O Papa Francisco, em boa hora eleito
para suceder ao pontífice emérito, Bento XVI, mais uma vez vem a público para
trazer-nos não só o próprio bom senso, mas também a respectiva coragem.
Não é que o Pontífice não teme pôr a
mão em vespeiro, e dar a sua opinião sobranceira, em área convulsionada, em que
muitos preferem manter silêncio?
O que disse o Santo Padre? A bordo
do avião pontifício, a exemplo da entrevista à imprensa que concedera ao
retornar da visita ao Brasil, frisou: “Matar em nome de Deus é uma aberração,
mas a liberdade de expressão não dá o direito de insultar a fé do próximo.
Acredito que tanto a liberdade religiosa quanto a de expressão são direitos
humanos fundamentais. Todos têm não apenas o direito, mas a obrigação de
dizerem o que pensam pelo bem comum. Mas podemos fazer isto sem ofender.”
E para contextualizar a situação, não
hesitou em dar um jocoso exemplo próprio: “Se
meu bom amigo, o doutor Gasparian (assessor pontifício para as viagens) xingar
minha mãe, pode esperar que levará um soco. É normal. Você não pode provocar,
insultar, debochar da fé dos outros.”
Sua Santidade não trepidou,
inclusive, em tocar em tema pessoal e delicado.
“Estou nas mãos de Deus. Vocês sabem que tenho o defeito de ser
imprudente (sic). Às vezes, me
pergunto se isso (atentado) vai acontecer.”
Assim, enquanto o Sumo Pontífice
criticava de certa forma o “Charlie Hebdo”,
o Presidente François Hollande, em longo discurso, durante visita ao Instituto
do Mundo Árabe, em Paris, deu mostra evidente no sentido de apaziguar os
ânimos. Para o Presidente, não se pode
confundir terrorismo e Islã, e os atos antimuçulmanos devem ser punidos.
“Os muçulmanos são as primeiras
vítimas do fanatismo e fundamentalismo. O Islã é compatível com a democracia.
Os franceses de fé muçulmana devem ser protegidos, respeitados, do mesmo modo
que eles devem respeitar a República.”
Papa Francisco trouxe de volta para a
Igreja o espírito joanino, de que carecia a Igreja desde muito, e notadamente
com a partida do Papa Bom, João XXIII, na sua morte dita
pontifical, a três de junho de 1963. Nunca o falecimento de um Santo Padre,
hoje canonizado, despertara tanto genuíno pesar, não só na comunidade católica,
mas também nos ditos irmãos separados, e além disso no mundo político, de que
não se excluíu a liderança do então mundo comunista, na pessoa de Nikita Kruchev.
Papa Francisco, pela sua
espontaneidade, simplicidade e coragem, trouxe de volta esse espírito de
congraçamento e união, que falta nos fazia.
Nesse sentido, os fiéis – e os seus
admiradores, que certamente incluem outros credos – devem instar Sua Santidade
que no interesse menos dele do que da ampla comunidade a que preside – tenha
presente que em tudo o excesso pode ser perigoso e até pernicioso. Não deveria, por conseguinte, exagerar da
imprudência, na medida em que tal postura venha a ser contraproducente para a
boa realização da respectiva pregação e
obras para o mundo ecumênico.
( Fonte: O Globo )
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