terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Em torno do Terror

                                         

           Continuando na sua prescrição de tratamento intensivo, o Charlie Hebdo surge na capa com Maomé chorando, enquanto, sob o letreiro de que tudo é perdoado, declara que ‘eu sou Charlie’.

            Após os ataques em Paris, a França e mais três países europeus com substanciais comunidades islâmicas estudam a tomada de medidas enérgicas.

            As providências tomadas pelo Ministério do Interior francês são bastante fortes: o sistema de escutas será intensificado, se isolarão  os islamitas radicais nas prisões, dez mil militares são mobilizados para proteger locais havidos como vulneráveis. Concentrarão metade de tal efetivo as sinagogas, escolas e estabelecimentos comerciais judaicos (como a carniceira kosher que foi atacada em seguida ao atentado contra o Charlie Hebdo).  

             Parte da comunidade judaica, assustada diante das ameaças, estaria considerando emigrar para Israel, onde supostamente estaria mais segura. A foto estampada na primeira página de O Globo mostra, de costas, um integrante dessa comunidade, possivelmente um rabino. Vêem-se, apenas, o chapéu, o sobretudo de ombreiras largas e as luvas, todos em negro. Está cercado por policiais e militares armados, e alguns o encaram como que assombrados. Talvez essa aparência que os distingue na crença, ressalte também a própria evidência e os tornem alvos demasiado fáceis para os fanáticos islâmicos.

            Provocou certo mal-estar a ausência de autoridade de nível estadunidense, em meio ao grande número de chefes de estado e governo que acorreram à caminhada de domingo em Paris. Terá sido mais uma das hesitações de Barack Obama, ou se deverá à atitude mais reservada da segurança americana. É difícil  determinar.

            Faltou decerto algum da primeira plana, para a exemplo de François Hollande e Angela Merkel, assim como outros líderes europeus e médio-orientais afrontaram as praças e alamedas da Cidade-Luz, nas passeatas que encorpam o sentir da opinião pública, e afrontam o silente, traiçoeiro desafio do terror.

            Reforçando a sinalização da ameaça comum, e em outra demonstração de que a segurança na internet mesmo governamental não é inexpugnável, hackers que se dizem do Estado Islâmico invadiram os sites com os perfis na redes sociais  Twitter e You Tube do Comando Central dos Estados Unidos (Centcom) das Forças Armadas americanas.

            Em mensagens postadas na rede, os hackers revelavam ainda supostos dados sobre assuntos estratégicos do Pentágono, como localizações de instalações nucleares da Coreia do Norte, o alcance de mísseis na costa chinesa e informações pessoais de membros das Forças Armadas americanas.

            Como não se pode descontar a possibilidade de que tais hackers, que se proclamam, repito, do Comando Islâmico, contem com apoio de estruturas governamentais, a coordenação de esforços de parte do Ocidente não pode ser negligenciada, nem atitudes de alegada neutralidade podem ser estimadas válidas ou mesmo profícuas.

 

( Fonte:  O  Globo ) 

          

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