Segundo se anuncia,
nunca houve tanta gente nas ruas e praças da França para manifestar o
próprio repúdio aos bárbaros assassínios dos jornalistas e cartunistas do
Charlie Hebdo.
Apesar continuar a ser o presidente
da IV com o mais baixo índice de popularidade, a posição de François Hollande
melhorou um tanto, pela maneira com que lidou com a situação, e como
desmantelou o grupelho terrorista.
Segundo a imprensa, cerca de
sessenta chefes de estado e de governo acorreram a Paris. Na primeira linha da
manifestação, encabeçando a grande passeata, Hollande dava os braços a Ibrahim
Keita(Mali) e Angela Merkel (Alemanha). Ainda na primeira fila, Benjamin
Netanyahu (Israel), Tusk (União Europeia) e o palestino Mahmoud Abbas.
O ato
de desagravo visa tanto aos ataques às vítimas do Charlie Hebdo e a da mercearia kosher
(comida judaica), com a morte de doze pessoas, no primeiro, sendo jornalistas,
inclusive o diretor e o principal cartunista do semanário, e de cinco no
segundo.
Pela foto estampada da Praça da
República, local central de Paris, o número de pessoas se afigura, realmente,
incalculável, dado o gigantesco tamanho do logradouro. Somente alguns milhões de homens e
mulheres seriam capazes de dar a esse instantâneo a sua densidade, eis que em
nenhuma parte há claros.
Assim, pelos cálculos entre Paris
e a província, o público oscila entre
3,7 milhões (Folha) e 4,5 milhões (O Globo). Já o New York Times dá um total de um milhão, concentrando-se
aparentemente na capital francesa.
Como estão no campo da emoção e das
paixões, tais manifestações são importantes para assinalar o grau da repulsa
popular, embora, por constituírem fenômenos do momento, o seu significado
deverá estar nas resoluções de gabinete e nas medidas políticas que vierem a
motivar. Em reunião de onze ministros do interior e o attorney-general
(procurador geral) dos EUA começaram a ser costuradas medidas para coordenar a
luta antiterror.
A extrema direita deseja
instrumentalizar a tragédia, e dela valer-se para aumentar o quociente de votos
de protesto coletados pelo Front National.
Demagogicamente, busca demonizar o adversário.
A solução, no entanto, estaria,
segundo se indica, em maiores controles nas fronteiras. O perigo de tais
estratégias está em privilegiar o aspecto coercitivo e penal, sem cuidar do
contexto social.
O que se deve evitar é a síndrome
do proletariado interno ou externo[1], a
que se negue a integração e a consequente possibilidade de desfrutar das
melhores condições de vida da metrópole. Para tanto, a defesa para os
países europeus com minorias étnicas de peso é a via da integração, através de
melhores condições de vida e de trabalho. Pela negação e a alienação
sistemática, o problema social vira um cadinho no fabrico de núcleos de
proletariado que vê na metrópole mais a inimiga a ser abatida, do que o Estado
a ser desenvolvido no interesse geral. Enquanto vistos como racaille (ralé), eles serão pasto fácil
tanto para o terrorismo (que projeta a satisfação de seu membro para o paraíso
das huris), quanto para a alienação social do banditismo, que não passa de outra metástase
de sua rejeição pelas nações respectivas.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo, The New York Times )
[1] No sentido dado pelo historiador A.J.Toynbee, no ‘Estudo da História’,
em que o aspecto econômico é menos importante do que o social e político da
comunidade em apreço.
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