Je suis Charlie
Eu sou Charlie trouxe multidões às avenidas e ruas de Paris, em reação forte e emotiva ao massacre de dez jornalistas (inclusive o diretor e quatro cartunistas do semanário Charlie Hebdo) e de dois policiais. A polícia francesa, depois de falhas iniciais, atuou com a conhecida presteza e energia.
Em tais atentados, a reação é de letal
eficácia. Será difícil, senão impossível, contraditar a tática empregada, em busca
abrangente, contínua e sem limites dos responsáveis. Uma característica que vai
surgindo de tais embates – que na França pela presença de segmento populacional
vivendo nos subúrbios e nos HLMs
(habitações de aluguer ‘moderado’), com baixa renda e alta densidade
demográfica islâmica – é que os suspeitos em muitos casos – como no presente –
não são presos, mas, uma vez cercados, não saem vivos da cavale (evasão, fuga).
Os dois terroristas, com treinamento
da al Qaida no Iemen, já haviam
declarado a sua intenção de se tornarem ‘mártires’, o que na religião islâmica
lhes assegura a imediata ascensão ao paraíso muçulmano, onde serão recebidos
por inúmeras huris (virgens a eles
destinadas).
A extrema direita de Marine Le Pen[1]
buscou de imediato faturar politicamente, fundada na sua posição de confronto com
o segmento islâmico na França. Política e socialmente, o rigorismo, o racismo e
a postura de confrontação do neofascismo são falsas soluções que só aproveitam
ao terrorismo, que tem no preconceito, na injustiça e na descabida perseguição
grandes aliados. Ainda mais se levarmos
em conta que no Hexágono já existe número relevante, superior a dez milhões de
maometanos, o que preconiza como solução não o apartheid disfarçado, mas política voltada para a integração, a
mútua compreensão e o abandono de maniqueísmos e perseguições raciais.
Como adiantei em blog anterior, é grande a componente muçulmana em diversos países
europeus. Essa comunidade não deveria ser descriminada, nem demonizada. A
palavra, o emprego e a tolerância são vias importantes para assegurar a paz
social.
Terroristas – e em especial no país
onde o nome foi inventado – sempre os haverá. A confrontação é um beco sem
saída. Somente a democracia, o fomento da compreensão mútua, e a abertura de
reais oportunidades de emprego, a par de condições de vida dignas, constituem respostas eficazes à demagogia da
extrema direita.
Pedro Simon julga Lula
“O Lula foi a maior decepção de toda a
minha carreira.
“ Por quê? Porque ele tinha uma
bandeira, tinha uma história, e agora está morrendo abraçado ao José Dirceu,
aos mensaleiros e aos ladrões da Petrobrás. Quando ele apareceu, todos ficamos
encantados com sua liderança no sindicato dos metalúrgicos e, em seguida, na
criação do PT. Depois de perder três eleições, chegou lá, fez um governo com
ações importantes, especialmente na área social. Ele era a grande esperança do
povo brasileiro. Mas, infelizmente, fechou os olhos para a corrupção. Deixou
acontecer mensalão, petrolão. Todos esses escândalos têm uma origem – que é
ele, por ação ou omissão. Se não tivéssemos tido tudo isso, se tivéssemos feito
um governo austero, o Brasil hoje seria diferente, muito melhor. Por tudo isso,
Lula é a grande decepção da minha vida pública.” (citação das
páginas amarelas de Veja, n° 2, datada de 14/01/2015)
O que fará Levy na Fazenda ?
Como mostra Vinicius Torres
Freire, a inflação no Brasil está subestimada, devido a controles de preços que
agora se descontrolam. São os preços administrados, que têm um custo alto. Os
subsídios ao preço da gasolina contribuíram para avariar as finanças da
Petrobrás, endividá-la de modo irresponsável e causar-lhe descrédito (que o
petrolão só tem feito aumentar).
Já no setor elétrico, subsídios diretos e
indiretos, entre outros, causaram déficits nas empresas, além de sobrecarregar
o Tesouro Nacional.
Se as reduções de impostos – que
pipocam inclusive nos anúncios da indústria automobilística agora em crise –
contribuíram para disfarçar a inflação, também esvaziam o caixa do Governo, e
causam déficits fiscais sem relançar o
crescimento.
Nesse contexto, o plano de Joaquim Levy, conforme itemizado por
Vinicius Torres Freire, na Folha de 6 de janeiro, continua demasiado presente, a fortiori depois do puxão de orelhas aplicado por Dilma
Rousseff a Nelson Barbosa, por divulgar os novos critérios para o cálculo da
atualização anual do Salário Mínimo. Como a Presidenta forçou um recuo – em questão
a que já havia dado o seu assentimento -, não só esta mudança (ora abandonada),
mas também as demais correções de
Levy ficam sujeitas a eventual esvaziamento.
Dado o caráter da Presidenta, eis o que está pela frente e
decidirá, na prática, de o que vá significar o aporte do novo Ministro: 1)
acabar com reduções de impostos ditas setoriais (as chamadas desonerações); 2) abrir à concorrência
externa a economia; 3) dar fim a subsídios (entre outros, eletricidade e
gasolina);4) aumentar impostos; 5) ajustar preços relativos, i.e., fazer com que preços e salários fiquem mais baratos em
dólar (desvalorização do real, sem aumento da inflação); 6) enxugar os bancos
públicos; 7) fim do patrimonialismo – que as empresas se virem, sem socorros ou
subsídios; 8) reformar a demência do ICMS
(ou resolver o problema de sua cumulatividade); 9) harmonizar impostos de
aplicações financeiras (ainda a ser decifrado); 10) reformas microeconômicas
(nesse contexto, a indicação de secretário de política econômica).
Este é o decálogo constante da
coluna de Vinicius Torres Freire, na Folha
de 3ª feira p.p.
Se o pessimismo está na ordem do
dia – diante do temperamento de Dilma e o enfraquecimento de Lula, semelha
difícil que a linha da austeridade fiscal de Joaquim Levy possa afirmar-se em
cenário de enormes escolhos políticos (o Petrolão e suas ramificações eventuais
no governo).
Por isso, desenhos e projetos
demasiado rígidos correm o risco de quebrar-se ou de virar mostrengos
irreconhecíveis.
( Fontes: Folha
de S. Paulo, O Globo, Veja )
[1] A extrema-direita de Charles Maurras, diretor da Ação Francesa, é
a precursora na fase de entre-guerras do Front
National . A direita sempre foi força política de relevo na França.
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