Mau Começo
Pelo telefone – e não foi samba - ela ordenou que Barbosa publicasse nota
retratando-se da intenção de mexer no cálculo do salário mínimo.
Nesse contexto,
onde fica a avaliação da nova equipe econômica de que não há mais condições de
manter a regra atual, considerando-se a necessidade de uma política fiscal mais
austera?
Se continuar nessa base, tendo-se
presente que a equipe econômica é constituída por gente séria, e não por moços
de recado, não tardará muito e Dilma não há de enxergar, das alturas de sua
torre de comando, mais ninguém das novas aquisições que hão de pensar ter coisa
melhor a fazer do que engolir contraordens desse gênero.
O Papa Francisco e a Cúria
De longe, talvez seja difícil,
quase imprudente, entender a real
situação das relações entre o atual Santo Padre e a Cúria romana.
Diga-se de
saída que a visão da Cúria pela urbe
romana, notadamente o povão, tivera o próprio ceticismo alimentado pelo que
terá visto através dos séculos- e assinale-se que até 1870, quando a guarnição
colocada por Napoleão III para manter o que restava do Estado pontifício teve
de bater retirada, pela eclosão da desastrosa guerra contra a Prússia, o então
Papa, Pio IX ainda era igualmente soberano temporal.
O interlúdio
no Papado não terá sido o primeiro, nos seus embates com o poder temporal. Com
os acordos de Latrão, costurados com o fascismo em 1929, foram desenhados os
limites do estado pontifício, que permanecem até hoje, com a maior parte do
pequeno território localizado nas colinas vaticanas (há outros espaços das
Santa Sé, como as basílicas de São João
de Latrão e São Paulo fuori mura
(além dos muros), que igualmente gozam de exterritorialidade.
No entanto,
desde a sua instituição na Idade Média, os Sumo pontífices foram igualmente Soberanos temporais – o
Papa–Rei – com que teve de lidar, através dos séculos, a plebe (e a nobreza)
romana. A cercania e o trato diuturno contribuíram para que a mais antiga
instituição político-temporal fosse vista pela gente miúda muita vez com olhar
crítico e até um pouco cínico.
Há ditos
romanos que contém esse veio originário da proximidade com um poder a um tempo
religioso e temporal. Dentre esses, cito apenas dois (traduzidos do dialeto
romano): O Papa goza de ótima saúde até o dia em que morre. E, com
relação às placas das viaturas da Cúria (que têm as iniciais SCV
– por Estado da Cidade do Vaticano: Se
Cristo visse...)
Esse cinismo
light é característica sobretudo do Borgo, o bairro popular próximo à Praça
de São Pedro, que fora descaracterizado pelo urbanismo do Duce, para a construção da Via
della Conciliazione (Rua da Conciliação), que liga, com fasto fascista e no estilo do Barão Haussmann[1], a
margem do Tibre ( e o Castelo de Sant’Angelo) com a Praça de São Pedro.
A recente
descrição feita por Papa Francisco traz consigo a franqueza do novo Pontífice e
o seu gosto por modéstia e sensibilidade, que para gáudio dos fiéis marca o
respectivo pontificado. Diante de um tal organismo – que se acredita perene e,
sobretudo, acima das injunções temporais da série de Pontífices – como diria o
nosso Poeta, será luta renhida o
respectivo enfrentamento. Diante de outros Santos Padres, a Cúria (ou uma parte
substancial dela) se curva, e presta voto de fidelidade, de cuja valia provou o
antecessor imediato, a ponto de renunciar à Sé de Pedro, como o fizera, no breu
do Medievo, S. Celestino V.
Para falar
de Pontífices contemporâneos, corre o
rumor de que a agonia do Papa Bom (João XXIII, hoje santificado) foi saudada
por brindes não-tão discretos de integrantes dessa mesma Cúria. Sem esquecer, o
Papa do sorriso, João Paulo I, cujo breve reinado, fora cortado de modo tão
abrupto a ponto de recenderem suspicácias.
Tenho para
mim que o Papa Francisco, habituado a lidar na terra natal com o braço por
vezes pesado dos diversos poderes temporais por que passou o seu caminho
pastoral, saberá como proceder no caso em tela. O que surpreende, contudo, na
sua descrição da Cúria é o seu caráter generalizante. Pergunto-me se a tomada
verbal de posição faz parte de ofensiva mais ampla, com o afastamento de
personagens-chave. A reforma da Cúria – como a de todo organismo – é factível,
mas se o Cardeal Tarcisio Bertone pode ser erigido em modelo, será sempre
preferível omitir as repreensões e logo passar,
como no caso do Cardeal Burke, aos finalmente.
Na verdade,
por causa da distância, os fiéis – que torcem por Papa Francisco – esperam que
não seja apenas um rompante, mas a sinalização de ofensiva que procederá não a
expurgos, mas a modificações pontuais, para tentar dar à Curia cores mais
consentâneas com a visão do atual pontificado, mais próxima do rebanho de
fiéis, e mais longe das posturas fascistóides de muitos dos altos funcionários
que o Santo Padre deseja corrigir, se possível por palavras e boas maneiras.
E é aí que
mora o perigo.
Regulação da Mídia
O Ministro
Ricardo Berzoini, tão logo empossado nas Comunicações, apressou-se em declarar
que o ‘governo’ vai apresentar proposta de regulamentação econômica da mídia,
no segundo mandato da Presidenta.
As
ilusões, como as miragens no deserto, desaparecem, se não com a resistência de
alguns projetos – e não se deve esquecer que essa tal de ‘regulamentação da
mídia vem desde o governo Lula da Silva’, sob o insistente ferrete do então
ministro Franklin Martins – mas a democracia brasileira há de mostrar que não
estamos nem no Equador do señor Rafael Correa, nem na Venezuela de Nicolás
Maduro.
Berzoini
afirmou, outrossim, que o ministério vai ‘abrir um debate’, para ouvir
sugestões sobre o tema, que serão encaminhadas ao Congresso. Para não assustar, apressou-se em ponderar
que “quem regulamenta é o Congresso Nacional. O Poder Executivo pode, no
máximo, apresentar suas propostas.”
Posto
que o objetivo ostensivo dos defensores
da idéia é regulamentar artigos da Constituição que tratam da comunicação
social, há a intenção não tão oculta de controlar a imprensa e tolher a
liberdade de expressão.
A
regulamentação da mídia é uma antiga bandeira da corrente do senhor Franklin
Martins. No seu primeiro mandato, Dilma se recusou a discutir qualquer
iniciativa que implicasse em controle de conteúdo – como, e de forma
acintosamente inconstitucional, fora tentado no governo de Lula da Silva.
É comovente
a disposição de Berzoini na defesa de maior diversidade na produção de
conteúdo, que ofereça alternativas ao que é oferecido pelas empresas de
comunicação.
E dentro
dessa linha que diz querer uma coisa (que o cidadão comum possa se organizar
para ter a sua comunicação), Sua Excelência Berzoini nos lembra que emissoras
de rádio e tevê são “objetos de concessão pública”, e por isso precisam ser regulamentadas.
As
patranhas de Sua Excelência Berzoini (e por trás dele Franklin Martins) não
passarão. Ao ouvir e ler as declarações desses senhores, dá vontade de
recomendar-lhe que se desejam um vetor público para as respectivas ideias,
cuidem mais da Rede Cultura. Basta sintonizá-la para que o telespectador se dê
conta do sucateamento a que estão submetidas, pela falta de dotações
respectivas.
O Brasil é
uma democracia não-adjetivada, ao contrário de inúmeras outras com quem
mantemos boas relações, porém cuidamos de não imitá-las.
Depois da estrondosa vitória de Dilma Rousseff –
que de tão estrondosa teve de esperar pelos finalmente para que o TSE informasse o Povo brasileiro de que a
candidata do PT vencera com a margem de 52%
- não me venham, por favor, falar de mandato popular para isto ou para
aquilo.
Por falar
em preocupações do Povo brasileiro, a Petrobrás e o nefando Petrolão continua
clamando por ter a ‘roubalheira’ esclarecida. Por outro lado, o ex-presidente
da Petrobrás, Gabrielli pede que Dilma seja ouvida, na sua qualidade de
Diretora do Conselho de Administração da Petrobrás, no que tange à questão da
refinaria de Pasadena
[1] O Barão Haussmann
(1809-1891), no reinado de Napoleão III, dá à Cidade-Luz a sua fisionomia
contemporânea, modificando a Paris do século XVIII, que se caracterizara pelas
vias e ruelas (que tanto favoreciam as revoluções de barricadas), com a
construção de grandes avenidas, como o Champs Elysées, e muitas outras, que
partem do Arco do Triunfo.
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