sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Dilma 2.0: ontem verdade, hoje mentira


                               

        O tom sensaborão do discurso de posse do segundo mandato de Dilma Rousseff já traía na sua falta de convicção, implícita na elocução monocórdia e desprovida de qualquer ênfase, o reconhecimento psicológico de que, assim como nos comunicados do OKW (O alto comando da Wehrmacht), quando começou a longa retirada dos invasores alemães do solo russo, a encabulada verdade passou a valer-se de todo tipo de artifício.

       O problema com esse tipo de discurso é que, ao afastar-se da realidade, pode ser aceito pelos grupelhos de aliados e daqueles que só esperam a deixa para irromper em aplausos, mas, à parte dos parágrafos a serem colacionados para revisões e denúncias futuras,  sua relevância será tão fugaz quanto o orvalho matinal.

       Nossa imprensa – sobre quem paira a ameaça neo-chavista do controle da mídia, esse projeto de Franklin Martins et al. que reluta diante da geral repulsa em por fim descansar na velha lata de lixo trotskista – não tardou em fazer o seu mister.

       Esse nobre encargo nada tem a ver com a crítica sistemática dos reflexos incontroláveis, mas sim com a missão serena do exame abrangente, em que aplausos e censuras não obedecem a palavras de ordem. O bom jornalista e a respectiva memória tem a obsessão da verdade. Nas ditaduras – e há muitos ainda lobos com pele de cordeiro por essas Américas e  outros continentes – pesa no articulista  o mau olhado do poder, que não está interessado na verdade, porém no assenso servil às assertivas dos senhores (e senhoras) de turno.

       Dona Dilma foi um pouco sem-cerimoniosa  com as novidades a lançar para consumo do povo soberano. A começar pelo fato embaraçoso de não mais serem novidades. Que sentido faz anunciar com pompa e circunstância o novo slogan ‘Brasil, pátria educadora’ que já fora lançado pela Presidenta a 1º de maio de 2013?

      Se é assim tão marcante, quanto anunciou ontem, porque deixá-lo hibernar por tanto tempo?

      O capítulo Petrobrás parece versão expurgada por algum censor de antanho, dos que escarafunchavam o dito e o não-dito, na ânsia de agradar ao senhor de plantão – não importa se ditador fardado ou não.

      A tragédia da Petrobrás merecia um melhor cronista. No sovado truque de transferir para o solerte alienígena pecados e crimes de outrem bem mais entranhado na realidade brasileira, a presidenta conjuminou para o petrolão predadores internos e inimigos externos.

      A incômoda presença do PT e de seus fiéis (e bem-aquinhoados) operadores está mais bem refletida nas caricaturas de Chico Caruso sobre os barris marcados pelas reveladoras impressões digitais de Lula da Silva.

      E por falar no criador, a sua relampejante presença de poucos minutos, em meio à longa ausência de todas as restantes cerimônias, o que significará, na linguagem dos signos, desse regime?

      O folclórico conjunto de ministros de um autêntico gabinete terceiro-mundista, excluída a solitária estrela de Joaquim Levy, o que receberá do povão e dos senhores congressistas ?

      George Hilton (PRB) será o Ministro do Esporte, não obstante ter sido flagrado – em 2005 – carregando malas de dinheiro vivo no aeroporto da Pampulha. O que fez (ou não fez)  o Ministro Manoel Dias, para ser reconfirmado no Ministério do Trabalho? E como interpretar a nomeação de Cid Gomes (PROS), para o Ministério da Educação, à luz de Brasil, pátria educadora? Por fim, houve mal-estar na posse em silêncio, sem aplauso algum, de Kátia Abreu, na Agricultura.

       Fantasmas, alguns mais vivos, outros rebaixados a assombração, percorriam os salões do Planalto. Assim, Graça Foster, mantida na presidência da Petrobrás por vontade de Dilma, e Erenice Guerra, personagem de crise passada, por lá repontaram. E não é que mimosearam os fotógrafos com a ocasião rara de conversa de salão da crise de hoje com o escândalo de ontem?     

        Dona Falsidade deu igualmente o ar de sua graça. Dizer que a dívida líquida do Governo Dilma 1.0 anda bem é nos chamar de tolos, pois quem entende sabe que, após os malabarismos fiscais de Mantega & Cia. o único indicador fiável é a dívida bruta. Também no mesmo diapasão declarar de cara limpa que a inflação foi sempre mantida sob controle... Tudo isso, depois de tantos tetos rompidos, não fica nada bem...

        E, por fim, não é que o ex-presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, pede agora vênia para relembrar que Pasadena deve igualmente cair no colo da ex-diretora do Conselho de Administração da Petrobrás, de nome Dilma Rousseff ?

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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