Fatos: na noite de domingo, 18 de janeiro o promotor Alberto Nisman foi encontrado morto, dentro do
banheiro de seu apartamento em Puerto Madero, em Buenos Aires. A seu lado,
estava um revólver calibre 22. O cadáver tinha um tiro na testa.
O promotor não deixou carta de
despedida.
Era aguardado o seu depoimento no
Congresso, em que deveria acusar a Presidente Cristina Fernández de Kirchner de
encobrir os autores do ataque à Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia),
em 1994.
Circunstâncias: A promotora
que investiga o caso,Viviana Fein, revela que segundo a autópsia “não houve
intervenção de terceiras pessoas”. Outras hipóteses sobre o óbito não são,
contudo, descartadas. Essa colega do promotor Nisman disse ainda estar à espera
de um laudo de pólvora feito no corpo. Provoca estranheza que esse exame não tenha
sido feito ainda, eis que, em caso afirmativo, dirimiria qualquer dúvida sobre
o suicídio. Por outro lado, a ausência de marcas de pólvora na mão e nos braços
de Nisman apontariam para concurso externo na causa do delito.
Observações. A hipótese do
suicídio, que é sugerida pelas circunstâncias em que foi encontrado o corpo,
carece de ser corroborada pelo exame de restos de pólvora na mão e braço do
promotor. No entanto, nada na atitude pregressa do promotor Nisman aponta para
o suicídio. Anunciara a sua intenção de
declarar no Congresso a denúncia formal
da Presidente Cristina de Kirchner, do chanceler Hector Timerman e de outros
aliados da Casa Rosada, por negociarem acordo com Teerã para que os suspeitos
iranianos do atentado à AMIA não fossem investigados.
Em 2013, a Argentina e o Irã
assinaram protocolo para que os suspeitos fossem interrogados em Teerã, o que
obviamente os favoreceria.
Qual a razão dessa pesada concessão?
Para Nisman, a Casa Rosada aceitara isso
para fazer um acordo para trocar
petróleo por produtos agrícolas, em meio à crise econômica no país. O acordo gorou porque a Interpol
não retirou as ordens de captura dos suspeitos iranianos.
Quais as provas de que dispunha o
Promotor Nisman? As suas principais provas eram gravações de
telefonemas entre iranianos e militantes ligados ao governo argentino. Um juiz já ordenou a proteção dos arquivos
que seriam usados na denúncia.
Isenção do Governo?
Consoante a deputada Laura Alonso,
que mantinha contato direto com o promotor
Nisman, o volume das ameaças aumentara nas últimas semanas. Por outro
lado, Patrícia Bullrich declara que agente de inteligência argentino dera aos
iranianos detalhes sobre os movimentos de Alberto Nisman e de sua família.
Consequências
políticas.
Os principais presidenciáveis – as
eleições são em outubro p.f. – evitam, por ora, responsabilizar o governo.
Todos pedem rapidez na elucidação da ocorrência. Há geral e manifesto consenso
quanto a importância do caso, e de suas implicações políticas. Para o candidato radical, Ernesto Sanz, “esse é o acontecimento
mais grave desde a volta da democracia.”
Segundo o analista político Rosendo Fraga, “não é o fim do governo kirchnerista, mas pode ser o começo do fim”.
Na segunda feira, 19, um grupo
de manifestantes, reunido na frente do Congresso, pedia justiça e segurava
cartazes com os dizeres “Todos somos Nisman”, em clara alusão ao multitudinário
slogan “Eu sou Charlie.”
( Fontes: Folha
de S. Paulo, O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário