da mandatária, não se deve esquecer que ela pode desfazer-se desse belo gesto – que não vem de seu íntimo querer – mas de situação adversa, a que a conveniência manda acomodar-se.

         Sem embargo, a administração deve trabalhar sob o pressuposto de que a Chefa atual, que se curva sob a conjuntura ingrata, o faz segurada por realismo prático. Tal postura não casa com a Dilma voluntariosa (para o bem e para o mal), que nos foi apresentada pelo primeiro mandato, e até o momento as contingências não nos induzem a querer saber de seu prazo de validade.

          A História está demasiado cheia de contradições e súbitos recuos em situações como a presente, para que apostemos sem temor na linha de que o Ministro Levy porta o galardão. Da imprevisibilidade do tempo, o puxão de orelhas aplicado com estardalhaço no Ministro Nelson Barbosa já evidencia, para bom entendedor, que a senda é ínvia, e os perigos mil. Toda a construção depende do voluntarismo da Presidenta.

          O bom senso nem sempre é rede fiável de segurança. Pela frente, o navegador há de descortinar muitas inconstâncias do tempo (e do temperamento), para que Dilma Rousseff reprima as próprias pulsões, deixe de ouvir os íntimos de sempre a soprar-lhe o que pensam seja a respectiva e funda vontade, e na monotonia dos dias e das sazões logre domar o ego respectivo, enquanto se repete que a sua conveniência – a que se associam tantos que nunca rezaram pela sua cartilha – deva prevalecer sempre, contra vento e maré.

           É difícil a hora, não há negar.  Por enquanto, no chão, os estragos e os destroços da ordem pregressa – a que tanto se dedicou. A gente nova que a cerca agora ainda vive na terra sáfara que o seu governo legou. Em toda caminhada, há o percurso, necessariamente longo, no qual a fé no futuro deva substituir o presente desconforto.

            Será que Dilma, malgrado o vozerio amigo dos companheiros do PT,   as fisionomias conhecidas que a acompanharam na jornada da conquista, reunirá valor e concentração necessários para projetar à frente o que ainda não existe, e que seu partido trata, por todos os meios, em se acreditando ameaçado, de dificultar e inviabilizar?

              Terá ela ânimo e a resolução de confiar na razão, e virar as costas para seu passado?

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