Pelo Brasil, por sua economia, e por seu futuro, o que
deveria fazer alguém que a fortuna
colocou na presidência, e que escolheu, após desastroso primeiro mandato, um
ministro jovem, mas singularmente preparado para desfazer todo o mafuá
econômico que aprontou, entusiasticamente ajudada por sólidas mediocridades e
cortesãos de primeira ordem ?
De seu humor, ou talvez de sua
falta, da peculiar maneira com que trata
subordinados, sejam de baixo, médio ou alto escalão, mais se vê na
delicada grosseria com que acariciou repórter que ousara cumprir com a pauta
plantada pela direção da tevê, com que parecia trazer de volta a brutal ternura
de político baiano que já dorme o sono
profundo de Totônio Rodrigues, o que se pode dizer?
Nos corredores dos palácios em que
o seu benfeitor a colocou, e depois, quase um lustro depois, a deparamos
sentada e empertigada, acreditando dar lições, enquanto a sua admirada cabeça
segue rumo para uns tortuoso e errático, para outros maravilhoso. Compondo o
quadro solene vêem-se lombadas e mais lombadas de livros encadernados, e me vem
sorrateiro e insinuante o pensamento acerca dos muitos que por lá passaram, e
jamais sequer se aventuraram a espiar por trás daquelas muitas páginas que
lições poderia colher.
Em cortes desse gênero, o poder será
sempre delegado para os que estejam mais alto no círculo palaciano. Na verdade,
quando a personalidade suprema se assinala por tais características, ela as
transmitirá forçosamente aos mais próximos. Vicariamente tendem a ser
alter-egos da chefa, e não desdenharão de oportunidades em que possam passar
adiante toda a tensão, seja explícita, seja implícita, por que atravessam no seu
dia a dia. Estão condenados, portanto, a reproduzir no seu entorno o que dela
recebem.
Noblat na sua crônica de hoje
alinha com a exação conhecida as maneiras que a Presidenta encontra para
corrigir o seu alto subordinado. Como exigente mestre-escola não resiste a
corrigir o aluno mais dotado, se ele diz algo, seja no estrangeiro, seja por
aqui mesmo, que não se case com as suas ideias. Talvez seja maneira de
resgatar-se ou até de humilhar a quem ousa ajudá-la na limpeza das
cavalariças...
Por isso também se deveria compreender
que nada diga ou faça – não mexe sequer uma palha – quando o ministro capaz que
põe ordem na casa vire saco de pancadas dos aliados da presidenta? Freud, mesmo
se algum cretino o acredite superado, explica isso tudo.
Se o remédio é amargo, a paciente
reclama, muito embora esteja fazendo efeito. Mas aí, a raiva aumenta, e a
personalidade pode agir objetivamente contra o próprio interesse. Perde tempo
em puxar orelhas, não porque sejam erros ou deslizes, mas pela oportunidade que
lhe dão em acariciar o próprio ego, e a tentar convencê-lo que ela é soberana,
e tudo pode, inclusive humilhar o seu ministro?
Poder, pode... mas já imaginou se
ele cansa, e sai batendo a porta, assim como o Jobim? No entanto, pense bem no
que faz... A gente que tem à volta como todo cortesão, ri com a desgraça
alheia, e gargalha com as do que se acham poderosos... Mas creia, eles estão
sempre à mão, enquanto morar em tais alturas. E o outro, o jovem Ministro ? Na
sua idade, o seu limite é bem outro. E se sair como o Jobim, pesou bem a diferença entre os personagens?
Aquele não faria muita falta... mas e este?
Ou será que Guido Mantega e Arno Augustin são os auxiliares que Sua
Excelência precisa?
( Fontes: Coluna de Ricardo Noblat em O Globo;
Profundamente, de Manuel Bandeira )
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