quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

De novo, a Corrupção

                                           

        O Ministério Público, segundo estampa O Globo, afirma haver indício de que a corrupção não foi estancada. O ex-diretor da área internacional, Nestor Cerveró, em manobra ousada, tentou ocultar bens. De volta da viagem a Londres – que decerto não foi turística – ele teve a prisão preventiva decretada,  sendo levado para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde as investigações da Lava-Jato estão centralizadas. Em 16 de dezembro, tentou resgatar R$ 463 mil de fundo de previdência e repassar o dinheiro para a conta da filha, Raquel Cunat Cerveró.  Por conta disso, Cerveró passou a ser igualmente investigado por evasão de divisas e ocultação de bens.

        Cerveró teria recebido, igualmente, propinas no montante de US$ 55 milhões em contratos de aquisição de navios-sonda para a Petrobrás, assim como estaria fundamente envolvido no escândalo da refinaria de Pasadena, adquirida quando Dilma Rousseff era a Diretora do Conselho de Administração da Petrobrás, e na presidência de Sérgio Gabrielli (que sempre frisa a conjunta responsabilidade  de Dilma).

        Nesse sentido, a Justiça e a PF avaliam que Cerveró, ao ensejo do recesso do Judiciário, tentou dilapidar e ocultar seu patrimônio, criando uma ‘blindagem’ para mantê-lo a salvo de arresto de bens ou com vista a utilizá-los para eventual fuga (em agosto de 2014, já investigado, Cerveró repassou imóveis para os filhos). O valor declarado das transações foi de R$ 560 mil, mas segundo a Justiça o valor real somado dos imóveis atinge R$ 7 milhões.

        Por sua vez, Merval Pereira, em sua coluna diária, assinala que faltaria ser preso Renato Duque, que fora indicado pelo ex-Ministro José Dirceu para a Diretoria de Serviços da Petrobrás. O senhor Duque, umbilicalmente ligado ao PT, gozou de tratamento que pode ser interpretado como diferenciado ao ser o único dentre os acusados a receber habeas corpus do Ministro-relator Teori Zavascki.

      Por outro lado, Merval também assinala a peculiaridade de que dos três negociadores partidários na corrupção da Petrobrás, dois estão presos - Fernando Baiano (PMDB) e Adarico Negromonte (PP) - enquanto o representante do PT, João Vaccari, tesoureiro do partido, continua em liberdade. Causa espécie, outrossim, o tratamento ‘especial’ dado à Odebrecht. Nesse sentido, é estranhável, segundo Merval Pereira, a ausência da Odebrecht, de todas as empreiteiras a mais ligada ao ex-presidente Lula da Silva, e uma das maiores do país, na relação das que têm seus diretores presos no Paraná. Contudo, estaria sendo feita investigação especial sobre a referida Odebrecht.

       Ainda com relação aos diferentes critérios  que seriam discerníveis no que tange à Operação Lava-Jato, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, perguntou, ao inquinar de ‘arbitrária’ a prisão de seu cliente: “Por que não prender a presidente da Petrobrás, Graça Foster, que também transferiu imóveis para familiares?”

        Talvez, neste caso, George Orwell diria que há pessoas mais iguais do que  outras, e nisso se inseriria a blindagem pela Presidenta da amiga Graça Foster. A proteção presidencial valeria para preservar Graça na Petrobrás, malgrado no meio político a respectiva posição haja sido considerada  ‘insustentável’.

        Toda a investigação, no entanto, tem a sua própria força inercial, e como a história o demonstra, o poder, mesmo absoluto, pode não ser bastante para tais salvamentos in extremis.

 

( Fontes:  O Globo, Merval Pereira, George Orwell (Animal Farm)  )

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