Só um tolo poderia confiar na promessa de Vladimir Putin, como garante do
cessar-fogo de setembro de 2014, firmado em Minsk,
na Bielo-Rússia. Mas poucos poderiam imaginar que a luz verde seria dada em
pleno inverno ucraniano, que não tem a clemência como norma.
Aleksandr Zakharchenko, o quisling que se intitula líder da
chamada República Popular de Donetsk, na Ucrânia oriental, declarou
que o seu ‘exército’ atacará. “De nosso lado, não faremos esforço de falar
sobre o cessar-fogo. Agora vamos observar como Kiev reage. Kiev não entende que nós podemos atacar em três
direções ao mesmo tempo.”
Atrás da empáfia de Zakharchenko, está a ordem do presidente
Putin de retomar a guerra no leste. Terá sentido que a população russa, a
despeito da crise, da desvalorização do rublo e das sanções, não desdenhe a
guerra? Sua popularidade não cresceu
quando os soldadinhos verdes, sem marcas na farda, se apossaram, ilegalmente e
em clima de festa, da Crimeia, que fora incorporada na Ucrânia pelo
Secretário-Geral do PCUS, Nikita Kruchev, em 1954?
Assim, no entender do ex-dirigente do KGB,
a medicação adequada é mais guerra.
Com a permeabilidade da longa
fronteira ucraniana no leste, um número imprecisado de ‘voluntários’ russos
penetrou adentro dos campos nevados da região em torno de Donetsk. Já se tornou
axioma nessa guerra não-declarada que toda vez que as forças rebeldes se acham
em dificuldade diante do exército regular da Ucrânia, gospodin Vladimir Putin cuida de reforçá-las com homens
(pudicamente não portam insígnias da Federação Russa), e equipamento pesado de
artilharia.
O Ocidente a tudo assiste e, por ora, muito
pouco faz. O conflito com a Rússia nuclear não deve decerto pôr a Humanidade em
perigo, mas há limites para a inação diante desse imperialismo com cinismo
hitlerista.
Com o tesouro enfraquecido pela
vertiginosa queda na cotação internacional do barril de petróleo, e o próprio
rublo colocado sob cuidados de emergência,
o senhor do Kremlin pensa transformar fraqueza em
força, atacando a vizinha Ucrânia, como se recursos tivera para mais uma
expedição de conquista.
O Ocidente e os Estados Unidos, em
particular, na qualidade de seu líder, têm duas opções pela frente: ou adotam a
postura da Presidente Dilma Rousseff, que declarou não ser a Ucrânia
problema para o Brasil, ou apoiam o Presidente Petro Poroshenko, e
tratam de não tornar a vida demasiado fácil para o Presidente Putin.
Como sugestões de ação, cuidar da porosidade extrema das fronteiras
orientais, estruturar melhor as forças do exército ucraniano e manter contato
com os finlandeses, que tanto conhecimento já demonstraram nos combates
invernais. Além disso, o Presidente Barack Obama poderá
pensar em mais medidas contra esse poder que apoda de regional, sobretudo as sanções pontuais, com potencialidade
acrescida de incômodo para o erário russo, que não atravessa a sua melhor fase.
O imperialismo agressivo, aquele que
arranca pela força terras dos próprios vizinhos, não é infelizmente por ora o
que deveria ser, criatura anacrônica, um pária nas relações internacionais.
Pois se deve sê-lo, não será por olhar
para o outro lado, como é tendência ocidental, nem tampouco, na contramão da
respectiva tradição diplomática, como vem sendo a deplorável atitude do governo
de Dilma Rousseff – que tem envergonhado pelo seu míope oportunismo, além de
sólida ignorância diplomática, a tricentenária tradição da diplomacia
brasileira, com o precursor Alexandre de
Gusmão no Tratado de Madrid (1750), e o patrono Barão do Rio Branco, com o respeito aos tratados e a diplomacia de
Estado, encimada pelas vitórias
arbitrais que consolidaram as nossas fronteiras. Por não balançar no mar da
política partidária e das alianças de ocasião, a diplomacia do Itamaraty marcou
presença e colheu respeito através dos séculos.
O axioma latino já nos ensina que a Paz
não é objetivo inatingível mas deve ser preparada por disposição que confronte
quem se demonstre inimigo do Direito das gentes.
( Fonte: The New York Times )
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