O auditório do Banco Central, onde
na tarde de segunda-feira, 5 de janeiro, se realizou a posse de Joaquim Levy,
não deixou pelo número e importância dos presentes qualquer dúvida acerca da
relevância da posse de Joaquim Levy, como Ministro da Fazenda do segundo
governo de Dilma Rousseff.
A lotação
plena já era prenúncio das grandes ocasiões. Estavam presentes os presidentes
dos principais bancos nacionais: Roberto Setúbal, do Itaú-Unibanco; Luiz Carlos
Trabuco, do Bradesco (que fora antes contactado para aceitar a indicação);
André Esteves, do BTG; Jorge Hereda, da Caixa Econômica; e quatro
vice-presidentes do Banco do Brasil.
Por sua vez,
o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que “o discurso
foi na direção correta. Agora, é implementar.” Já o presidente da Febraban,
Murilo Portugal, ex-Secretário do Tesouro Nacional, considerou o tom de Levy “muito
positivo”, por haver ressaltado a
importância do ajuste fiscal e do cuidado no trato da coisa pública.
Levy foi
igualmente prestigiado por empresários do setor produtivo e por outros
ministros. Os presidentes da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, e da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (FIESP), Paulo Skaf, estavam presentes. Compareceram, igualmente,
Jorge Gerdau, e Luiza Trajano, do Magazine Luiza.
Entre os
colegas de Ministério, estavam Kátia Abreu, Valdir Simão, novo Chefe da Contraladoria
Geral da União (CGU), e Nelson Barbosa, do Planejamento.
Assinale-se
que uma vez finda a cerimônia, Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram ao Palácio
do Planalto para uma reunião com o Ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio
Mercadante.
Em seu
discurso, Levy frisou que a sua gestão
será marcada por política fiscal austera, com cortes de gastos, possível ajuste
e aumento de tributos – notadamente aqueles que tendam a aumentar a poupança
doméstica e reduzir desbalanceamentos setoriais da carga tributária.
Por outro
lado, foram destacadas iniciativas já em curso para viabilizar o ajuste fiscal:
o reequilíbrio já começou com a contenção do gasto público promovida
recentemente pela equipe de governo cujos trabalhos se encerraram na semana
passada. Foram aparados os subsídios nos empréstimos do BNDES a setores
empresariais.
No contexto,
Levy ressaltou que a mudança diminuirá a exposição do banco ao Tesouro
Nacional. Nesse quadro, “ também reforçará a capacidade do Tesouro de pagar
sempre de forma absolutamente tempestiva e segura os benefícios sociais.
Joaquim Levy
defendeu um realinhamento dos preços relativos e administrados na economia e o
fim da estratégia do Tesouro de conceder crédito subsidiado indistintamente na
economia. Em crítica direta à forma como a equipe de Mantega conduzira a
política fiscal, o novo Ministro acentuou: que não haja dúvida tampouco de que
o Ministério da Fazenda estará preparado para apoiar a superação de eventuais
desafios pontuais ao bom e ordenado funcionamento da economia.
Nesse
contexto, acentuou Levy “que não haja dúvida tampouco de que o Ministério da
Fazenda estará preparado para apoiar a superação de eventuais desafios pontuais ao bom e
ordenado funcionamento da economia”. Nesse contexto, Levy criticou a “ilusão de
que a garantia financeira do Tesouro pode ser um manto que suprima, adie ou contorne a
necessidade de se enfrentarem problemas, hiatos ou distorções em qualquer setor
não deverá encontrar guarida. Porque
essa ilusão apenas enfraqueceria a economia, cujos fundamentos, hoje, são
saudáveis.”
Outra
preocupação do Ministro Levy, que demarca de modo acentuado a sua posição de
propósitos anteriores, seja de seu antecessor, seja outros próceres petistas,
foi a explicitação da necessidade do resgate dos princípios da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Nesse contexto, e na contramão de que o seu antecessor
tentara fazer, declarou que é importante que qualquer desoneração feita tenha
uma compensação.
Nesse
quadro, Levy lembrou que “a Lei Complementar n° 101 prevê criteriosa análise e
medidas compensatórias para qualquer benefício fiscal ou redução de impostos,
assim como para a criação de novas despesas obrigatórias ou continuadas.
Anúncio da Nova Equipe econômica.
Para o Tesouro Nacional, irá Marcelo Saintive, que comandara a
Secretaria de Acompanhamento Econômico da Fazenda (2006/2007). O novo Secretário Executivo da Pasta, Tarcísio Godoy, chefiara o Tesouro
Nacional interinamente em 2006. E na maior surpresa, dentre os anúncios de
Levy, está a volta de Jorge Rachid à
direção da Receita Federal, órgão que chefiara entre 2003 e
2008.
O novo Secretário de Política Econômica, Afonso Arinos de Melo Franco Neto, é um
Chicago boy, de pensamento liberal, como Levy. Foi Conselheiro do CADE de 2000
a 2002, no governo FHC. Segundo o colunista econômico da Folha, Vinicius Torres Freire,
embora Levy tenha ‘passado de leve sobre o assunto’, nomeou Afonso Arinos Neto,
que é especialista em reformas microeconômicas.
Verifica-se, por conseguinte, que o núcleo principal da administração
chefiada por Joaquim Levy traz de volta a nata da equipe de Antonio Palocci, o que já é confirmação
de bons propósitos.
Criticado
igualmente por Dilma Rousseff na
recente cerimônia de posse, o patrimonialismo
foi igualmente censurado por Levy. Citando a Presidenta, o novo Ministro
afirmou que o patrimonialismo “é a pior
privatização da coisa pública”, que se desenvolve “em um ambiente onde a
burocracia se organiza mais por mecanismos de lealdade do que de especialização
ou capacidade técnica, e os limites do Estado são imprecisos”.
Igualmente criticada a política de “campeões nacionais”, que fez o BNDES
distribuir recursos com critérios pouco transparentes. Nesse quadro, tais
iniciativas são citadas ao lado das
desonerações tributárias a setores selecionados de forma pouco clara, enquanto
fatores que ajudaram a minar a confiança das empresas.
No
entender de Levy, o contrário do “patrimonialismo é a impessoalidade dos
negócios do Estado” que fixa parâmetros para o funcionamento da economia e
proporciona oportunidades iguais para todos “o que permite à iniciativa privada
clara e livre se desenvolver melhor”.
A Amargura de Mantega
Depois de suportar em silencio
a sua condição de dispensado virtual da Fazenda, e decerto magoado pela
circunstância de haver passado quase três meses ‘cumprindo aviso prévio’ no
governo Dilma 1. e irritado com as acusações de ter escondido números da nova equipe (segundo nota do Estadão),
Guido Mantega sequer cumpriu com a norma não-escrita de comparecer à posse e
transmitir o cargo ao sucessor.
Nomeado
Ministro interino para a ocasião, o encargo coube a Paulo Caffarelli, que é
falado para ocupar a presidência do Banco do Brasil.
Após a
estoica exposição como ministro exonerado, Mantega teria de aguentar as
críticas às desonerações, aos subsídios e à contenção artificial de preços, que
marcaram o seu melancólico fim. Os elogios de Paulo Caffarelli – “o Ministro da
Fazenda mais longevo da nossa história, que ficou à frente do ministério por 8
anos e 9 meses” – como sói acontecer em tais ocasiões não refletem a verdade
histórica. Talvez por julgar que a distinção entre democrático e autoritário
não seria bastante para assegurar-lhe o primado, cabe não esquecer que foi o
Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas, Artur Sousa Costa, o que deteve o primado de
mais longa permanência à testa da Fazenda Nacional, de 1934 a outubro de 1945.
O Maior Desafio do novel Ministro
Restam
poucas dúvidas de que o principal desafio a ser arrostado pelo Ministro Joaquim
Levy será o trato e a condução dos negócios da Fazenda com a Presidente Dilma
Rousseff.
Como
será o convívio da Presidenta com o
egresso da Universidade de Chicago, com a sua liberal normativa econômico-financeira,
e o funcionário cujo currículo mostra sete anos de serviço não a Labão, mas ao
Fundo Monetário Internacional.
Dilma
sabe que no atual transe não tinha outra escolha, e que os companheiros, entre
reticentes e rebeldes, devem ter juízo. E como Miriam Leitão Levy liga
equilíbrio fiscal e desenvolvimento. Nesse prisma, não haveria sem o outro.
Ainda
por cima, com a situação de nossas contas, é tempo de varrer a ficção fiscal e
os recursos a práticas do tempo da hiper-inflação. Racionalmente, Dilma não tem
saída senão a de engolir em seco a amarga receita.
No
entanto, e sobretudo nos primeiros tempos, não é só importante mas
indispensável que as medidas sejam aprovadas consensualmente, feitas as
necessárias, imprescindíveis consultas.
O
episódio de Nelson Barbosa com o novo cálculo do salário mínimo é lição a não
ser esquecida. Mesmo se o titular do
Planejamento, como indica Ricardo Noblat,
já não houvesse “antes negociado com ela” e “aprovado por ela” as medidas para
modificar os critérios do cálculo.
Em se tratando de quem se trata, personalidade
sujeita a explosões geniosas, a prudência será o ingrediente necessário para
contornar tais dificuldades. Sobretudo, nos primeiros tempos.
Mais tarde, com os ganhos de situação econômico-financeira
saneada e estabilizada, com o crescimento de volta, a situação há de mudar. E
para melhor.
Mas
com o Petrolão, a Lava-Jato e Pasadena, há muitas nuvens na costa...
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