Dilma
mudou?
Talvez seja cedo para emitir opinião, mas a impressão
que se tem é de que, no essencial, a presidente pode adotar uma nova postura,
embora no estilo e na atitude política geral, a
tendência é seguir a práxis do
primeiro mandato.
Assim a farra ministerial continua,
e a sigla partidária tem precedência sobre a qualidade do encarregado. Dá-se
precedência à quantidade sobre a qualidade, como se a inanidade do presente
gabinete fosse preferível ao mérito.
A desculpa está nos votos no
Congresso. Mas o peso desse gabinete e o seu nível sobrecarregam a Nação e
pouco prometem em termos de realizações. O provável é que tenhamos mais do
mesmo, vale dizer, abuso na mediocridade e na política com p minúsculo. Dados
os precedentes, quem se aventura excluir de plano ulteriores escândalos de
corrupção?
Por outro lado, o futuro do governo
está no Ministério da Fazenda. Joaquim Levy tem o compromisso de
resgatar as loucuras nas finanças e na senda fiscal do primeiro mandato.
O Brasil sabe quem trouxe a inflação
de volta. Levy tem a missão de pôr as coisas no lugar. Não há dúvida de que a economia se arrasta e a carestia nos
ronda. Se a presidenta tiver juízo, conterá o próprio temperamento – já houve
recaída no Planejamento – e deixará a Fazenda por conta de quem entende do
riscado. Senão...
Como informa a coluna, em junho de
2003, primeiro ano de Lula, o Senador indicou o ex-senador cearense Sérgio
Machado para o comando da Transpetro. Doze anos já passaram, Lula e os
ministros mudaram, mas o afilhado de Renan, não.
Desde outubro passado, delator do
esquema Petrolão, Paulo
Roberto Costa, disse à Justiça Federal que recebeu R$ 500 mil das mãos dele.
Informada, Dilma disse que o demitiria. Renan e os chefes do PMDB reagiram com
fúria e Dilma, para variar, cedeu. Entrando em licença, até hoje Sérgio Machado
não se dignou dizer se renuncia.
Entrementes, Dilma nada faz. Espera
acaso que o ‘intocável’ se digne renunciar?
A incrível farra municipal
Se
não são os movimentos populares, que, por acaso, acampem diante da Gaiola de
Ouro (Câmara Municipal do Rio de Janeiro), ou a ação de um punhado de edis –
que se contam, em geral, nos dedos de u’a mão – o prefeito Eduardo Paes parece movido
por húbris olímpica. Não há outra explicação para o aumento em cargos na cúpula
municipal.
O
Globo coteja o primeiro escalão da Prefeitura com o ministério de Dilma
Rousseff. A Presidenta tem um gabinete inflado de 39 nomes, e Eduardo Paes nomeia
por decreto municipal 64 cargos de primeiro escalão para o Rio de Janeiro. Ter
mais de 25 postos de primeiro escalão do que o ministério de Dilma – que já é
havido por inchado – pode até que encontre justificação pelos leguleios de Sua
Senhoria, mas não tem qualquer apoio no bom senso, que deveria ser a cartilha
de todo bom político, seja federal, estadual ou municipal.
O Racionamento Anunciado
Em política, manda a sensatez que se deva evitar, na medida do
possível, imperativos categóricos negativos. Reporto-me, como é óbvio, àquele
campo de atividade que, por maior que seja o poder da excelência, não se acha
exatamente circunscrito à vontade do alto e poderoso senhor (ou senhora).
Racionamento, como o segundo governo de Dilma Rousseff tem presente
sempre mais, não é aquele espantalho que a então candidata ‘mulher do Lula’
afastara com sobranceira empáfia em debate televisivo contra o candidato José
Serra.
Eliane Cantanhêde, a ex-colunista da Folha e agora com janela mais ampla no Estadão, trata, com a propriedade habitual,
da questão energética.
Para resumir, o governo de Dilma Rousseff aboliu do dicionário da
República os termos ‘apagão’ e ‘racionamento’. Os fatos, no entanto, brigam com
isso. “Eduardo Braga botou vagamente a culpa numa tal ‘falha técnica ou humana’,
e apelou para ‘ Deus é brasileiro, vai dar um jeito de mandar frio e chuvas e
salvar a Pátria’. Por sua vez o técnico e diretor-geral do Operador Nacional do
Sistema (ONS), Hermes Chip faz a
equação calorão mais aparelhos elétricos domésticos e daí o pico de consumo que
o sistema não suportou. E por faltar, tem de ser desligado preventivamente.
Como sumariza a Cantanhêde: “houve um
apagão para evitar o risco de um apagão”.
Dormir em berço esplêndido é coisa de
hino, mas não é aconselhável como política. No primeiro mandato de Dilma, a
craque em energia, muitas obras deixaram de ser feitas em termos de conexão de
sistema, como a ligação do parque eólico que talvez seja o fio pendente mais
embaraçante. Mas há otras cositas más,
que não atendidas forçam o apelo in extremis a Cristina de Kirchner.
( Fontes:
O Globo; Folha de S.Paulo; Estado
de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário