O segundo governo de Dilma
Rousseff, e não só pela falta de coesão na composição do ministério, já vai
registrando os seus primeiros enfrentamentos internos, que podem implicar-lhe
em virtual paralisia, por falta de um norte preponderante.
A posse de Joaquim
Levy, a que o establishment e as
correntes moderadas prestaram a homenagem devida, veio cercada não só da
contradição entre a linha liberal do novo ministro e as ‘realizações’ do
improviso que caracterizaram (e afundaram) as promessas do primeiro mandato,
hoje cercado de geral descrédito, com uma única exceção.
Ora, essa
remanescente dúvida não é de somenos. Quem a representa, menos pela palavra,
hoje silente, do que pelo gesto e anterior postura é – como já se antevê – a própria
Presidenta.
Mais pela
crueza do poder presidencialista, do que por inexistentes virtudes e ganhos no
passado quadriênio, Dilma paira como permanente ameaça, que, num piscar de
olhos, tudo pode pôr a perder.
Se o
argumento de que está no seu interesse manter esse lábil equilíbrio terá o peso
não só do bom senso, mas também o do próprio interesse da mandatária, não se
deve esquecer que ela pode desfazer-se desse belo gesto – que não vem de seu
íntimo querer – mas de situação adversa, a que a conveniência manda
acomodar-se.
Sem embargo,
a administração deve trabalhar sob o pressuposto de que a Chefa atual, que se
curva sob a conjuntura ingrata, o faz segurada por realismo prático. Tal
postura não casa com a Dilma voluntariosa (para o bem e para o mal), que nos
foi apresentada pelo primeiro mandato, e até o momento as contingências não nos
induzem a querer saber de seu prazo de validade.
A História está demasiado cheia de
contradições e súbitos recuos em situações como a presente, para que apostemos sem
temor na linha de que o Ministro Levy porta o galardão. Da imprevisibilidade do
tempo, o puxão de orelhas aplicado com estardalhaço no Ministro Nelson Barbosa
já evidencia, para bom entendedor, que a senda é ínvia, e os perigos mil. Toda a
construção depende do voluntarismo da Presidenta.
O bom senso
nem sempre é rede fiável de segurança. Pela frente, o navegador há de
descortinar muitas inconstâncias do tempo (e do temperamento), para que Dilma
Rousseff reprima as próprias pulsões, deixe de ouvir os íntimos de sempre a
soprar-lhe o que pensam seja a respectiva e funda vontade, e na monotonia dos
dias e das sazões logre domar o ego respectivo, enquanto se repete que a sua conveniência
– a que se associam tantos que nunca rezaram pela sua cartilha – deva prevalecer
sempre, contra vento e maré.
É difícil a
hora, não há negar. Por enquanto, no
chão, os estragos e os destroços da ordem pregressa – a que tanto se dedicou. A
gente nova que a cerca agora ainda vive na terra sáfara que o seu governo
legou. Em toda caminhada, há o percurso, necessariamente longo, no qual a fé no
futuro deva substituir o presente desconforto.
Será que Dilma,
malgrado o vozerio amigo dos companheiros do PT, as fisionomias conhecidas que a acompanharam
na jornada da conquista, reunirá valor e concentração necessários para projetar
à frente o que ainda não existe, e que seu partido trata, por todos os meios, em
se acreditando ameaçado, de dificultar e inviabilizar?
Terá ela
ânimo e a resolução de confiar na razão, e virar as costas para seu passado?
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