segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Levy e Dilma

                            

            Pelo Brasil, por sua economia, e por seu futuro, o que deveria fazer  alguém que a fortuna colocou na presidência, e que escolheu, após desastroso primeiro mandato, um ministro jovem, mas singularmente preparado para desfazer todo o mafuá econômico que aprontou, entusiasticamente ajudada por sólidas mediocridades e cortesãos de primeira ordem ?

            De seu humor, ou talvez de sua falta, da peculiar maneira com que trata  subordinados, sejam de baixo, médio ou alto escalão, mais se vê na delicada grosseria com que acariciou repórter que ousara cumprir com a pauta plantada pela direção da tevê, com que parecia trazer de volta a brutal ternura  de político baiano que já dorme o sono profundo de Totônio Rodrigues, o que se pode dizer?

            Nos corredores dos palácios em que o seu benfeitor a colocou, e depois, quase um lustro depois, a deparamos sentada e empertigada, acreditando dar lições, enquanto a sua admirada cabeça segue rumo para uns tortuoso e errático, para outros maravilhoso. Compondo o quadro solene vêem-se lombadas e mais lombadas de livros encadernados, e me vem sorrateiro e insinuante o pensamento acerca dos muitos que por lá passaram, e jamais sequer se aventuraram a espiar por trás daquelas muitas páginas que lições poderia colher.

           Em cortes desse gênero, o poder será sempre delegado para os que estejam mais alto no círculo palaciano. Na verdade, quando a personalidade suprema se assinala por tais características, ela as transmitirá forçosamente aos mais próximos. Vicariamente tendem a ser alter-egos da chefa, e não desdenharão de oportunidades em que possam passar adiante toda a tensão, seja explícita, seja implícita, por que atravessam no seu dia a dia. Estão condenados, portanto, a reproduzir no seu entorno o que dela recebem.

            Noblat na sua crônica de hoje alinha com a exação conhecida as maneiras que a Presidenta encontra para corrigir o seu alto subordinado. Como exigente mestre-escola não resiste a corrigir o aluno mais dotado, se ele diz algo, seja no estrangeiro, seja por aqui mesmo, que não se case com as suas ideias. Talvez seja maneira de resgatar-se ou até de humilhar a quem ousa ajudá-la na limpeza das cavalariças...

           Por isso também se deveria compreender que nada diga ou faça – não mexe sequer uma palha – quando o ministro capaz que põe ordem na casa vire saco de pancadas dos aliados da presidenta? Freud, mesmo se algum cretino o acredite superado, explica isso tudo.

           Se o remédio é amargo, a paciente reclama, muito embora esteja fazendo efeito. Mas aí, a raiva aumenta, e a personalidade pode agir objetivamente contra o próprio interesse. Perde tempo em puxar orelhas, não porque sejam erros ou deslizes, mas pela oportunidade que lhe dão em acariciar o próprio ego, e a tentar convencê-lo que ela é soberana, e tudo pode, inclusive humilhar o seu ministro?

           Poder, pode... mas já imaginou se ele cansa, e sai batendo a porta, assim como o Jobim? No entanto, pense bem no que faz... A gente que tem à volta como todo cortesão, ri com a desgraça alheia, e gargalha com as do que se acham poderosos... Mas creia, eles estão sempre à mão, enquanto morar em tais alturas. E o outro, o jovem Ministro ? Na sua idade, o seu limite é bem outro. E se sair como o Jobim,  pesou bem a diferença entre os personagens? Aquele não faria muita falta... mas e este?

          Ou será que Guido Mantega e  Arno Augustin são os auxiliares que Sua Excelência precisa?

 

( Fontes: Coluna de Ricardo Noblat em O Globo; Profundamente, de Manuel Bandeira )

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