“O que mais me dói é pensar que daqui a
alguns dias a história dele será
esquecida por
muitos. E o crime esquecido pelas autoridades.”
Mais um brutal
assassínio em Botafogo, na rua General Severiano. Os roubos estão na ordem do dia. A falta de policiamento
é a regra. Uma lojista resumiu, em
parágrafo lapidar, tanto a displicência das autoridades, quanto as facilidades
de que os bandidos dispõem:
“Ladrões armados sempre agem por aqui. Na última vez, um rapaz assaltou uma aluna da
UFRJ, ordenou que .
ela fosse embora e permaneceu
calmamente no ponto, até embarcar em ônibus que ía para a Central. Os bandidos
se aproveitam da má iluminação,
e não há policiamento. Nesse local, roubos fazem parte da rotina.”
A regra aplicada pelos marginais, com o total
menosprezo da vítima – qualquer que seja a sua condição, é o contraponto da
incúria em termos de segurança. Os bandidos, ao
parecer, gozam de imunidade: tanto da população, que nada faz – como no
caso do assaltante que fica na fila da condução, como se fosse um passageiro
como os outros -, quanto dos PMs., que só costumam aparecer em praias
frequentadas por turistas.
A amarga e incontestável frase da
mãe do jovem morto reflete triste realidade. E a realidade está no desânimo de
D. Mausy Schomaker, genitora de Alex Schomaker Bastos, de 23 anos,
universitário, baleado três vezes, ao reagir a assalto em ponto de ônibus da
rua General Severiano, em Botafogo, quase em frente a uma das entradas do campus na universidade da Praia
Vermelha. Alex tinha 23 anos e estava determinado a descobrir a cura de doenças
raras. Brilhante, aprovado em primeiro
lugar no vestibular para a Faculdade de Biologia da UFRJ, iria se formar nesta
segunda-feira e estudava para a prova do mestrado na Universidade. Além disso,
estava prestes a fazer o concurso para o Pedro II e já planejava doutorado na
Finlândia, onde estudaria o mapeamento genético de doenças degenerativas.
Pobre Alex! Não sabia que o seu ideal seria brutalmente
escarnecido e lançado ao chão, na reação de um grupo de bandidos, que vivem do
saqueio e da violência.
Nessa sociedade de
meliantes, não há respeito pelo semelhante, tampouco existem atenuantes. O que
vigora é a lei da selva, que grassa por toda parte na cruel impiedade – a mesma
que matou a jovem que voltava do feérico réveillon de Copacabana e que já
avisara ao pai inquieto que estava quase em casa.
O mantra das sisudas
autoridades não varia. A situação preocupa e providências serão tomadas.
Encarecem, no entanto, a compreensão do público.
Que compreensão é esta,
onde se sucedem as mortes e em que os meliantes ditam a lei? Não há segurança
em ruas e logradouros vazios e mal-iluminados, na aparência apenas povoados por
vultos que se esgueiram – ou até se pavoneiam de dia – à cata das presas da
vez, sobre quem aplicam a pena de morte –
que os tribunais não aplicam – deixando aos togados a determinação das
progressões de pena, que diminuem caritativas o tempo de prisão do assaltante
ou homicida.
O Brasil vem a ser estranho país. Os
bandidos, nos logradouros públicos, decretam a morte para os infelizes (como a
jovem do réveillon e o estudante da UFRJ) que acenam uma reação. Por sua vez, a
polícia se distingue pela ausência, e quando os marginais são presos,
julgados e condenados, podem esperar uma rápida aplicação da doutrina de progressão da pena, estabelecida pela Corte Suprema. Assim, o decurso da pena fica muita vez reduzido a um terço.
Assim, o nosso país, além de exibir avançada doutrina no campo das progressões de pena - como a sociedade verificou nas reduções das penas aplicadas no juízo da Ação Penal 470 (mensalão) - tem prisões em que o Ministro da Justiça preferiria morrer a ser aí encarcerado e que ora justificam a denegação da extradição de nacionais brasileiros sob o argumento das condições que nelas prevalecem.
( Fonte: O Globo )
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